Salvando o seu coração físico, emocional e espiritual—Parte 4

quinta-feira, 07 de fevereiro de 2013

Seguimos com a série de artigos com ideias pessoais e do Dr. Ornish, cardiologista professor na California University, San Francisco, autor dos livros “Salvando o seu coração”, “Amor e Sobrevivência”, sobre a importância de se verificar causas profundas da doença coronária, e outras, e não só abordar tratamento no nível físico da doença. 
Nos EUA planos de saúde privados e previdência social enfatizam tratamento com remédios e cirurgia em vez de educação em saúde. Gasta-se mais no tratar doença cardíaca do que em qualquer outra (78 bilhões de dólares/ano). Dr. Ornish explica a loucura econômica: “Se eu fizer uma cirurgia de safena em um paciente, a companhia de seguros pagará pelo menos 30 mil dólares. Se eu realizar uma angioplastia, a companhia de seguros pagará pelo menos 7500 dólares. Se eu gastar o mesmo tempo dando a um doente do coração informações sobre nutrição e técnicas de como lidar com o estresse, a companhia de seguros não irá pagar mais do que 150 dólares. Se eu gastar esse tempo ensinando uma pessoa saudável e permanecer saudável, a companhia de seguros não pagará nada” (“Salvando o seu coração”, 38. Dados de 1990).
A tendência nossa, de médicos, é praticar o que nos é ensinado da Faculdade de Medicina, que é a medicina curativa, pois não nos é ensinado sobre nutrição ou sobre como ajudar os pacientes a mudarem seu estilo de vida para prevenirem doenças. Somos treinados para prescrever medicamentos e realizar cirurgias. 
Por outro lado, grande parte dos pacientes quer algo rápido e prático, como uma receita de um remédio convencional que ele comprará na farmácia mais próxima crendo que aquele comprimido resolverá seus problemas de saúde. Pode resolver sintomas. Só.
Alguns médicos são bem insensíveis para com as emoções do paciente. Dr. Ornish comenta: “Um proeminente cardiologista, parecendo muito frustrado, veio até mim [na enfermaria] e disse: ‘Você está cuidando do meu paciente, o Sr. Smith. Ele está programado para ser submetido a uma cirurgia de ponte de safena hoje, e está batendo com a cabeça nas paredes de tanta preocupação. Eu mando pacientes para cirurgia de safena todos os dias e não consigo entender porque ele está tão preocupado—para mim isso é tão simples”. E continua: “Nós, médicos, não damos os melhores exemplos. Além de aprendermos a não valorizar ou ouvir as necessidades emocionais de nossos pacientes, muitas vezes aprendemos a negar ou esquecer os nossos sentimentos como parte de nosso treinamento médico. Nesta profissão, temos os maiores índices de toxicomania e divórcio quando comparados com outros grupos profissionais; o médico médio vive, em geral, menos. A cada ano, suicidam-se médicos em número equivalente a toda uma classe de formandos de uma grande escola de medicina. ... Portanto, não é de surpreender que muitos médicos não acreditem que o distúrbio emocional ou o isolamento espiritual possa contribuir para a doença do coração. É mais fácil não acreditar” (idem, p. 38,39).
O pensamento padrão médico é muito organicista, ou seja, foca em questões ligadas às alterações orgânicas, desconsiderando as emocionais e espirituais. Para mim é uma perda importante para o profissional e para o paciente. Dr. Ornish comenta que ao ir a congressos médicos, a conversa com colegas sobre os problemas cardíacos inevitavelmente cai para o “lado” físico. Ele tenta explicar que seus pacientes melhoraram com dieta. E os colegas dizem: “Que mais?” Daí ele fala que também começaram um programa de exercícios. De novo perguntam: “Que mais?” Ele diz: “Ajudamos o paciente a parar de fumar.” E: “Que mais?” Dr. Ornish prossegue: “Bem, assim como eu penso que alimentação, exercício e parar de fumar são importantes, também acredito que trabalhar em um nível mais profundo também é muito importante: ensinar às pessoas como acalmar as suas mentes e ganhar mais controle sobre elas; como ouvir os sentimentos dos outros e os seus próprios; como se sentir mais ligadas aos outros e a si mesmas; como dar e como receber amor mais intensamente.” E colegas talvez pensem: “Esse cara é romântico e nada científico. Cadê o remédio para os pacientes?” 
Percebe a falta de visão maior? O pai da Medicina, Hipócrates, disse: “Mais importante do que saber que doença tem essa pessoa, é saber que pessoa tem essa doença.” Até semana que vem com essa série.

P.S.: 1) Que os amigos, funcionários do jornal, parentes de nosso “patrão” Laercio Rangel Ventura encontrem em Deus forças para lidar com a saudade!
2) Outra tristeza é um indivíduo com processo criminal em andamento, comprovadamente envolvido em fraudes ser eleito presidente do Senado do Brasil! Pior ainda, a maioria votou nele. Meus pêsames, querido Brasil! Nós, povo, não merecemos isso. 

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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