Dança do acasalamento

sábado, 31 de julho de 2010

Desde os primórdios as samambaias sentiam na pele, ou melhor, na folhas a dificuldade de competir usando apenas o verde que possuíam. Na busca por possuir motivos que lhes assegurassem serem escolhidas algumas pteridófitas evoluíram e originaram as primeiras plantas com flor, deste modo o mercado descobriu na prática a importância da diferenciação.

Muitas abelhas depois, conceitualmente, cada um de nós, permanecemos, a procura de nossa flor ideal, com cores, aromas e formatos que permitam garantir a permanência no mercado e mais, uma posição privilegiada sem que esta sofra muitos riscos de extinção.

Deste modo os ritos de acasalamento prosperaram e tornaram-se cada vez mais complexos, de forma a seduzir mais os potenciais interessados e também recompensá-lo(s) mais profundamente.

Entretanto, neste jogo de aproximação e arrebatamento, os defeitos são sempre escondidos pela propaganda, e quase sempre não tratados pelo marketing, como se fosse algo possível de anular ou suprimir no trato que se desenvolve entre uma marca, produto ou prestador de serviço, no médio ou longo prazo. Esse erro costuma a custar caro e explica quase sempre o grande giro de players no mercado.

No jogo de mercado, relações de curto prazo podem não ser rentáveis o bastante, e negligenciar os defeitos termina quase sempre como um tiro no pé, ou em áreas mais vitais ao acasalamento.

Certa vez ouvi a seguinte frase: “você se casa com os defeitos”. E faz muito sentido, afinal ninguém nunca se separou ou se aborreceu com as qualidades! Deste modo no rito de mercado, é importante demais, gerenciar os defeitos, afinal são eles que extinguem as relações, aquelas que deram tanto trabalho para se firmar.

O vaga-lume pisca seu abdômen tanto para que a luz atraia a fêmea como para que a escuridão esconda seus defeitos. Precisamos ser mais competentes que o vaga-lume.

A garota de Ipanema, que ia com seu doce balanço a caminho do mar, foi imortalizada pelo mesmo ‘consumidor’ que disse que beleza é fundamental, ou seja, não há balanço que compense quebras de condições básicas.

Seja seu negócio pequeno, médio ou grande, é preciso inventar sua flor, seu pisca-pisca ou seu balançar e que sejam mais que poema, porque diferenciais competitivos são importantes, mas só se atrelados a políticas de gerenciamento de danos que permitam assegurar a perpetuação da espécie; danças de acasalamento complexas com genes defeituosos, terminam por colocar tudo a perder.

“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

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