Você escolhe a injustiça ou a justiça?

quinta-feira, 28 de março de 2019

“Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, então a injustiça é minha.” (Gandhi)

Vivemos num mundo de injustiças do lado de fora de nós, ao nosso redor, mas também dentro de nós, em nosso caráter. Exemplos? Atitudes egoístas, presunçosas, orgulhosas, maldosas, manipuladoras, omissas e tantas outras. Injustiça fora e injustiça dentro.

Não é sem razão que autores, filósofos e psicólogos escrevem sobre a luta com o próprio eu. Uma descrição clara sobre isto encontramos na carta de Paulo aos Romanos, na Bíblia, no capítulo 7 onde ele termina a descrição da angústia produzida por esta luta interior com a declaração: “Quem me livrará do corpo desta morte?”. Interessante, ele chama a injustiça interna, a contaminação do caráter que todos possuímos, de morte.

Quer um “tira-gosto” sobre injustiça no mundo onde vivemos? O maior índice de pobreza no Brasil está na Região Nordeste, atingindo 43,5% da população. Cerca de 25,4% da população em nosso país, o que dá em torno de 50 milhões de pessoas, vivem na linha de pobreza. Estes têm uma renda familiar mensal de R$ 387. No mundo 50% dos pobres têm até 18 anos, cerca de 42 em cada 100 crianças e jovens são pobres.

O Brasil é um país com uma desigualdade social gritante em todos os níveis. Mulheres

ganham, em geral, menos que os homens mesmo exercendo as mesmas funções. Trabalhadores pretos ou pardos estão no maior número de desempregados, têm menor escolaridade, ganham menos, moram mal e começam a trabalhar bem mais cedo exatamente por ter menor nível de escolaridade.

Um estudo do IBGE em 2017 mostrou que 39,6% dos trabalhadores entraram no mercado de trabalho aos 14 anos de idade. Quanto menos escolaridade, mais jovens começam a trabalhar mais cedo. Os que ganham mais (20% da população) recebem R$ 4.500, e o rendimento médio dos que ganham menos é 18 vezes menor, com média de R$ 243. (Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-12/ibge-brasil-tem-14-de-sua-populacao-vivendo-na-linha-de-pobreza).

A Oxfam Brasil é parte de uma confederação global com objetivo de combater a pobreza, as desigualdades e injustiças no mundo, atuando em 93 países. Segundo seus estudos, os 5% mais ricos do Brasil detêm a mesma fatia de renda que outros 95%. Eles concentram, juntos, a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres do país, ou seja, a metade da população brasileira (207,7 milhões). Se os seis mais ricos do Brasil gastassem R$ 1 milhão por dia, juntos, levariam 36 anos para terminar com sua riqueza. Os super ricos (0,1% da população no Brasil), ganham por mês o que um trabalhador que recebe um salário mínimo mensal ganharia trabalhando 19 anos seguidos.

Em 2017 o Brasil despencou 19 posições no ranking de desigualdade social da ONU, ficando entre os dez mais desiguais do mundo. Na América Latina nosso país só fica atrás de Honduras e Colômbia. Estudos da Oxfam recomendam que se faça uma reforma tributária porque nossa tributação está centralizada nos mais pobres e na classe média. Ainda que a desigualdade social no Brasil seja uma vergonha, uma injustiça imensa, isto não precisa continuar assim.

A solução não é somente relacionada com políticas públicas visando a justiça social. O desafio é quem fará isto, quem é idôneo para isto. Quem não se deixará levar por conflitos de interesses de modo que fará só o bem para a população? Como injustiça dentro (de nós) não conseguimos fazer justiça fora (no social) de nós. Por isso creio que sem mudança de caráter não é possível melhorar a comunidade, o município, o estado, o país. Mudança de caráter, como assim? Escolher individualmente ser honesto, fazer o bem sem obsessão por retorno financeiro, se interessar de coração por fazer aquilo que produzirá alívio do sofrimento das pessoas. Quais? Pretos, brancos, pardos, índios, ricos, pobres, homens, mulheres, crianças, idosos, adolescentes, todos.

Hoje, agora mesmo ao você ler este texto, pode decidir, pode escolher fazer algo que ajudará sua comunidade, sua família, sua administração pública através do seu cargo. A injustiça social começa dentro de você. E a justiça também. Você escolhe.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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