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Psicopatia: onde está o remorso? – Parte 2 de 2
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Na parte 1 desta matéria, fiz alguns comentários sobre o artigo que a revista "Mente Cérebro”, ano XX, n.º 254 publicou ("Dentro da mente das pessoas sem culpa”), que aborda o assunto da psicopatia segundo os neurocientistas Kent Kiehl, da New Mexico University, e Joshua Buckholtz, da Vanderbilt University.
Características de um psicopata incluem: grave dificuldade de empatia, não percebem sentimentos dele e dos outros, são mentirosos, não sentem remorso por atos violentos que praticaram, manipulam sem culpa, não desejam mudar o comportamento, transgridem com mais frequência e mais cedo na vida, sendo mais violentos do que as outras pessoas, têm emoções superficiais, não se incomodam em abusar das pessoas, são desleais, rompem facilmente relações de amizade, nas quais havia manipulação e não afeto genuíno, têm dificuldade de fazer juízo correto sobre valores morais e éticos, são especialistas em descobrir e explorar a fraqueza dos outros, "podem cair na criminalidade por capricho, envolvendo-se em falsificações, furtos, assaltos e até assassinatos.”(p.35), não controlam seus impulsos. E que "reincidem da criminalidade quatro a oito vezes mais [que os não psicopatas]”(p.34).
É a psicopatia adquirida ou a pessoa nasce com ela? Os autores do artigo da "Mente e Cérebro” dizem que são os dois. A genética explica talvez só até 50% da herança. O resto é aprendido. "Alguns psicopatas são assombrados por uma infância adversa, mas outros são ‘ovelhas negras’ de famílias estáveis.”(p.38). Daí ser importante para lidar-se com a psicopatia e tentar prevenir as consequências ruins na vida adulta deste transtorno mental grave, intervenção bem cedo na vida da criança, mesmo antes de ir para a escola, ensinando-a boas habilidades sociais, desenvolver pensamentos coerentes, positivos, não-agressivos, estimular a expressão de sentimentos, especialmente de compaixão, perdão, arrependimento, carinho, respeito, respeitar os limites, etc.
Vale a pena investir no tratamento destas pessoas o mais precocemente possível, até pelo ponto de vista financeiro. Nos EUA, para cada 10 mil dólares usados no tratamento, se economizam 70 mil dólares para manter o indivíduo na cadeia.
O diagnóstico do Transtorno Antissocial (301.7) conforme o DSM-IV-TR, é feito assim:
A. Um padrão pervasivo de desrespeito e violação aos direitos dos outros, que ocorre desde a adolescência, como indicado por pelo menos três dos seguintes nove critérios:
Fracasso em conformar-se às normas sociais com relação a comportamentos éticos e legais, indicado pela execução repetida de atos que constituem motivo de reprovação social ou detenção (crimes);
Impulsividade predominante ou incapacidade em seguir planos traçados para o futuro;
Irritabilidade e agressividade, indicadas por histórico constante de lutas corporais ou agressões verbais violentas;
Desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia;
Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras;
Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter manipulado, ferido, maltratado ou roubado outra pessoa;
Tendência para enganar, indicada por mentir compulsivamente, distorcer fatos ou ludibriar os outros para obter credibilidade, vantagens pessoais ou prazer;
Em alguns casos, incapacidade de conviver com animais domésticos ou ter apreço pelos sentimentos dos mesmos em geral;
Dissociabilidade familiar, marcada pelo desrespeito ou desapreço.
B. Existem evidências de Transtorno de Conduta com início antes dos 15 anos de idade.
C. A ocorrência do comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de Esquizofrenia ou Episódio Maníaco.
Kiehl e Buckholtz diferenciam os psicopatas dos sociopatas (Transtorno de Personalidade Antissocial). Segundo eles, "somente uma em cada cinco pessoas com transtorno de personalidade antissocial costuma ser psicopata”(p.39). Para outros autores, a personalidade antissocial apresenta sintomas de modo mais explícito e evidente, menos dissimulado que o psicopata. Portadores de personalidade antissocial em geral são mais impetuosos, contestam regras sociais mais diretamente, produzem mais brigas e confusões e parecem estar mais ligados aos crimes do que os psicopatas.
Já segundo o Dr. Ballone, "os psicopatas costumam ser até mais perigosos que os sociopatas, tendo em vista sua maneira dissimulada de ocultar a índole contraventora. Os sociopatas atentam contra as normas sociais mais abertamente que os psicopatas.” http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=72
É difícil tratar psicopatas e portadores de outros transtornos de personalidade porque o caráter está muito comprometido, além de possíveis alterações cerebrais. Pode-se tentar medicação, psicoeducação (psicoterapias), treinamento de habilidades sociais, apoio e aconselhamento espiritual. O menos difícil é prevenir o que tem a ver com a família e intervir precocemente ao surgirem sinais na infância de importantes dificuldades ou alterações na interação familiar e social.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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