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Por que as comédias românticas e novelas prejudicam a vida afetiva das pessoas
Será possível ficar totalmente imune ao que você contempla todos os dias da semana, por uma hora pelo menos, no comportamento de personagens de novelas? Tem alguma roupa, penteado, óculos, sapato, jeito de falar, tipo de palavras, atitudes, que você adotou em seu estilo de vida e que absorveu de algum personagem de novela? Será que realmente há prejuízo para nossa saúde emocional esta contemplação diária destes personagens novelescos?
Tudo aquilo que a gente vê influencia de alguma forma a nossa maneira de pensar, sentir e agir. É certo que algumas pessoas são mais influenciáveis do que outras e que estão mais conscientes da influência daquilo que entram em contato do que outras e, portanto, conseguem filtrar e se proteger bem das influências maléficas do que há na mídia.
Porém, pessoas mais influenciáveis, sem força de caráter, sem habilidades mentais para administrar sua própria mente, adotam comportamentos observados nos personagens de novelas (pela constante e diária contemplação dos papéis deles). Muitos aspectos do comportamento destas pessoas são, então, influências diretas (ou indiretas) das comédias românticas e, em maior frequência, das novelas.
Algumas diferenças entre o que os filmes românticos e novelas apresentam sobre relacionamentos e a vida real são:
1. Comédias românticas e novelas apresentam relacionamentos com 100% de romance, intimidade física e paixão, passando uma mensagem subliminar de que é tudo felicidade se há sexo e paixão, enquanto que na vida real, relacionamentos passam por crises e precisam do esforço do casal para enfrentar estas crises e resolver conflitos.
2. Comédias românticas e novelas mostram que o casal feliz normalmente se compreende simplesmente pelo olhar e ambos apresentam uma sintonia de pensamentos, enquanto que na vida real é preciso construir uma comunicação verdadeira e objetiva com o parceiro e isso exige tempo e esforço.
3. Comédias românticas e novelas pregam muito a ideia de destino, alma gêmea e amor à primeira vista, como se existisse somente um par perfeito para cada pessoa e o amor fosse algo natural de surgir desde o início. Na vida real as pessoas podem ter dificuldade em aceitar que com qualquer pessoa que se relacionarem, haverá diferenças e a necessidade de ajustamento entre o casal mesmo em casais que são felizes juntos, e estas diferenças não significam que a pessoa não seja adequada.
4. Comédias românticas e novelas incentivam a demonstração pública de afeto com beijos e carícias exagerados em meio à multidão. Na vida real indivíduos podem não respeitar pessoas discretas que não aprovam beijos e carinhos intensos em público.
5. Comédias românticas e novelas mostram que conflitos, traições e decepções no relacionamento são superados com muito mais facilidade do que na vida real, induzindo o telespectador ou casais a crerem que se um conflito está sendo difícil de ser solucionado, a solução é a separação ou o divórcio de uma maneira fácil, quase como se o rompimento da família fosse algo banal e sem importantes repercussões emocionais nos membros dela.
Por estas razões, é importante que as pessoas tenham a consciência da realidade dos relacionamentos. Eles podem, sim, ser satisfatórios e felizes, mas satisfação e felicidade não são adquiridas facilmente. Exige esforço e tempo. Isto as comédias românticas e novelas não enfatizam, ou quando o fazem, se perde a mensagem no meio da preponderante ênfase sobre as separações, divórcios, além das agressões físicas e verbais, gritarias, crises histéricas, modelos de comportamento, aliás, bem doentios. Evite contemplar tais modelos. Nos tornamos parecidos com aquilo que mais contemplamos.
Thais Souza, psicóloga clínica, conselheira da Rede Novo Tempo de Comunicação, em parceria com Dr. Cesar V. Souza
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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