Promessas de saúde feitas por candidatos a prefeito e vereador—Equivocadas? Não se iluda povo!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

É erro científico medir a saúde da população pela quantidade de hospitais, postos de saúde, UPAs, ambulatórios e clínicas, particulares ou do governo, quantidade de remédios distribuídos de graça ou genéricos a preços baixos. 
A medicina contribuiu para a eliminação de doenças, mas isto é diferente de saúde. Numa concepção ampla da vida e da saúde a doença física é apenas uma das várias manifestações de desequilíbrio do organismo. Há as doenças psicológicas, sociais e espirituais. “A saúde dos seres humanos é predominantemente determinada, não por intervenção médica, mas pelo comportamento, pela alimentação e pela natureza de seu meio ambiente.” Fritjof Capra, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA, em “O Ponto de Mutação”, p.131, Cultrix. E pela educação que o povo precisa adquirir.
Educação em saúde pode diminuir a incidência de enfermidades. Ensinar a prevenir doenças é o caminho para, a médio prazo, diminuir a incidência de doenças numa comunidade, não é um prefeito governar dentro do hospital, abrir hospital para tratar câncer, ou hospital infantil. Existe a prevenção primária, secundária e terciária. A primária atua para prevenir o surgimento da doença. A secundária atua para tratar a doença já instalada e que tem cura. E a terciária atua para diminuir as limitações, sofrimentos, da doença que não tem mais cura.
Candidatos ao governo que prometem saúde no sentido de criar e/ou melhorar hospitais, UPAs, estão equivocados se querem com isso dizer que a saúde da população irá melhorar. Medicina Curativa é muito importante, mas a Medicina Preventiva é mais importante! Há um ditado que diz que um grama de prevenção vale mais do que um quilo de cura. 
Desde os anos 70, o papel do estilo de vida na saúde, qualidade de vida e longevidade desperta interesse das pessoas e do mundo científico. Há mais de 35 anos, Breslow e Belloc, cientistas norte-americanos, fizeram importante estudo com 6.900 habitantes no condado de Alameda, Califórnia, que completaram extensos questionários sobre seu estilo de vida e foram observadas durante 9 anos para ver quem vivia e quem morria.  Resultado: encontraram 7 hábitos de saúde que se relacionavam com a longevidade: 1. Repouso adequado, 7-8 horas por dia; 2. Tomar desjejum diariamente; 3. Refeições regulares, não comer entre refeições; 4. Moderado uso de álcool ou abstinência; 5. Não fumar; 6. Manter o peso dentro dos limites normais e 7. Atividade física regular. Belloc e Breslow. Relationship of physical health status and health practices. Prev Med. 1972 Aug;1(3):409-21.
O poder do estilo de vida foi também reconhecido pela Organização Mundial de Saúde. “Uma quantidade de doenças crônicas podem ser prevenidas em grande medida mediante mudanças no estilo de vida, entre as quais a alimentação joga um papel decisivo.” Diet, Nutrition, and the Prevention of Chronic Diseases, WHO, 1990, p. 39. 
Quando candidatos ao poder legislativo/executivo enfatizam programas de saúde somente centrados em Medicina Curativa, estão oferecendo ao povo solução paliativa. É um engano! Solução produtiva tem que ver com prevenção primária, educação em saúde. Problemas de saúde como obesidade, hipertensão arterial, colesterol alto, diabetes tipo 2, gravidez indesejada, todos podem ser resolvidos com programas de mudança de estilo de vida e não mais hospitais, medicamentos sintéticos (que ajudam, mas não curam), camisinhas de graça.
O Censo de 2010 (IBGE) mostrou que a taxa de analfabetismo na população de 15 anos ou mais de idade caiu de 13,63% em 2000 para 9,6% em 2010. Maravilha! Em 2000, o Brasil tinha 16.294.889 analfabetos nessa faixa etária, ao passo que os dados do Censo 2010 apontam 13.933.173 pessoas que não sabiam ler ou escrever, sendo que 39,2% desse contingente eram de idosos (www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/11/16/censo-2010-cai-taxa-de-analfabetismo-no-pais). O Instituto Pró-Livro realizou a 2a. edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, (2008) com dados coletados no final de 2007. O levantamento abrangeu 92% da população brasileira a partir dos 5 anos de idade, o equivalente a 172,7 milhões de pessoas. Segundo a pesquisa, 55%—ou 95,6 milhões de pessoas—são leitores de livros, ou seja, leram pelo menos um título nos últimos três meses. Desse total, a metade são estudantes que leem livros indicados pela escola, incluindo os títulos didáticos. Na Argentina e no Uruguai, a média de leitura espontânea é de 4,0 livros por habitante/ano. Na França, esse índice chega a 11, e na Suécia, a 15 (www.leituracorporativa.com.br/open.php?pk=321&fk=13&id_ses=4&canal=26). 
A população do Brasil (fim 2010) era de 190.732.694 de pessoas. Deverão ir às urnas em 2012 cerca de 138 milhões de pessoas (www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm). Quantas sabem ler e podem se informar bem sobre os candidatos? Podemos ajudar os analfabetos dando informações que já sabemos ou podemos obter sobre os candidatos e passar a eles. Assim o voto pode ser mais perto da justiça.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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