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Use a cabecinha! - 23 de junho 2011
Geralmente, propagandas preventivas de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada dizem: use camisinha. Mas parece não adiantar tanto quanto gostaríamos ou como deveria. Acho que é porque falta o uso da razão, do pensamento, do bom senso. Uma boa propaganda poderia explorar outro lado de lidar com o problema social, usando como slogan “Use a Cabecinha!”. Ou seja, PENSE antes de se envolver em situações de risco de doenças e de gravidez indesejada.
Geralmente as pessoas dizem: “Pintou o clima, e não pensamos em mais nada!” Transaram. Veio a AIDS, a gravidez, entre outras circunstâncias não desejadas.
Em torno do ano 2000, engravidavam no Brasil um milhão de garotas entre 10 e 19 anos de idade. Em 2005 foram 572.541. Em 2008 caiu para cerca de 444 mil. Em 2002, destas que já tinha filho, 25% engravidam uma segunda vez. Os abortos eram cerca de 200 mil por ano em 2000, produzindo consequências dolorosas às vezes para o resto da vida da pessoa. Em 2005 atingiram o patamar médio de 1.400.000 por ano.
As meninas de classe média e superior abortam em 80% dos casos, enquanto que as de classe pobre abortam somente 20%, e os restantes 80% levam a gravidez até o fim.
De cada cem garotas que iniciam a prática sexual (superprecoce hoje), 28 engravidam nos primeiros três meses após este início. E quase sempre elas falam que foi “sem querer”.
De cada 100 adolescentes que têm mais de um filho, 70 engravidam do mesmo rapaz; 60 tinham menos de 16 anos quando engravidaram pela primeira vez; 50 passam para outras pessoas a responsabilidade de cuidar dos bebês; 95 conhecem e já usaram algum método anticoncepcional e, vejam só, 70 param de estudar!
As causas disto parecem ser — incrível! — a falta de informação, a irresponsabilidade, o desleixo para com precauções anticoncepcionais. Algumas meninas, filhas de famílias ricas, que favorecem o aborto numa primeira gravidez, parecem “facilitar” o surgimento de uma nova gravidez para compensar a perda da criança anterior, como se fosse uma reparação. Para alguns estudiosos, uma gravidez na adolescência seria uma forma de buscar autoestima e autoafirmação inconscientes, já que para uma grande maioria das mulheres a maternidade é uma das fortes afirmações femininas.
Num mundo que valoriza o erotismo exagerada e inadequadamente, o que mais se faz na mídia é aconselhar o uso de camisinha, e se deixa de lado as informações para se usar a cabeça e não ser manipulado por quem quer experimentar o sexo em nome do amor, quando na verdade há só o interesse de sexo. Aliás, sexo é a parte mais fácil num relacionamento. O mais difícil é o crescimento de um relacionamento afetivo que envolva respeito, fidelidade, amizade, compreensão, respeito pelas diferenças de personalidade e liberdade responsável (deixar o outro ser, existir).
A mídia, irresponsavelmente, favorece o sexo precoce. Mas compete à família orientar seus filhos nos caminhos da sexualidade responsável e do aprendizado da autoproteção contra abusos físicos, morais, sexuais. Inclusive orientá-los quanto ao domínio dos próprios impulsos. Mas a luta das famílias contra o que a mídia faz de destruição moral é desumana. Cuide, portanto, de seus filhos e filhas o melhor que puder, orientando-os. Sexo saudável foi idealizado pelo Criador para ser vivido entre homem e mulher dentro de uma relação conjugal de compromisso.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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