Transtorno obsessivo-compulsivo: o que fazer sem ser tomar remédios?

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um sofrimento mental ligado à presença de ansiedade muito alta no indivíduo. Todas as pessoas têm ansiedade, assim como todas normalmente tem temperatura corporal normal (36,5 Centígrados). Mas nem todas têm ansiedade alta, assim como nem todas normalmente têm febre.

Ansiedade é uma inquietude, uma sensação de vazio, falta de paz mental, aflição, com ou sem aperto no peito com ou sem outros sintomas físicos. É diferente de depressão porque na depressão predomina a tristeza e falta de energia, enquanto que na ansiedade alta predomina a aflição.

A ansiedade alta pode ser manifestada diretamente (ansiedade generalizada), ou pode aparecer na pessoa de outras formas, como pela somatização (sintomas físicos de origem emocional), através de fobias, tiques, TOC, reações de conversão (histeriformes), crises de pânico, etc. Ela também pode ficar muito alta num momento da vida, produzindo, por exemplo, crise de pânico, e depois voltar ao nível normal na pessoa e ela não mais ter tais crises.

No caso do TOC a ansiedade excessiva é canalizada para pensamentos obsessivos (perturbam o tempo todo na consciência) que levam aos atos compulsivos (exagero na limpeza da casa, higiene pessoal, ou exagero na arrumação de objetos), porque quando a pessoa pensa obsessivamente, isto incomoda e ela sente algum alívio ao fazer algo compulsivamente. Ou seja, o ato repetitivo compulsivo é uma maneira de tentar aliviar os pensamentos obsessivos, e estes pensamentos são ligados à existência de ansiedade exagerada que a pessoa experimenta. A ansiedade neste nível exagerado é sintoma de conflitos no interior da pessoa que estão ainda não resolvidos, que podem não estar esclarecidos para a própria pessoa ou podem estar em processo de entendimento e resolução.

Uma pessoa pode ter vivido conflitos intensos para ela, especialmente durante a infância, na família de origem, através de abusos emocionais, verbais, sexuais, indiferença, maus-tratos, frieza da parte de um dos pais ou de ambos, violência, etc. Isto produz muita ansiedade e, por alguma razão, em algumas pessoas, a ansiedade excessiva gera o TOC, enquanto que em outras produz outro sofrimento. O TOC, então, é, por um lado, manifestação de sofrimento emocional e, por outro lado, defesa mental, pois o transtorno poderia ser pior, como um surto psicótico, por exemplo.

Alguns passos a serem praticados e treinados no lidar com o TOC são:

1) Renomear as obsessões e compulsões lembrando a si mesmo(a) que elas são sintomas de uma doença. Algo perturba sua paz interior, isto gera muita ansiedade e a defesa para lidar com esta ansiedade que sua mente “escolheu” é o TOC. Por quê? Não sei. Mas é um sinal, é a “luz vermelha” acesa indicando que algo precisa ser consertado na vida emocional.

2) Reatribuir os pensamentos obsessivos e compulsões à circuitos cerebrais doentios. Lembre e diga a si mesmo(a): “Este pensamento obsessivo reflete um malfuncionamento do meu cérebro, não uma real necessidade de eu ter que fazer o que eles dizem (arrumar tudo numa ordem perfeita, só ir fazer algo depois de colocar tudo em ordem, lavar as mãos exageradamente, etc.).

3) Refocar no sentido de voltar a atenção para longe dos pensamentos obsessivos e das compulsões, na direção de um comportamento construtivo. Em vez de focalizar sua atenção no que tem feito devido ao TOC, faça um esforço, usando a decisão racional, de praticar algo bom, funcional, útil.

4) Revalorizar as obsessões e compulsões, pensando que elas não têm nenhum valor intrínseco e nenhum poder inerente. O valor delas é que servem como defesa da sua dor até que você possa lidar com a dor de maneira melhor e, assim, não ter estes sintomas. Também eles não possuem poder neles mesmos porque são resultados de circuitos cerebrais construídos de maneira equivocada. É como ligar um fio no lugar errado e ele fica produzindo faíscas o tempo todo, e se ligar no lugar certo, ou seja, se mudar o circuito, as faíscas param.

Treinar isto é difícil, mas é o que a pessoa com TOC precisa fazer conscientemente porque os medicamentos não têm poder de fazer estas mudanças. Eles apenas aliviam a ansiedade forte que produz o TOC. Mas de onde vem esta ansiedade excessiva?

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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