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Será que a malignidade vencerá?
quarta-feira, 01 de outubro de 2014
A vida está ficando mais difícil porque o mal está avançando a passos largos em nossa sociedade. Perguntas que devem estar na mente de gente do bem podem ser: Por que o povo brasileiro elege pessoas de mau caráter? Por que a liderança política elege para presidentes disto ou daquilo também pessoas de mau caráter ou que por suas ideias expostas na mídia revelaram ou traços de mau caráter ou mau caráter explícito?
O Brasil receberá uma leva de políticos nestas eleições. Será a maioria de corruptos? Novos corruptos ou serão reeleitos os velhos corruptos? O povo decide. O povo decide? Deixa eu me sacudir: o povo decide? Como assim? O povo decide votar em mau caráter?
Será que após quase 30 anos de ditadura o brasileiro perdeu a habilidade democrática de eleger bons candidatos? Ou não há bons candidatos e por isso a corrupção cresceu assustadoramente em todos os poderes em nossa pátria? O problema está na [falta de] educação do povo ou na carência de pessoas de bom caráter? Ou em ambos?
Meu pai, Manoel Alves de Souza, o "seu Simões”, pernambucano trabalhador, nascido em março de 1913 e morto em 1996, manteve funcionando por mais de 50 anos a Papelaria e Livraria Simões, de sua propriedade. Sua empresa cresceu e se tornou por muitos anos a melhor e maior loja do ramo da cidade de Nova Friburgo. Grandes empresas e órgãos do governo compravam com ele. E ele não lidava com propina. Vez ou outra me para na rua algum comprador de empresas do passado que me confirma isto, sem eu perguntar.
Dias atrás, almoçando com meu sogro, ex-gerente de compras de grande empresa têxtil da cidade, ele me disse que na primeira vez fez contato com meu pai, se apresentando como o gerente de compras daquela grande indústria, dizendo que iria autorizar a compra de produtos em sua loja, meu pai logo disse a ele: "Obrigado! Mas quero que fique claro que não faço negócio envolvendo propinas!” Meu sogro, sendo também honesto, logo explicou que esta não era a política de trabalho dele e da empresa.
Papai dizia que quando enviava seus preços para uma licitação, por exemplo, na prefeitura, ele tinha a postura: "Meu preço é este. Se querem, muito bem. Se não, paciência.” Se papai tivesse negociado por 50 anos lidando com propinas, com certeza teria deixado pelo menos o triplo do patrimônio que deixou. Mas com certeza dormiu o sono da morte com algo que ninguém que se envolve em propina consegue: paz.
Meu filho, formado em Ciências da Computação, ótimo webdesigner, tem feito vários trabalhos também para empresas norte-americanas, como um site para o capelão do Senado dos Estados Unidos, etc., me disse que anos atrás um colega dele fez só uma página — eu disse uma página — de internet para a prefeitura e recebeu sete mil reais, quando naquela época o preço para fazer um site inteiro — eu disse um site inteiro — era em torno de três mil reais. Sete mil reais para uma página de internet.
Um conhecido meu, engenheiro, entrou com um processo (arriscando a vida porque é uma luta contra um bando de marginais violentos que estão no poder) contra um prefeito que pediu a ele um milhão de reais só para assinar um documento. Outro conhecido, ligado ao mercado de grandes empreendimentos imobiliários numa das maiores cidades do país, olhou para mim com uma cara de náusea e, referindo-se à corrupção nesta área político-empresarial, disse: "Dr. Cesar, é um nojo!”.
É um nojo. Será que a malignidade irá vencer? Parece que sim. Bem, eu creio na Bíblia como verdade. E ela diz que a maldade destrói o mal. A malignidade irá vencer mesmo? Não. É só por um tempo que ela vence. Os corruptos estão com seus iates, carrões, aviões, helicópteros, imóveis, dinheiro no exterior, etc. Mas isto é vitória? Será realmente vitória? Creio que não. A vida também diz que não. Porque a vida não consiste nos bens de uma pessoa. Mas os corruptos acham que sim. Coitados.
Você que é corrupto, talvez portador de um transtorno de personalidade no qual não sente remorso, não experimenta culpa, é um infeliz. Quase todo psiquiatra se "arrepia” quando recebe uma pessoa assim no seu consultório. Por quê? Porque transtorno de caráter é um dos problemas mentais mais difíceis de ser tratado.
Você que é corrupto(a) e talvez não seja portador(a) de um transtorno grave de personalidade, será que você consegue chegar para sua filha de 8 anos de idade, ou seu filho de 10 anos de idade e dizer: "Papai (mamãe) vai usar este dinheiro que roubei do povo brasileiro para dar uma viagem na Disney para você e vou comprar um telefone celular do mais moderno para você com este outro dinheiro que recebi de propina.” E em seguida explica cinicamente: "Propina é um dinheiro que a gente ganha de forma ilegal.” E explica o que é ilegal: "Ilegal é quando a gente consegue algo mentindo, enganando, trapaceando, movido pelo maligno.”
Como esta criança se sentiria? Orgulho de um pai (mãe) corrupto? Ou ficaria confusa, com vergonha, triste e decepcionada? O que meu pai e minha mãe passaram para seus cinco filhos de mais importante? Um bom caráter. É isso o que fica para a eternidade. Domingo que vem, dia das eleições, ao votar, você irá cooperar com a vida ou a morte? Com o bem ou com o mal? Com a bondade ou com a malignidade? Com a luz ou com as trevas? Com a verdade ou com a mentira? Com a sinceridade ou com o cinismo? Com a pureza ou com a nojeira? A malignidade não vai durar para sempre. É ingênuo escrever isto? Vamos ver.

Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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