A necessidade de ser compreendido

sábado, 31 de julho de 2010

Talvez esta seja uma das maiores necessidades humanas. Ser compreendido. Com isto temos a sensação de existir para o outro. Existir na mente e no coração de outra pessoa. Fomos criados para a convivência com outras pessoas. Isolamento social é uma doença ou consequência de uma doença. A pessoa deprimida, por exemplo, se isola dos outros. Pessoas com timidez excessiva também.

Quando nos sentimos compreendidos, isto nos dá a sensação de pertencer, de que a vida vale a pena, de que há sentido viver, há prazer. E uma das dores mais desagradáveis que podemos experimentar no dia a dia de nossa vida tem a ver justamente com o resultado da sensação de falta de compreensão, especialmente se isto ocorre entre pessoas amadas, ou de relacionamento afetivo próximo, como membros de uma família, colegas de trabalho.

Precisamos ser compreendidos. Você precisa de uma pessoa pelo menos na vida que o compreenda. Compreender o quê? O que você sente, o que produz medo em sua mente, suas ansiedades e preocupações, suas necessidades afetivas, seu jeito de ser, seus projetos, mas especialmente o que vai no seu coração, ou seja, na sua vida afetiva.

Claro, primeiro de tudo, para sermos compreendidos precisamos nos compreender. Saber o que sentimos, do que temos medo, o que desejamos, o que não mais queremos em nossa vida ou em nossas relações com as pessoas. Porque é a partir desta autocompreensão que você poderá chegar para alguém e poder se abrir e deixar sair o que vai no seu coração ou mente. E então haver a possibilidade de ser compreendido.

Seligman (1998) disse: “Compreensão não é a respeito da experiência. É ela mesma uma experiência, e essa experiência envolve a presença crucial de uma outra pessoa com a qual o indivíduo se sinta seguro, em parte por virtude de se sentir compreendido por essa pessoa.” (citado em “The Transforming Power of Affect”, Diana Fosha, Ph.D., p.11). Quando vivemos a experiência de ser compreendidos, isto produz alívio, serenidade, esperança, desabafo.

Quando a mãe ou o pai de uma criança realmente a compreende, porque é sensível às suas experiências de afeto (da criança), o filho ou filha experimentam o senso de que ela também existe no coração dos pais, que eles a conhecem de fato, que a criança é uma existência viva na mente deles, e que eles se importam com ela. Mas quando uma criança, por outro lado, não se sente compreendida nas suas necessidades afetivas mais básicas, ela cresce com uma sensação de não ser importante para uma outra pessoa, e quem sabe para si mesma. Isto pode gerar baixo senso de valor pessoal, busca compulsiva de um outro que preencha todas as suas necessidades de afeto, além de outros transtornos.

Não será esta busca de ser compreendido o que estamos focando ao fazer o que fazemos no dia a dia, seja o que for que fazemos na vida? Não estamos em busca do amor? Ser compreendido é um passo e demonstração muito importante para o amor brotar nas relações humanas. Você compreende sua criança interior? Compreende mesmo sua criança exterior (filhos)? Compreende a criança no interior do adulto que tem parte importante na sua vida?

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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