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Quem é o ser humano?
O que você é? Um ser humano, você diria. O que é ser um ser humano? Aristóteles disse que é o animal que fala. Ser humano é ter aquilo que os outros animais não têm: cognição, razão, pensamento. Que mais? Tem mais? Pensar é uma função somente do bicho homem. Exclusiva nossa. Pensamos, mas também pensamos errado e fazemos errado. O que faz isso em nós? Ser humano é ser falho? Há algum ser humano perfeito, que não tem erros cognitivos? Pia Mellody, palestrante e escritora sobre codependência afetiva e como traumas de infância afetam a vida adulta, escreveu que nós seres humanos somos perfeitamente imperfeitos.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) define saúde como o bem estar físico, mental, social e espiritual do ser humano. Bem estar. Bem estar é o mesmo que bem ser? Bem estar é ausência de pensamentos e sentimentos de angústia? Que problema causa esta dor que os filósofos chamam de angústia existencial? Saber que vamos morrer pode aumentar nossa angústia. E sabemos. Por que, então, alguns seres humanos parece que não sofrem angústia? Parece. Mas ela existe em todos nós. Será que a angústia é parte de nosso bem estar nessa existência?
Sören Kierkegaard, filósofo dinamarquês, em seu livro “O Conceito de Angústia” escreveu que o ser humano que aprendeu a lidar corretamente com sua angústia, aprendeu o mais importante. O mais importante em relação a que? À vida. Qual a importância sobre aprender a conhecer e lidar com nossa angústia? Há importância nisto? Não é melhor ir comer pizza? Ou comprar um carro zero quilômetro? Ou separar e casar com outra pessoa? Será que viajar para o Caribe não resolveria esta angústia do ser humano? Não está a humanidade em busca de si mesmo? Busca de sentido, de identidade? Você tem certeza de que esta pessoa que você diz que é você, é você mesmo? Será que o você que você conhece não tem muito de influência cultural, crenças psicológicas centrais e pensamentos automáticos distorcidos? Qual a diferença entre ser influenciado pela cultura na construção do seu ego e a verdade do ser sua identidade?
Talvez abrimos o jornal ou ouvimos o noticiário na TV cada dia para ver se surge a notícia do fim da angústia. O fato de sermos humanos nos possibilita saber que o tempo passa e que a morte se aproxima. Morremos. Desaparecemos da realidade. Sabemos que somos um ser para a morte. E isto produz angústia. Ou não?
Será que o que procuramos fazer para deixar no mundo não tem que ver com a tentativa de lidar ou driblar a noção de finitude? O que você vai deixar no mundo? A resposta desta pergunta parece ter que ver com como você vive, não é? Vive você o ser mais próximo do real seu, ou mais alienado talvez seguindo a multidão movida pela mídia cheia de conflitos de interesses?
O ser humano é o único ser neste planeta que pergunta “por que?”. Porque pensamos. E por causa do raciocínio, inevitavelmente nos defrontamos com o limite do ser. Tem como transcender a nós mesmos? O que posso ser quando não mais for? Bem, alguns juntam figurinhas de jogadores de futebol e guardam seu álbum completo. Outros fazem uma obra de arte. Artistas sobem ao palco e exibem sua voz, sua habilidade cênica, sua performance musical. A mãe cria uma nova receita de bolo. O empresário ergue nova fábrica. O que queremos com estas coisas? Esticar o tempo do nosso existir? Não pensar na finitude? Deixar uma marca de nosso ser? Você quer ser lembrado do que era?
Já encontrou sentido para sua existência? No trabalho? Nos estudos? Numa relação afetiva? Em lugar nenhum e por isso se deprime e corre para os antidepressivos? Só o ser humano busca o sentido das coisas. Os outros animais buscam sobrevivência, têm instintos e até afeto! Mas não podem pensar, nem fazer perguntas, não buscam um sentido do existir. De uma coisa temos certeza, se não estivermos com delírio místico: não somos deuses. O que está faltando para ser humano eterno sem angústia?
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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