Colunas
Setembro Amarelo - Prevenção do Suicídio - Última parte
Você evita falar sobre a morte e o morrer? Uma atitude comum que ocorre em velórios é um grupo de dois, três ou mais pessoas que estão ali, conversarem dando risadas, como se estivessem numa festa. Você já fez isto? Por que as pessoas têm esta atitude num velório? Será negação da dor? Será fuga de pensar na morte, na própria morte?
Negação é um mecanismo mental que usamos diante de alguma perda, dor ou problema. Um exemplo: pessoas dependentes do álcool que ainda não entraram em recuperação, quando questionadas por que bebem tanto, a negação as leva a dizer coisas como: “Ah! Eu só bebo quando o meu time de futebol perde!”, “Bebo quando meu time ganha!”, “Eu bebo com controle (e a pessoa está constantemente embriagada)”, “É só fim de semana! (e ela bebe no meio da semana também)”. Sair da negação neste exemplo seria dizer: “Bebo demais porque perco o controle.”, “Exagero na bebida porque tenho compulsão para o álcool.” Ao se dizer a verdade para si, é dado o primeiro passo para a recuperação.
Um exemplo de negação que tem que ver com a morte pode ser uma família em que um membro foi diagnosticado com câncer, e os parentes que não querem pensar em morte, geralmente se referem à esta doença dizendo: “Fulano está com aquela doença.” Parece que para muitos de nós, falar a palavra câncer assusta, gera ansiedade, leva a pensar em morte e em morrer. Daí fugimos disto, evitando usar nomes diretos, apropriados.
Por que é difícil falar “morte”, “morrer”, “quando eu morrer”? Por que tentamos fugir da coisa mais certa da vida que é a morte? Não a evitamos ao não falar dela. Pelo contrário, por não falar, alguns se acumulam de tristeza e se matam.
Uma famosa revista sobre automóveis, certa vez publicou uma reportagem com o título: “Carros que você precisa dirigir antes de morrer”. Vamos morrer. Seja você pobre, classe média, classe rica, classe muito rica, vamos todos morrer. Mas negamos. E alguns vivem como se fossem durar a eternidade, juntam dinheiro como se fossem viver três, cinco, ou 20 vidas superconfortáveis. Você acha isto mentalmente saudável?
É importante que na família, nas escolas, nas igrejas, se fale da morte e de morrer sem medo, sem constrangimento, sem eufemismos, e sem deboche. E sim no sentido de reflexão. Isto ajuda a pessoa que está com pensamentos suicidas, ou que pode vir a tê-los, a entender, discutir o assunto, vencer tabus, não se sentir isolado, fazer perguntas, desabafar. Falar ajuda a curar.
Ainda importante na prevenção do suicídio é a criação de vínculos de ajuda mútua, pois favorece a sensação de pertencer, integrar, apoiar. E procurar ativamente um sentido para a vida que promova a esperança, produza fé, aumente a intimidade com Deus e uns com os outros. Suicídio tem muito que ver com perda da esperança.
Precisamos reconhecer nossos limites também. Não somos deuses, não podemos tudo, não temos respostas para tudo. Isso é ser humano. Qualquer pessoa pode se deprimir e chegar a pensar em morte, em suicídio diante de sofrimento que não vê solução.
Fatores que favorecem a ideia suicida pela perda do desejo pela vida podem ser: falência financeira, término de relacionamento amoroso, perda do emprego, morte de uma pessoa amada, injustiças na vida profissional que favorece o fracasso, abuso moral nas empresas, abandono social, solidão, vítima de bullying no trabalho e na escola, entre outros.
Ajuda a prevenir o suicídio parar de competir, sair do padrão compulsivo de trabalho com o fim de ter tudo o que a sociedade consumista diz que é preciso ter para ser feliz, tendo consumo mais simples. Valorizar amizades. Desabafar com conselheiro ético. Descansar. Meditar. Desenvolver a espiritualidade. Ajudar outras pessoas de graça.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário