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O que não é dito… ou talvez nem percebido - 16 de junho 2011
“E conhecerei a verdade, e a verdade vos libertará”. Jesus Cristo.
Lidar com pessoas é um desafio, no trabalho, na família, na comunidade, etc. O sábio rei Salomão até escreveu: “Deus fez o homem e a mulher perfeitos, mas eles criaram muita confusão.” Eclesiastes 7:29 (tradução livre). Nós complicamos as coisas por orgulho, desejo de exaltação própria, egoísmo, ignorância (falta de conhecimento), mas especialmente por causa da inconsciência de nós mesmos.
As pessoas chamadas “normais” agem no dia a dia meio que no automático e com a tendência de ter um comportamento em que primeiro faz e depois pensa. Há também os que pensam para depois agir, mas mesmo assim podem ter pouca ou nenhuma consciência de si mesmos.
Certa vez queria encaminhar um casal para uma psicóloga atender. Fiz contato com ela, perguntando se atendia casais. A resposta dela foi “não” e justificou: “Lidar com um só inconsciente já é difícil, imagine lidar com dois!”. Concordo com ela. Mas o que ela quis dizer com isto? Vamos ver.
Chico Anísio e Jô Soares faziam um quadro humorístico engraçado. O papel deles era de “coronéis” do nordeste, aqueles prepotentes que se acham donos do mundo. Um queria atacar o outro, mas a conversa, aparentemente amigável, versava sobre, por exemplo, os animais de um que haviam invadido o pasto do outro. Então, um dizia para o outro: “O seu bode é safado!”. O outro respondia: “Não, o meu bode não é safado. O seu boi é que é muito safado!”. Ou seja, o que não era dito era a verdade que nenhum dizia abertamente para o outro.
Nós não estamos prontos para a verdade sobre nós mesmos quando queremos, mas quando podemos. Uma coisa é a capacidade intelectual de uma pessoa, e outra é a emocional. Diana Fosha, Ph.D., da Universidade Adelphi, nos EUA, usa o termo “competência emocional”. Daniel Goleman, professor de Harvard, fala de “inteligência emocional”. Leigh M. Vaillant, psiquiatra também de Harvard, fala de “ter as emoções sem deixar que as emoções tenham você.” Ou seja, estes cientistas explicam que saúde mental tem que ver com a administração do psiquismo, com aprender a usar a razão e a emoção de maneira equilibrada, com vibração, mas com serenidade, sem pender para o muito racional ou muito emocional.
Aprender a lidar com nosso inconsciente é tarefa árdua. Dura a vida toda. Infelizmente grande parte das pessoas não se interessa por este aprendizado. Vivem no “automático”, e, como disse Salomão, “criam muita confusão” nas relações humanas. Isto é algo comum no casamento, entre pais e filhos, filhos e pais, sogro e sogra com genros e noras. E é muito difícil quando se tem algo a dizer, mas a pessoa não está pronta para ouvir a verdade. O que você faz, nestes casos? Parece que a única saída humana é viver sua vida, colocar limites, não se deixar ser abusado pela pessoa inconsciente, e pedir a Deus que atue na mente dela para amadurecer naquele aspecto para que enxergue e mude para melhor.
O inconsciente é uma área virtual em nossa mente onde estão armazenados fatos, pensamentos, emoções, imagens, dos quais não lembramos quando queremos, mas quando estamos prontos. A pessoa tem que querer a verdade sobre si mesma para ter acesso ao inconsciente. E isto pode doer. A verdade sobre si mesmo pode realmente doer, porque é tarefa muito difícil ver nossos defeitos de caráter e encará-los para vencê-los, ao invés de negá-los.
Um pensamento que li certa vez dizia: “Primeiro de tudo, olhe-se a si mesmo. Depois… olhe-se de novo.” Perguntas a serem feitas por cada um de nós, se queremos amadurecimento é: Qual é o meu problema inconsciente? Qual meu defeito de caráter que eu mesmo ainda não enxergo? Ainda que a pessoa com quem eu vivo tenha complicações, como viver minha vida com liberdade sem deixar que ela me domine e sem eu querer dominá-la?
O que se faz inconscientemente no dia a dia para se tentar obter afeto é muita coisa. Vai desde um sorriso forçado, até aumentar sua empresa. Nosso inconsciente sabe disto. E nós?
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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