Qual o valor do ser humano?

sexta-feira, 03 de maio de 2019

Como podemos medir o valor de cada pessoa? Será pelo que ela produz? Neste caso, os idosos aposentados que não mais trabalham convencionalmente e as crianças não têm valor? Será que temos valor como seres humanos pelo que possuímos materialmente? Neste caso os pobres são sem valor para a existência?

Pense no significado da pergunta que costumeiramente fazemos para uma criança: “O que você vai ser quando crescer?” Será que queremos dizer que naquele momento da vida a criança não é nada? Não será a ideia inferida nesta questão a de que se ela não “faz nada” agora, só brinca, então ela não é ninguém?

Também não existirá embutido nesta pergunta o pensamento de que a criança só virá a ser alguém quando tiver uma profissão para, então, produzir e consumir? E nesta visão materialista do valor humano será que não se força a criança a se tornar precocemente adulta? Responsabilidade precoce, estudos precoces, sexo precoce, sensualidade precoce? Não é isto matar a infância, matar o ser criança para que ela se torne rapidamente um adulto produtivo?

Você só se torna uma pessoa de valor quando produz e consome produtos e serviços? Qual o valor do ser humano? Há um valor intrínseco? Por que jovens se suicidam? No mundo uma pessoa se suicida a cada 40 segundos. Se você vive num ambiente onde não há um senso de pertencimento, surge um vazio muito dolorido. Se no grupo social onde você está inserido as pessoas não comungam suas crenças, não entendem e nem se interessam por suas ideias, você acaba sendo discriminado.

Se você não se encaixa nas características físicas do grupo, não há semelhança entre o poder econômico do grupo e o seu, você se sente excluído, sem pertencer ao grupo. Isto pode produzir desejo de morte. Não pertencer a ninguém significa ser ninguém. Pode surgir aí a depressão, que pode ser uma morte gradativa, facilitada pelo sentimento de não pertencer. A pessoa sem noção do seu valor como ser humano pode desejar a morte, pode tentar morrer. Às vezes consegue. Outras vezes vai morrendo aos poucos, por dentro, na alma, no psiquismo, no estado depressivo.

De que vale sua vida? Para que você vive? Para quem? Para que serve sua vida? O que se espera de você? Seu valor está no que você pode oferecer? Seu valor depende do que você pode ostentar? Ou não tem valor porque não possui (tanto) como outros? Que padrão usamos para valorizar as pessoas? Qual é o protocolo? Quem cria a escala avaliadora de nosso valor? É a sociedade capitalista? É a religião X? Ou é a filosofia Y?

Pense: qual o valor do ser humano que não tem nada para oferecer? Aí é que podemos pensar no valor intrínseco da criatura. Quando uma pessoa está no auge de sua produtividade, quando tem sucesso profissional e econômico, é fácil falar da importância dele. Mas e quando ele é um bebê ou um idoso no final de sua vida? Perdeu o valor?

Vivemos numa cultura onde o valor do indivíduo depende do quanto ele produz. Mas é válido mensurar o valor de cada pessoa sob a ótica da produção? É justo dizer que os que mais produzem são os mais valorosos? Por que exaltamos a beleza física, estética e desvalorizamos a experiência e sabedoria dos idosos lúcidos? Nosso valor está na estética corporal? Só na juventude é que o indivíduo tem valor? As empresas querem jovens empreendedores, proativos. Mas e a sabedoria dos idosos? Este valor vai para o lixo porque eles não têm mais o vigor e a energia da juventude? Não é esta valorização materialista da pessoa uma crueldade?

Vivemos numa era de compulsão pela produção e isto está nos matando. Dá dinheiro para um pequeno grupo de pessoas, mas massacra a noção de valor humano. Cada pessoa em cada fase da vida tem valor imenso. Ela é única no universo. Não há outra igual a ela, nem mesmo nos casos de gêmeos univitelinos. O feto ainda na barriga da mãe, o bebê recém nascido, a criança, o juvenil, o adolescente, o adulto jovem, o adulto maduro, o idoso, cada um tem valor e dignidade como criatura humana independentemente do que possui e do que produz.

O valor de cada pessoa não vem de fora, não é extrínseco, não depende do que você tem, nem do que você produz. Cada pessoa é valiosíssima, seja ela a que está num barraco construído por papelão, seja a que está numa mansão. Trate cada pessoa tendo esta visão. Saia da mediocridade filosófica capitalista que atribui valor para o ser humano baseado no que ele produz e possui. A vida não é isso. Você vale muito.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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