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Vemos o que podemos ver agora
O líder político e militar romano, Júlio César, disse: “Em regra, o que está fora da visão perturba a mente dos homens mais seriamente do que aquilo que eles podem ver.” Faz muito sentido com relação à saúde mental. Vamos pensar um pouco sobre isto. Boa parte das pessoas que vão aos consultórios de psicologia e psiquiatria diz ao profissional: “Não sei o que se passa comigo. Não entendo por que tanta ansiedade”, “Estou tão deprimida, e não sei a causa disto.”
Nem sempre temos consciência da causa de nossos sofrimentos mentais. Quando escrevo “sofrimentos mentais” não quero dizer necessariamente algo como uma crise psicótica, mas problemas como ansiedade excessiva, depressão, fobias (medos exagerados), compulsões por comida, sexo, pornografia, jogo, dinheiro, alcoolismo, dependência de outras drogas, incluindo medicamentos controlados etc.
Nossa mente não libera para a consciência a verdade da causa, ou das causas, de nossas lutas ou conflitos mentais quando desejamos, mas quando podemos. Como assim? O que você sabe hoje sobre a origem de seus sofrimentos emocionais é o que você consegue aguentar. É o que sua mente está dizendo que está pronta para lidar conscientemente. Comece, portanto, a trabalhar com isto que você já sabe que precisa melhorar. Depois chegará mais entendimento à sua consciência. Comece com o que vê agora.
Às vezes vemos erros na conduta em certas pessoas, geralmente familiares, e para nós está claro o que ela precisa fazer para melhorar. Mas para ela não. Isto porque a pessoa pode estar em negação. Negação é uma defesa que nossa mente usa para nos proteger da percepção de alguma dor que não queremos ver, ou não estamos prontos para ver.
Mas a negação será usada pelo nosso psiquismo consciente/inconsciente só até quando chegar o momento de encaramos a verdade. Quando, por exemplo, uma pessoa autoritária, facilmente explosiva, temperamental é confrontada sobre esta conduta desagradável dela, estando em negação ela fugirá da verdade e dará desculpas para seu comportamento autoritário. Quando ela perceber que está perdendo amizades, ao ver que as pessoas se afastam dela ou lidam com ela com desconforto, ela pode começar a pensar se há algum problema no comportamento dela que faz as pessoas terem medo, ou afastamento ou um pé atrás (ou os dois pés) quando ela está perto.
A verdade pode tentar se aproximar da consciência desta pessoa autoritária para mostrá-la este defeito de caráter, e ela pode admitir, fugir desta percepção e continuar assim por sabe lá quanto tempo mais, ou pode dar uma leve admitida, dizendo, quem sabe: “É, acho que sou autoritária, mas...”. Daí, ela de novo foge da percepção completa de seu problema de comportamento, e vai acusar alguém ou algo lá fora dela.
A gente muda para melhor como personalidade, ao pararmos de fugir da verdade sobre nós mesmos e ao aprendermos mais sobre nosso caráter. A luz sempre vem nos ajudar nisto. Mas a pergunta é: você quer esta luz que ilumina seu jeito de ser para você ter a chance de melhorar como ser humano? O que está fora de nossa percepção mental pode nos perturbar mais do que o que está consciente porque podem ser dores, sofrimentos, defeitos de caráter, que ainda não estamos prontos para ver. Talvez não queremos dar uma olhada nisto e mudar.
Por isso, nem todo mundo que vai ao médico ou ao psicólogo quer mudar. Uma boa parte quer o alívio do que incomoda. Mas isto é diferente da resolução da causa do incômodo.
Pior são os que nem ajuda procuram e permanecem numa zona de conforto sem evoluir, sem melhorar seu defeitos de caráter e, o mais chato, perturbando as pessoas ao redor. Nestes casos precisamos colocar limites firmes para abusos destas pessoas, porque uma pessoa que não admite ter problemas de comportamento, de caráter, que não quer ajuda, não tem o direito de perturbar os outros. Se não quer se tratar, então não atrapalhe a vida das pessoas ao redor. Mas se aceita tratamento e se torna humilde para aprender sobre si e sobre como melhorar seu jeito de ser, todos ganham.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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