Vinho, seu coração e câncer - 26 de maio 2011

domingo, 31 de julho de 2011

“O álcool em qualquer forma é uma droga perigosa” (Hazelden Foundation)

Médicos defendem o uso de vinho, dizendo ser bom para a saúde. É mesmo? Quando pesquisadores na Kaiser Permanente em Oakland, Califórnia, estudaram os hábitos de beber de 70 mil mulheres de múltiplas etnias, entre 1978 e 1985, eles encontraram que no ano 2004, cerca de 3 mil destas mulheres haviam contraído câncer do seio. Quando eles compararam o papel da ingestão total do álcool entre aquelas mulheres com câncer do seio, eles verificaram que um link entre beber e câncer do seio continha verdade independente se as mulheres ingeriram cerveja, vinho ou destilados. Mesmo quando o vinho era dividido em tinto e branco, não houve diferença.

Pesquisadores agruparam bebedores em três categorias: bebedores leves (menos do que um drinque por dia), bebedores moderados (um ou dois drinques por dia) e bebedores pesados (três ou mais drinques por dia). Comparados com os bebedores leves, a incidência de câncer do seio pulou para 10% para os bebedores moderados e para 30% para os bebedores pesados. Muitos bebedores têm o equívoco de que quando se trata de ingerir bebidas alcoólicas, o vinho (especialmente o vinho tinto) é bom para você, cerveja não é tão ruim quanto os “destilados pesados” e a cerveja light dificilmente conta como uma bebida alcoólica.

Parte dessa confusão vem de estudos que concluem que o beber leve ou moderado pode proteger contra doenças cardíacas. Porém, de acordo com o Dr. Yan Li, um oncologista (especialista em câncer) envolvido no estudo Kaiser: “Nenhum destes mecanismos são conhecidos como tendo qualquer coisa que ver com [proteção do] câncer do seio”. Vinho, cerveja e destilados todos contêm álcool etílico e a quantidade de álcool numa porção padrão de 150ml de vinho, 355ml de cerveja regular ou um vinho “cooler”, e 45ml de 80 destilados testados, é a mesma. O álcool etílico — a substância que intoxica — é a substância que aumenta o risco de câncer do seio nos bebedores moderados e pesados. “Não importa como você o absorve, álcool é álcool, e exige a mesma quantidade de tempo para processá-lo, independente da fonte”, explica Chris Lind, RN, diretor dos Serviços de Saúde Nacional da Fundação Hazelden, nos Estados Unidos.

Uma vez que o álcool é consumido, ele é absorvido no sistema sanguíneo da pessoa e pode ser medido para se verificar sua concentração no sangue. A taxa de absorção varia de acordo com a altura, o peso da pessoa e o alimento ingerido antes de beber. Geralmente, quanto mais rápido alguém bebe, mais enebriado ficará, não importando que tipo de álcool foi consumido. Lind acrescenta: “Se você bebe bastante de qualquer coisa [com álcool] — mesmo uma cerveja light — você pode ficar bêbado.”

“Os supostos benefícios do consumo de álcool no reduzir doença cardíaca não são razões suficientes para as pessoas com alcoolismo, ou pessoas com risco aumentado para o alcoolismo”, diz Lind. Álcool, seja vinho, destilados, cerveja forte ou light, disparará a recaída para quem é alcoólico. Para alguém com alcoolismo, que é uma doença clínica, um cálice de vinho por dia ou um copo de cerveja light é um primeiro passo na direção errada. Tem gente que fica viciada em cerveja light (3.2 beer).

Nestes dias de muita propaganda e glamour, especialmente das companhias de cerveja, enquanto os “coolers” de vinho são feitos para terem sabor semelhante aos refrigerantes, e a cerveja “light” é promovida como segura, de baixa caloria e refrescante, é mais importante que nunca para os consumidores tomarem consciência da verdade. Beber vinho ao invés de cerveja ou destilados não reduz os riscos de ficar alcoolizado ou de não ter outras consequências sobre a saúde. Pesquisadores indicam que o álcool pode contribuir para o risco de vários cânceres, incluindo o câncer do sistema respiratório, digestório alto, fígado, cólon e reto. E foi constatado haver uma relação dose-dependente entre bebedores pesados e o maior risco de câncer.

Artigo da Hazelden Foundation, especializada em pesquisa, educação profissional e tratamento do alcoolismo e dependência de outras drogas. http://www.hazelden.org/web/public/ade071112.page consulta em 24 Maio 2011.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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