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Transtorno de personalidade – tipos e características
Um indivíduo anda pelas ruas dizendo-se ser Jesus Cristo. Outro sempre se envolve em brigas e discussões violentas num estádio de futebol ou numa festa. Outros ainda são super tímidos de maneira que se isolam de todos. Estupradores, assassinos em série, abusadores, etc., todos estes, homens e mulheres, podem ter diagnóstico de “Transtorno de Personalidade” (TP).
O TP é uma alteração grave da personalidade não ligada à outra doença física ou mental, acidente ou alteração cerebral. Não é doença em si, mas anomalia no desenvolvimento mental na qual há falta de harmonia da capacidade de sentir os afetos, déficit nos impulsos e condutas. Sendo o portador geralmente visto como pessoa problemática e de difícil relacionamento interpessoal, que não consegue produzir na vida, tem dificuldade em ter emprego estável, tem comportamento turbulento, atitudes desajeitadas, com alterações na maneira como vê o mundo, como expressa os sentimentos, tendo um estilo de vida mal adaptado, inflexível que prejudica a si e aos outros.
O TP surge no começo da vida adulta e em geral se torna crônico se não tratado. Atinge de 10% à 15% da população geral. As causas envolvem possivelmente complicações obstétricas, epilepsia, infecção cerebral, mas não se encontrou ainda genes específicos responsáveis pelo TP, mas sim pela predisposição. Parece haver mais altos níveis de testosterona. Também o ambiente aonde a criança se desenvolve e se relaciona pode apresentar características doentias que favorecem esta alteração de comportamento. Uma criança vivendo num ambiente com maus-tratos terá seu cérebro moldado por estas experiências traumáticas com a formação de circuitos cerebrais alterados.
O Código Internacional das Doenças versão 10 (CID-10) apresenta 8 tipos de Transtornos de Personalidade: 1)Transtorno Paranóide – predomina a desconfiança, sensibilidade excessiva diante de contrariedades, sentimento de estar sempre prejudicado pelos outros estar sendo explorado, passado para trás ou traído, mesmo sem motivos razoáveis para isso. A expressão de afeto é restrita, sendo considerado como pessoa fria, hostil, irritável; 2)Transtorno esquizóide – predomina o desapego, desinteresse pelo contato social, retraimento afetivo, dificuldade em experimentar prazer ou expressar emoções. Aquilo que na maioria das vezes desperta prazer nas pessoas, não diz nada a esta, como o sucesso no trabalho, no estudo ou uma conquista afetiva. Não se perturba com elogios ou críticas; 3)Transtorno anti-social – prevalece a indiferença pelos sentimentos alheios, podendo adotar comportamento cruel; desprezo por normas e obrigações; baixa tolerância a frustração e baixo limiar para descarga de atos violentos; 4)Transtorno emocionalmente instável – marcado por manifestações impulsivas e imprevisíveis. Há dois subtipos: impulsivo e borderline. O impulsivo é caracterizado pela instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos. O borderline, além da instabilidade emocional, revela perturbações da auto-imagem, com dificuldade em definir suas preferências pessoais, com conseqüente sentimento de vazio, não possue clara identidade de si mesmo, com um projeto de vida ou uma escala de valores duradoura; 5)Transtorno histriônico – prevalece egocentrismo, baixa tolerância a frustrações, teatralidade e superficialidade. Impera a necessidade de fazer com que todos dirijam a atenção para ele próprio, eterno “carente afetivo”, com comportamento sedutor e manipulador, exibicionista, fútil, exigente e lábil (muda facilmente de atitude e de emoções). Expressa emoções com exagero inadequado, como ardor excessivo no trato com desconhecidos, acessos de raiva incontrolável e choro convulsivo em situações de pouca importância.; 6)Transtorno obsessivo ou anancástico – prevalece preocupação com detalhes, rigidez e teimosia. Existem pensamentos repetitivos e intrusivos que não alcançam, no entanto, a gravidade de um transtorno obsessivo-compulsivo, tendência ao perfeccionismo, comportamento rigoroso e disciplinado, consigo, e exigente com os outros. Emocionalmente frio, é uma pessoa formal, intelectualizada e detalhista. Esta pessoa tende a ser devotada ao trabalho em detrimento da família e amigos, com quem costuma ser reservadas, dominadora e inflexível. Dificilmente está satisfeito com seu próprio desempenho e seu perfeccionismo o torna uma pessoa bastante indecisa; 7)Transtorno ansioso (ou esquivo) – prevalece sensibilidade excessiva a críticas; sentimentos persistentes de tensão e apreensão, tendência a retraimento social por insegurança de sua capacidade social e/ou profissional, 8)Transtorno dependente – prevalece carência de determinação e iniciativa, instabilidade de propósitos, precisa de outras pessoas para apoiar-se emocionalmente e sentir-se segura. Permite que os outros tomem decisões importantes a respeito de si mesma. Sente-se desamparada quando sozinha. Resigna-se e submete-se com facilidade, chegando mesmo a tolerar maus tratos. Quando posta em situação de comando e decisão esta pessoa não obtém bons resultados.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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