Preparo emocional para a velhice

quarta-feira, 09 de julho de 2014

No salmo 71, versículo 9, Davi, pastor de ovelhas e depois rei em Israel, demonstra sua preocupação com a velhice e diz para Deus: "Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampare quando se for acabando a minha força”. O que é possível fazer antes da terceira idade para que, quando ela chegar, possamos estar bem emocionalmente? O que os idosos devem permitir que seus filhos façam para que eles descansem quando a idade avançar?

Davi viu que muitos dos idosos ao seu redor não eram felizes e apresentavam traços ruins de caráter. Notou que quanto mais haviam sido mesquinhos e cobiçosos na vida, isto se acentuava de forma desagradável na velhice deles. Por exemplo: se haviam sido ciumentas, irritáveis e impacientes, tornavam-se assim mais ainda quando mais velhos. 

Ele viu que pessoas nobres, mesmo reis, e mesmo que tivessem respeito a Deus nos anos de vida ativa, se tornavam ciumentos dos amigos e parentes na terceira idade. Temiam que as pessoas tivessem motivos egoístas para com eles. Sua cobiça os levavam a pensar que até seus filhos desejavam que eles morressem para assumirem o lugar deles e ficar com a sua riqueza. Alguns chegavam, segundo Davi soube, a matar seus filhos devido aos sentimentos incontroláveis de cobiça. Você pode achar isto um absurdo, mas vemos algo parecido nos noticiários hoje, quando uma pessoa mata a outra por ciúme, por sentimentos de posse, porque o(a) namorado(a) não mais quis seguir no namoro, por traição. Estes indivíduos, homens e mulheres, perdem completamente o autocontrole emocional, e sendo dominados por sentimentos, cometem crimes bárbaros. O que eles sentiam pela pessoa a quem mataram não tinha nada que ver com amor.

Davi ficou aflito ao presenciar tais coisas. Projetou sua vida para o futuro, e com ansiedade disse a Deus: "Agora também quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus”. Temia que Deus o deixasse e ele se tornaria, então, infeliz como outros idosos cuja conduta ele observava. Sentia a necessidade de se proteger contra os males da velhice.

Um primeiro passo para ter alívio na velhice é admitir que há limitações na sua memória, na sua capacidade de raciocinar, na sua força física. Admitindo as limitações naturais da idade, é possível permitir receber ajuda, a qual deve ser oferecida especialmente pelos filhos. Cabe principalmente aos filhos ajudarem seus pais idosos, que cuidaram deles por muitos anos, com horas de sono perdidas, preocupações, etc. Os idosos que aceitam melhor suas limitações, que deixam de lado o orgulho, agem com humildade e aceitação diante de suas limitações, podem aceitar melhor a ajuda dos filhos e, assim, terem alívio.

Outro passo é evitar ficar ansioso e muito preocupado com seus bens materiais. Não deixe que isto (dinheiro e posses) se torne um ídolo na vida. A avareza destrói a saúde. O idoso deve ter cuidado para não se privar de confortos da vida, quem sabe trabalhando mais do que deveria e precisaria, para ficar poupando devido ao medo do futuro, quando já tem o suficiente para uma vida com conforto com o que realmente necessita (o que pode ser diferente de querer o que não precisa).

Estes medos e ansiedades exagerados minam as forças mentais, prejudicam as funções mais nobres da mente. É possível viver vida simples, com algum conforto, e ser feliz, em vez de viver numa ansiedade incontrolável por medo de perder o que tem ou desejo de ganhar sempre mais. Muitos ricos, com dinheiro para viverem com ótimo conforto duas ou três vidas de 80 anos cada uma, vivem ansiosos, com medos exagerados, porque falta a confiança na vida, falta o desapego material, e porque colocaram seus bens como deuses a quem adoram. Se quiserem, isto pode ser mudado e o alívio e a serenidade podem chegar. Isto depende de escolha pessoal. Escolha de sentar no banco do carona, abrir mão do controle, e deixar Deus dirigir sua vida, em vez do ego focado no dinheiro. E depende, ainda, de pensar em como se pode ser útil para ajudar voluntariamente alguém com aquilo que aprendeu e ganhou com a longa experiência vivida.

Um professor de neurologia da USP – Universidade de São Paulo disse numa entrevista que há três coisas que ajudam a pessoa a prevenir a Doença de Alzheimer: (1) Evitar ressentimentos; (2) Cultivar gratidão e (3) Se envolver em trabalho voluntário.

Por que muitos milionários não desfrutam melhor a vida, vivendo em tensão constante para aumentar seu capital? A explicação vai além do emocional, entra no espiritual. Mas do ponto de vista emocional, pode ser que tenham perdido algo no passado que para eles era muito importante, então ficaram com o que chamamos de estresse pós-traumático, medo excessivo e exagerado de novas perdas. Pode ser por ganância, avareza, por terem um coração materializado, o que faz a família sofrer, além da própria pessoa, porque as coisas materiais não preenchem tudo na vida. As coisas mais importantes são os relacionamentos afetivos com as pessoas queridas e, como disse Davi: "...Tu és a minha esperança, Senhor Deus; Tu és a minha confiança desde a minha mocidade”. 

Deixe quem gosta de você ajudá-lo(a). Peça ajuda. Seja humilde e admita sua necessidade. Desfoque do material. "Não esteja apreensivo pela sua vida, sobre o que irá comer, nem pelo corpo, sobre o que irá vestir. Mais é a vida do que o sustento e o corpo, mais do que o vestuário.” Jesus Cristo (Lucas 12:22,23).


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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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