Setembro Amarelo - Prevenção do Suicídio - Parte 1

quinta-feira, 06 de setembro de 2018

A OMS – Organização Mundial da Saúde – afirmou que as doenças mentais são doenças crônicas das crianças e dos adolescentes. O que isto significa? Doença crônica é aquela que permanece ao longo do tempo e que parece não ter cura. Essa declaração da OMS significa que muitos sofrimentos mentais dos adultos são originados em traumas ou conflitos vividos ao longo da infância e na adolescência. Estes conflitos acabam gerando um transtorno mental na vida adulta porque foram mal resolvidos e a pessoa acaba carregando meio que inconscientemente as dores ainda em aberto para a vida futura. Com ou sem novos traumas ou conflitos, surge algum transtorno, podendo ser depressão, crise de pânico, fobias, alcoolismo, outras dependências químicas, doenças psicossomáticas, entre outros na vida adulta.

Alguns estudos mostraram que a separação definitiva dos pais (divórcio) é pior para os filhos em termos de produzir sofrimento emocional neles, do que a morte do pai ou da mãe. E também se verificou que a perda que uma criança sofre antes dos 9 anos de idade, é pior para sua saúde mental do que após esta idade. Dr. Gabbard, da Universidade de Nova Iorque, verificou que as crianças que perdem a mãe antes dos 5 anos de idade têm um risco quatro vezes maior de desenvolver o Transtorno Afetivo Bipolar.

Tudo isto nos mostra que é muito importante que pai e mãe ofereçam para seus filhos pequenos um ambiente afetivo no lar com uma combinação de carinho, valorização, limites, elogios sem exageros, disciplina nem frouxa e nem dura demais, aconchego físico, brincar com eles, presença do pai e da mãe, e também orientar os filhos quanto à fé religiosa.

As crianças não se tornam mais felizes quando damos a elas tudo o que elas querem. É importante aprenderem desde pequenas a lidar com o “não”, a esperar, e ter paciência. Mas o pai e a mãe precisam eles mesmos darem um bom exemplo nisto. Nenhum brinquedo, nenhum eletrônico, nenhuma escola, substitui a presença afetiva do pai e da mãe no lar para a saúde mental da criança.

Um adulto pode ter vindo de sua infância com marcas emocionais dolorosas, mal resolvidas, não necessariamente conscientes. Exemplo, uma criança pode ter sido criada num ambiente infantil no qual havia abuso verbal. Este tipo de abuso tem que ver com gritar com a criança, usar palavras depreciadoras para com ela, críticas em demasia. Isto produz na mente infantil uma sensação de desvalor, de que ela é errada, de que é um atrapalho na vida.

Crescendo com estes sentimentos, lá na frente, na vida adulta, quando ela se defrontar com outros tipos de abuso verbal (um patrão autoritário, uma esposa agressiva, um marido mandão, um colega de trabalho sem controle emocional etc.), ela se sentirá duplamente desconfortável emocionalmente, porque haverá o machucado emocional do passado sobre o qual virá uma nova ferida com o relacionamento abusivo do presente.

O resultado disto pode ser, por exemplo, o começo de um estado depressivo. E, como vamos ver em outro artigo desta série, a depressão pode ser leve, moderada ou grave. Podendo vir junto dos sintomas depressivos a ideia de morte. Dois sintomas depressivos principais são a perda do prazer em tudo, e a tristeza constante que persiste por mais de duas semanas, junto com outros sintomas que veremos depois.

A ideia de morte no depressivo pode ser apenas querer morrer para não sofrer mais o(s) abuso(s), mas sem intenção suicida. Ou seja, a pessoa pode estar bem deprimida mas não ter desejos suicidas. Porém, alguns indivíduos seriamente deprimidos podem cultivar pensamentos de morte com ideação suicida, ou seja, eles pensam realmente em se matar. Vamos analisar em outro artigo quais sinais existem numa pessoa que pensa em se matar e o que fazer.

Entre o ano 2000 e 2015 o suicídio aumentou no mundo em 45% nos jovens entre 15 e 19 anos de idade, e 65% entre os jovens de 10 a 14 anos de idade. O chamado “Setembro Amarelo” significa que neste mês em nosso país procura-se orientar e educar sobre prevenção do suicídio. Analisaremos mais informações sobre este assunto nos outros artigos desta série.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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