O que é psicoterapia?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

As pessoas sofrem do fígado, dos pulmões, dos intestinos, mas também das emoções, dos pensamentos, das atitudes.

Você pode ter pensamentos distorcidos, pode predominar em sua mente pensamentos pessimistas, agressivos, depressivos, autodepreciadores, de prepotência. Pode ter sentimentos desagradáveis uma boa parte do tempo, emoções descontroladas, e também pode ter atitudes habituais agressivas, autoritarismo, passivas, negligentes, etc.

Assim como um órgão do corpo adoece, a mente também adoece. A mente é composta de pensamentos, sentimentos e escolhas (atitudes, atos). E estes componentes da mente podem adoecer. Na verdade não há ser humano que seja cem por cento normal em termos mentais. Uns são mais racionais, com dificuldade de sentir o sentimento. Outros são mais emocionais, com dificuldade de serem racionais quando isto seria adequado. Uns são muito proativos, enquanto outros são passivos e só funcionam “no tranco”.

A psicoterapia (psico = mente, terapia = tratamento) é um tratamento de sofrimentos mentais usando-se a palavra, de forma individual ou em grupo. É praticada por psicólogo clínico, médico psiquiatra ou outro médico com formação e treinamento em psicoterapia.

Desde o início da humanidade, após a queda espiritual no Éden, nunca mais existiu uma família perfeitamente equilibrada, nem infância perfeita em que as crianças pudessem ser criadas por pais perfeitos. Mesmo amando nossos filhos, erramos, e estes erros machucam a mente da criança, como uma martelada no dedo machuca. O machucado pode ser pequeno, médio ou grande. Você martelar o dedo, ao pregar um prego e apenas ter a dor. Pode bater e ficar uma marca e inchar. Ou pode bater e fraturar o osso do dedo.

Uma criança pode sair da infância com feridas emocionais de intensidade e frequência diferentes. Algumas vieram de lares complicados, com mães descontroladas emocionalmente, pais ausentes, divórcio, alcoolismo, etc. Outras vieram de famílias mais ou menos equilibradas, sem grandes traumas. Cada criança tem uma capacidade diferente de resistência aos traumas. Numa mesma família com um mesmo problema (por exemplo, um pai alcoólico violento), um filho pode reagir de uma maneira muito sofrida, enquanto outro pode ter melhor resistência e conseguir lidar melhor com isto.

Os traumas que afetam a vida emocional do adulto são vividos em geral na infância. Trauma é quando a criança não conseguiu ser ela mesma, por viver num ambiente abusivo, complicado, tendo que reprimir emoções e pensamentos saudáveis. Na maioria das pessoas que procuram psicoterapia, o problema principal tem a ver com uma necessidade afetiva mal resolvida, mal suprida ao longo dos anos da infância. Uma criança pode crescer com carência afetiva tão complicada para a vida emocional e de relacionamentos quanto uma carência vitamínica pode complicar a saúde física.

A falta da devida nutrição afetiva na infância gera na pessoa defesas contra a dor (angústia, medo, vergonha, tristeza). Quando uma criança procurava o afeto do pai ou da mãe no passado infantil, e estes pais não estavam disponíveis para isto (embora fossem trabalhadores e bons cuidadores fisicamente – alimentação, higiene, levar em médico), ela foi aprendendo que era melhor fingir que não tinha necessidades ou desejos de afeto (abraço, beijo, elogio, valorização, companhia), construindo uma defesa, uma barreira conta a experiência da dor repetida ou da rejeição, ou sensação de rejeição.

Esta defesa faz com que a pessoa se encolha e retraia uma parte do seu ser. Ela se perde até certo ponto, perde a autenticidade, a genuinidade, e isto produz sintomas na vida adulta (ou mesmo na infância e adolescência) como depressão, algum transtorno de ansiedade, hiperatividade, compulsões, fobias, timidez, dependência química.

Então, para estes transtornos há tratamento medicamentoso que pode apenas aliviar os sintomas (diminuir a ansiedade ou angústia, diminuir a tristeza, ajudar a dormir melhor), mas se faz necessário, na maioria dos casos, o tratamento psicoterápico também com o fim de atingir a causa dos sofrimentos emocionais.

Neste tratamento psicológico chamado “psicoterapia”, a meta não é confortar os pacientes pelo amor, carinho e atenção que eles não tiveram de uma maneira boa na família de origem, mas sim ajudá-los a aprender a lidar com seus sentimentos ligados ao fato de não terem tido estas atitudes carinhosas. Ajudamos a pessoa a ver que tipos de defesas elas usam contra os sentimentos dolorosos, defesas que eram necessárias no passado, mas que agora não mais são saudáveis e que bloqueiam uma vida mental melhor. As defesas contra a genuinidade interior (o eu verdadeiro) precisam ser vistas como a melhor maneira que a pessoa conseguiu para lidar com situações dolorosas. A psicoterapia procura ajudar na reestruturação destas defesas para que a pessoa dê passos para uma melhor liberdade do ser (existir). O medicamento trata a consequência, e a psicoterapia trata a causa.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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