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Você não é o que você pensa que é - 16 de dezembro.
Não nos conhecemos bem. Autoconhecimento é um processo. Na verdade dura a vida toda. Ele faz parte, entre outras coisas, da qualidade de vida de um indivíduo. Podemos conhecer a nós mesmos com o passar do tempo, junto com a experiência e reflexão. Não é só o tempo cronológico, uma hora após outra, um dia após outro, que nos faz adquirir auto-conhecimento. É preciso também a experiência de vida associada à reflexão.
O habitual em nossa cultura ocidental favorece o não refletir, mas sim o repetir padrões de comportamentos, muitas vezes não saudáveis, na verdade. De repente as pessoas começam a usar palavras ou frases de um personagem de novela (além de roupas, óculos, sapatos, etc.) sem refletir. Comentando recentemente para uma pessoa que outra pessoa nossa conhecida não ficava bem com um tipo de roupa (pelo menos segundo o meu gosto!), ela concordou comigo e disse: “Ela usa porque está na moda!”
Quem é o você que você pensa que é? É alguém genuíno ou uma cópia de modelos, às vezes não (muito) saudáveis?
A experiência, portanto, pode nos ensinar a nos tornarmos o que devemos ser para haver maior harmonia emocional e até espiritual. Mas a experiência de vida sozinha não basta. Tem gente que não usa a experiência pessoal para conhecer-se porque falta o outro ingrediente: a reflexão.
Reflexão significa sair da cadeira da plateia, deixar de ser um expectador passivo, e subir no palco da sua própria vida. Significa sair do automático, parar de repetir frases e comportamentos impensados, ou diminui-los bastante. Tem que ver com, vez ou outra, talvez diariamente, pensar por alguns instantes no que você pensa. Pensar no que você pensa.
Isso é importante, porque no que você mais pensa, nisso você se torna. Você não é o que você pensa que é, mas o que você mais pensa, isso você é. Vou dar um exemplo disso no caso de uma pessoa com depressão.
Modernos tratamentos psicológicos para depressão lançam mão do que se chama em psicoterapia (cognitivo-comportamental) de “verificação das crenças centrais e dos pensamentos automáticos”. O que é isso? É justamente o processo de ajudar o deprimido a parar uns momentos do seu dia a dia para pensar nos tipos de crenças emocionais e de pensamentos que ele mais frequentemente nutre em sua mente. Ao fazer esta reflexão, o deprimido pode começar a tomar consciência do fato de que talvez a maioria de suas crenças e pensamentos tem sido bem negativos, pessimistas, de desesperança, autoacusadores, de autopiedade, culpa (às vezes falsa), e, assim, percebendo isso, tem a possibilidade de escolher novos, melhores e saudáveis crenças e pensamentos.
Exemplos de crenças centrais e pensamentos automáticos são: “Homem é tudo igual”, “Mulher não sabe o que quer”, “Não faço nada certo”, “Ninguém me ama”. Quando uma pessoa repete isto constantemente para si mesma ao longo dos anos de sua vida, ela molda sua mente a funcionar de acordo com tais crenças e pensamentos. Agora, se ela se negar a alimentar sua mente assim e, em lugar disso, lutar para treinar crenças e pensamentos otimistas, esperançosos, de gratidão, perdão, pureza, bondade, o que ocorrerá? Seu cérebro irá criar novos circuitos neuroquímicos e a pessoa melhorará com o tempo.
Saúde mental, portanto, tem muito que ver com a qualidade dos pensamentos que você nutre aí em sua mente. E se você ainda tem preservada a capacidade de pensar, ou raciocinar, você tem a liberdade de escolher os assuntos que ocuparão o espaço em sua mente. O remédio, o médico, o psicólogo, não irão fazer isso por você. Você não é (necessariamente) o que você pensa que é. Mas o que você mais pensa, nisso você se torna e isso você é agora.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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