O que é desequilíbrio mental? - 6 de outubro 2011

sexta-feira, 06 de abril de 2012

Nossa mente é formada por pensamentos, sentimentos e ações. Saúde mental depende do equilíbrio entre o pensar, o sentir e o agir. Possivelmente, não há nenhum ser humano que tenha um equilíbrio perfeito entre estas dimensões mentais. Alguns estão ativamente num processo de amadurecimento. Outros estão acomodados com o que são.

O que é, então, uma pessoa com desequilíbrio emocional? É a que ainda não aprendeu a usar seus pensamentos, sentimentos e ações de maneira que a mente funcione bem consigo mesma e com os outros. Há diferentes níveis de desequilíbrio emocional. Há níveis com maior ou menor desestruturação do eu.

Em termos práticos, uma pessoa com desequilíbrio emocional pode ser alguém que com frequência tem atritos no trabalho, na família. Pode ter reações emocionais fortes demais, como ficar nervoso(a) com facilidade, perder o controle e agredir verbalmente as pessoas com facilidade. Ou pode ser alguém superfechado, que se apega demais à uma ou duas pessoas no máximo, sendo muito sensível para questões de afeto, para aquilo que interpreta como rejeição.

Há um tipo de pessoa com desequilíbrio emocional chamada de “histérica”. Séculos atrás o médico grego Hipócrates estudando o comportamento humano, verificou que as mulheres apresentavam muito mais do que os homens, um tipo de “crise” com desmaio aparente, forte influenciabilidade emocional, oscilando muito entre uma emoção e outra, e com sintomas físicos que não eram de origem biológica, como paralisia, cegueira, surdez, que voltavam ao normal após a “crise” emocional passar, etc. O Pai da Medicina, então, pensou que isto poderia ser consequência de problemas na circulação entre o útero e o cérebro. Daí usou o termo “histeria” porque “hystera” significa “útero” em grego, e já que a maioria das pessoas com este tipo de crise era composta de mulheres, ele chamou esta crise de “histeria”. Pessoas histéricas são supersensíveis para qualquer coisa que possa representar rejeição para elas. Daí reagem com desmaios, gritos, chamando a atenção das pessoas do ambiente, “passando mal”, etc.

Uma pessoa muito fria, insensível, que não expressa sentimentos, muito racional, calculista, também apresenta um desequilíbrio emocional que é, justamente, este bloqueio dos sentimentos quase que total.

Um desafio para as pessoas com desequilíbrio emocional é aprender a administrar suas emoções. Tem gente que administra otimamente uma empresa, um Estado ou uma nação, mas não sabe administrar suas próprias emoções.

Recentemente uma mulher administradora de empresas me disse: “Já pensou uma administradora que se emociona?”. Ela queria dizer que as duas coisas são incompatíveis numa empresa, ou seja, ou você administra com racionalidade e emoção zero para obter sucesso, ou você vive muitos sentimentos no trabalho e isto, segundo ela, atrapalha o crescimento econômico. Será que todo bom empresário, então, é uma pessoa fria emocionalmente? Para ser bom empresário, é necessário ser não afetivo com os funcionários? Tem que ser uma máquina onde não há sentimentos?

Uma dica para se obter equilíbrio emocional é aprender a olhar a si mesmo, ver suas emoções, seus pensamentos muitas vezes esquisitos, como algo em si mesmo, e não como a pessoa total. Você tem que dar uma olhada para seu desequilíbrio e dizer para si: “Puxa, olha só! Já vem aquela reação emocional de novo em minha mente querendo me perturbar! Mas não vou permitir isto. Posso fazer uma força para usar meu lado mental saudável e impedir que esta onda de desequilíbrio [frieza, histeria, agressão verbal, pegajozidade, manipulação, “nervosismo”, medo, etc.] tome conta de mim”.

Pense numa coisa: você tem um lado saudável em sua mente. E é este lado saudável que precisar ser usado para controlar o lado imaturo, desequilibrado, desajustado. Repito: você não é o desequilíbrio. O desequilíbrio é algo em você, é só uma parte da sua mente, não é o todo. É preciso fazer exercícios com esta parte saudável para ela ser fortalecida e dominar a parte doentia, desequilibrada. Como se faz isto? Pensando, refletindo, admitindo que há o desequilíbrio em você, independente de como as pessoas lhe tratam. E decidindo proteger a si mesmo desta parte desequilibrada através da auto-observação e ação para funcionar de maneira diferente e melhor. Você terá que dizer para si: “Este mal-estar vai passar. Posso conviver com ele. Ele não tem que de dominar. Vou me concentrar em outra coisa”. Vá realizar alguma tarefa útil em seguida. E tenha paciência com você mesmo, até que o desequilíbrio diminua e você passe a ser o administrador de si mesmo, de sua vida mental consciente.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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