Viagra produz amor?

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Será que a liberação sexual promoveu o alívio de problemas sexuais nas pessoas em nossa sociedade? Parece que não. Depois da chamada liberação sexual na sociedade, os consultórios de psicoterapeutas ficou mais cheio ainda de pessoas com problemas e conflitos sexuais. Você não pode resolver um problema afetivo pela sexualidade. Um problema de relacionamento precisa ser resolvido através da melhora da afetividade, não do desempenho sexual. Desempenho sexual, genital, é a parte mais fácil para a maioria das pessoas. É algo, vamos dizer, mecânico. Você pode ter sexo de maneira mecânica ou com afeto. Quando o sexo é afetivo, ele é o resultado de uma relação de amor. Quando ele é mecânico, é a conseqüência da falta de afetividade.
Talvez a grande maioria dos homens com queixas de impotência sexual (dificuldade de ereção), sofra, na verdade, da dificuldade ou impossibilidade de amar.  Eles querem que seu corpo (pênis) “ame”, quando eles, a pessoa deles, não ama. É querer “forçar a barra” do organismo. Mas o organismo não é burro. Ele foi criado com leis e somente funciona no melhor dele, quando estas leis são observadas. É verdade que a chamada ciência produz invenções para forçar o nosso corpo a reagir, seja para ter ereção, seja para perder o apetite, dormir melhor, não ficar triste, ter ânimo, etc. A ciência produz os chamados “remédios”. Então, você vai na farmácia e quer comprar o remédio para tudo e qualquer coisa. Mas saúde não está na farmácia. 
Os brasileiros são o quarto maior consumidores de medicamentos do mundo, perdendo apenas para os norte-americanos, franceses e alemães. Alguns anos atrás o Brasil tinha 55 mil farmácias, enquanto que o ideal, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), era, na ocasião, 25 mil. No Brasil, de cada duas pessoas, uma se automedica. De cada três remédios vendidos, um é receitado por médico. Em países desenvolvidos, uma pessoa sadia usa três caixas de remédio por ano, enquanto que no Brasil cada pessoa usa onze caixas por ano. Cerca de 50% dos medicamentos prescritos são desnecessários, sendo a maioria para a gripe. (Fonte: Ministério da Saúde – Abifarma, A.C. Zanini – Universidade de São Paulo).
Sexo não é amor.  Viagra (ou similar) não produz capacidade para amar. Quando um homem não mais ama uma mulher e, portanto, pode ter problemas de ereção ou de ejaculação, a solução não é cirurgia ou medicação, mas sim a busca da resolução dos conflitos que o impedem de amar aquela pessoa. Tomar um medicamento que melhore a virilidade, na melhor das hipóteses, somente melhorará, o desempenho mecânico sexual. Mas e o amor?
Uma esposa pode até perguntar ao marido certo dia: “Querido, quem está fazendo isto, é você ou é o remédio?” E ela sabe se existe amor ou não. A gente sabe.
Sexo não é amor. Ele pode muito bem mascarar o amor, enganando as pessoas por dar a impressão de que se existe grande e forte excitação física é porque isto é prova do amor. Imagine por um momento permanecer com esta pessoa com quem você tem grande excitação sexual, sem ter mais sexo com ela. Sobra alguma coisa de sentimento? Ou acabando o sexo, acaba tudo?!
As pessoas têm perdido a capacidade de amar de verdade, então criam alternativas falsas e enganosas. Um arranja um amante porque diz para si mesmo que o amor acabou pelo cônjuge, enquanto que, na verdade, talvez nunca tenha amado maduramente (como também pode não ter sido amado maduramente) e, por isso, quando a excitação do romance extraconjugal passar, irá surgir a mesma barreira e vazio. Como amar? Onde está o amor? Outra alternativa é usar medicação para melhorar o desempenho sexual, cuidar do físico esteticamente para atrair a atenção e, assim, “ser amado”.
O amor é muito paciente e bondoso, nunca é invejoso ou ciumento, nunca é presunçoso nem orgulhoso, nunca é arrogante, nem egoísta, nem tampouco rude. O amor não exige que faça o que ele quer. Não é irritadiço, nem melindroso. Não guarda rancor e dificilmente notará o mal que outros lhe fazem. Nunca está satisfeito com a injustiça, mas se alegra quando a verdade triunfa. Se você amar alguém, será leal para com ele, custe o que custar. Sempre acreditará nele, sempre esperará o melhor dele, e sempre se manterá em sua defesa.
Viagra produz amor? Impossível. O que cura a pessoa é a verdade e o amor. É compreender a situação (verdade), lidar com ela construtivamente, sinceramente, honestamente, fielmente, e pedir a capacidade para amar. O amor verdadeiro não é gerado por nós mesmos. Mas quem sente necessidade dele por motivos saudáveis, quem pede para dar de graça, recebe.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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