Por que uma pessoa se suicida?

quinta-feira, 03 de abril de 2014

Pessoas se suicidam porque a vida para elas se tornou insuportável, sem saída, sem significado, porque predomina a dor na sua realidade, vivida como sem opção. O suicida não quer morrer, mas não quer a vida que para ele é insuportável, e não vê outro jeito. O jeito é desligar seu viver atual, sofrido, que para ele já é um não viver. É uma vida-morte. Não é vida. Então prefere morrer.

Anualmente 30 mil pessoas se matam nos Estados Unidos, ou seja, uma pessoa se suicida a cada 18 minutos na 1ª potência do mundo. O suicídio é a 11ª principal causa de morte nos Estados Unidos. Quatro homens morrem por suicídio para cada mulher, mas pelo menos duas vezes mais mulheres que homens tentam o suicídio. Cerca de 80 norte-americanos se matam todos os dias. O número de suicídio de homens brancos entre 15 e 24 anos triplicou desde 1950. O alcoolismo é um fator em cerca de 30% de todos os suicídios. Cerca de 7% dos dependentes de álcool vão se suicidar. (Fonte: Scientific American, Março 2003).

De 60 a 90% dos suicidas sofrem de Transtorno Afetivo Bipolar, que pode levar a pessoa a extremos de euforia e depressão, e na depressão, à morte. Os fatores deste transtorno são ligados à hereditariedade, as experiências traumáticas na vida, estresse agudo, fatores psicológicos muito doloridos, sensibilidade muito forte para questões emocionais, facilidade de ter pensamentos negativos e de desesperança.

Autópsias de pessoas que se suicidaram mostram alterações anatômicas no córtex pré-frontal orbital (acima dos olhos) e no núcleo dorsal da rafe do tronco cerebral. Isto parece ser responsável pela capacidade reduzida de produzir e usar serotonina. Sabe-se que quem tem depressão tem uma baixa deste neurotransmissor nos terminais das células do sistema nervoso central. Parece que a serotonina produzida no núcleo dorsal da rafe é em pequena quantidade e o que chega no córtex pré-frontal é insuficiente para melhorar o estados de humor da pessoa suicida.

Ainda estão sendo feitos estudos sobre a diferença e motivações para o suicídio. Há pessoas que se preparam para se matar, deixando bilhetes, testamentos e até seguro-funeral, enquanto outras se matam inesperadamente, numa decisão péssima, num dia péssimo.

Vários estudos revelaram a falta de serotonina no cérebro de suicidas, mas outros não, e também havia alguns com falta de serotonina numa parte cerebral e em outras não. A maior parte das investigações científicas aponta para o sistema da serotonina no cérebro como o fator principal ligado ao suicídio. Mas ainda precisam mais estudos.

Os antidepressivos são os medicamentos utilizados nas pessoas com depressão e os mais modernos fazem o efeito de procurar aumentar a concentração de serotonina nos terminais dos neurônios. Mas algumas pessoas que se suicidam o fazem mesmo estando em uso destes medicamentos.

Estudos de famílias com suicídios em seus membros indicam que os filhos de pessoas que tentam o suicídio têm um risco seis vezes maior de se matar que os filhos de pais que nunca tiveram esta intenção. Isto mostra que há uma influência genética, mas ela não explica tudo.

Afinal, que dor emocional é esta que o suicida sente que lhe parece insuportável? Que tipos de pensamentos tão pessimistas e de desesperança que eles nutrem e originados em que tipos de perdas, reais ou imaginárias, que eles se concentram, que fazem sua mente ficar tão nublada, tão sem cor, tão sem sentido o viver, que o único sentido é o nada: a morte? Cada um tem sua história e algumas delas talvez nunca serão perfeitamente compreendidas nessa vida.

Uma reportagem mostrou depoimentos de pessoas que tentaram suicídio e algo falhou na hora e a pessoa não morreu. Sabe o que todas disseram sobre o que pensaram e sentiram na hora em que deram o passo para se matar? "Me arrependi!”

Se você está pensando em suicidar-se, pense que há saída, mesmo que você não a veja e não acredite que ela exista. Existe. Seu estado de humor neste momento não pode ser o padrão para seu julgamento da realidade porque seu cérebro está neuroquimicamente comprometido. Há um circuito cerebral produzindo ideias suicidas. É um circuito defeituoso. Mas você pode pensar. O que é bom passa. Mas o que é ruim também passa. Pense nisto. Não olhe para seus sentimentos de desesperança. Se abra com alguém. Telefone para alguém e fale do que sente. Peça ajuda a um parente, amigo, médico, psicólogo, líder espiritual. Não fique sozinho(a) nas horas de mais pressão dos pensamentos suicidas. Saia de casa e vá conversar com alguém. Faça uma oração pedindo ajuda a Deus. Isto também vai passar. E se não há como restituir o que você perdeu, há com certeza a possibilidade de você se adaptar com a perda de maneira que ela não será tão dolorosa o resto de sua vida. Isto é verdade. Acredite. 

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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