Sanidade e insanidade

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Sanidade é a qualidade do estado de saúde de um ser vivo. Insanidade é a falta desta qualidade de bom funcionamento, e se usarmos a expressão "insanidade mental”, então estamos falando de falta de bom funcionamento da mente.

Quase todas as pessoas querem saúde. Por que não todas, mas quase todas? Nem todos querem saúde porque há pessoas desesperançadas. Perderam a esperança na vida, na possibilidade de recuperação e da capacidade de o corpo-mente reagirem para viver.

Não é fácil adoecer. Até que uma doença se estabeleça no ser humano é preciso quebrar muitas barreiras contra a enfermidade. Por exemplo, no caso do câncer, além da possível tendência genética para esta doença, o indivíduo precisa violar muita coisa e por muito tempo na fisiologia, antes de o câncer surgir. Um câncer não surge da noite para o dia. Antes de ele aparecer e ser diagnosticado, o organismo já lutou muito para evitá-lo. 

Os genes, no núcleo da célula, são ativados para coordenarem milhares de funções no corpo. Quando uma pessoa viola seguidamente e por um tempo longo as leis da saúde, eventualmente algumas células começam a ficar doentes e podem se tornar células cancerosas. Mas antes disto o corpo já produziu, através de genes P53, substâncias para evitar que aquelas células se tornassem cancerígenas, que são células extremamente egoístas — uma consome a outra, uma briga com a outra para ter "espaço”. O tumor é uma confusão de células egocêntricas que se matam entre si. A gente vê isto na sociedade também, e em todos os níveis sociais, econômicos e culturais, não é mesmo? 

Quando a pessoa insiste em praticar coisas no estilo de vida que são insanas, os genes P53 dizem: "Não aguentamos mais!” e "pifam”, desistem, "jogam a toalha”. Daí entra em ação um último recurso orgânico, em defesa da sanidade, que é a ativação dos genes NM23, que são os que tentarão evitar que o tumor produza metástases. Metástase significa que o tumor central enviou suas células egoístas para outro local do corpo, e ali elas se estabeleceram e começaram a "ganhar mais uma fatia do mercado”, destruindo, insanamente, as células sadias. A gente vê isto na sociedade também, não é?

E quando a pessoa, insanamente, persiste na conduta ruim para sua saúde, física, mental ou espiritual, as células sadias de seu corpo começam a dizer, angustiadíssimas, umas para as outras: "Acho melhor a gente desligar tudo, porque este indivíduo está dizendo que não quer viver. E se ele continuar a viver deste jeito, haverá muito mais sofrimento em seu corpo e mente”. Daí começa a ocorrer o que se chama de "suicídio celular inteligente”. Ou seja, as células sadias começam a se "desligar”, os órgãos começam a encerrar suas atividades, e a pessoa vem a morrer. A ideia das células cancerosas, insanas, é: "Vamos acabar com esta pessoa de maneira trágica, muito dolorida e sofrida!”. Enquanto que a ideia das células com sanidade é: "Vamos desligar a vida deste indivíduo de uma forma que ele sofra menos e para que não perpetue este sofrimento, já que ele insiste em se machucar”. Insanidade e sanidade.

Será que a sanidade pode curar a insanidade? A mente pode curar a mente? Você escolheu vir à existência antes de existir, e disse para si mesmo: "Bom, agora está na hora de eu nascer. Então vamos lá. Vou entrar na barriga de uma mulher e vou nascer”. Foi assim que sua vida começou? Temos capacidade de curar a nós mesmos, de produzir sanidade sozinhos em nossa própria mente? Se isto fosse possível seria o mesmo que você colocar você mesmo no colo fisicamente falando. Você consegue isto? Você consegue se levantar do chão, levantando sozinho seu corpo?

A sanidade mental começa e se desenvolve com boas escolhas, mas ela precisa de um poder maior do que o eu para ocorrer no indivíduo. O eu (self) é muito enganoso. O inconsciente nos dá constantes rasteiras. E muitas vezes o tombo é feio, não é?

Quer sanidade mental? Comece com humildade. Como assim? Pare com a arrogância. Ou se não há arrogância (devido a algum poder que você possa ter, social, econômico, político, jurídico, eclesiástico, etc.), pelo contrário, se há medo, não desespere. Seja honesto e reconheça suas insanidades e peça sanidade. Suas células sadias baterão palmas e dirão: "Ufa! Finalmente!”. Em seguida, faça o que você já sabe que é luz, é bom, é sadio, é verdadeiro, é honesto. Isto é sanidade. Ela começa assim.


TAGS:
César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.