Saúde Mental conduz à compaixão

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Somos diferentes como personalidade. Também quanto ao temperamento. Temperamento é a maneira mais instintiva de uma pessoa agir. Cerca de 70% do nosso temperamento predominante é herdado. Personalidade tem que ver com a maneira como lidamos com as pessoas. É o nosso jeito de ser nas relações sociais.

Não há ninguém com personalidade perfeita. Todos possuímos defeitos em nosso comportamento. E numa grande maioria dos sofrimentos nas relações com as pessoas e com a gente mesmo, a solução passa por aprender a lidar com a personalidade e o temperamento de uma forma mais madura, mais equilibrada.

Equilibrada? Como assim? Alguns indivíduos são mais racionais, enquanto que outros são mais emocionais. É muito difícil equilibrar em nossa personalidade a razão e a emoção. Ou você tende a ser calculista, racional, ou a ser dramático, sentimental. Mas a saúde, neste contexto, está no meio. Também é verdade que tem momentos em que é mais saudável ser emocional, e em outros momentos ser racional.

Algumas pessoas são passivas e se deixam dominar por outras, o que não é o melhor para a saúde mental delas. Outras são ativas no sentido de serem dominadoras, o que também não é bom para ninguém. Puxa! Então, o que é ser normal? O normal está em processo de vir a ser. É uma construção que nunca acaba. Saúde mental é um processo. E cada um decide se quer viver acomodado na sua maneira tradicional de ser, ou se quer melhorar. Melhorar em que? Em como você lida com a angústia, com a tristeza pessoal, com sua impulsividade, passividade, autoritarismo, medos, raiva, alegria, melancolia, solidão.

Saúde mental tem que ver com ter as emoções e não deixar que elas o tenham. Ou seja, experimentar os sentimentos, expressá-los adequadamente, e não deixar que eles exerçam domínio sobre seu comportamento. É fácil isto? Todos já sabem praticar isto com equilíbrio? Você conhece alguma pessoa que consegue isto o tempo todo? Alguém que nunca é emocional demais e nunca é racional demais? Conhece?

Todos necessitamos de ajustes em nossa personalidade. Isto é o normal. Por exemplo, uma pessoa muito racional, que pode ter sucesso profissional e econômico talvez necessite ajuste na maneira de viver as emoções porque pode reprimi-las demais. Por outro lado, uma pessoa muito emocional pode necessitar de ajuste no sentido de aprender a ser mais racional para se proteger de seu próprio desequilíbrio sentimental.

Se você vai se despedir de um ente querido que vai para longe e demorará a voltar, é normal chorar ao abraçá-lo. Mas uma pessoa racional provavelmente irá segurar o choro, e não o deixará sair. Isto pode indicar repressão de sentimentos numa pessoa racional. E você pode ficar chorando pelos cantos só porque teve uma discussão não grave com seu namorado, noivo ou marido. Isto pode indicar a falta de controle emocional numa pessoa muito sentimental.

Razão e emoção. Um precisa do outro. Um segue o outro. Você se torna mais parecido com aquilo que mais pensa. Se pensa muito racionalmente, pode se tornar uma pessoa fria. Se pensa muito emocionalmente, pode se tornar uma pessoa demais emotiva. O pensamento (a cognição) precisa ser ajudadora da emoção. Mas a emoção também ajuda a cognição. O amor tem que ser firme. Mas a compaixão ajuda a flexibilizar, a não julgar, a entender o valor do sentimento para a saúde e boas relações humanas.

Saúde mental é um processo no qual podemos aprender a pensar melhor, sentir com mais liberdade e equilíbrio, e exercer compaixão, para com a gente mesmo e para com os outros. Talvez tornar-se uma pessoa perfeita em caráter tenha muito que ver com passar a ser alguém compassivo. Ter compaixão. Pensar compaixão. Sentir compaixão. Agir com compaixão. Com você e com os outros.

TAGS:
César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.