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O desejo da mulher desejar o homem - 17 de fevereiro 2011
É comum a mulher se referir a querer estar junto com um homem (namorado, noivo ou marido). Há uma qualidade de “estar junto” que é específica do gênero feminino. Será ela igual no gênero masculino? E, se não for, como encontrar harmonia entre a mulher e o homem numa relação afetiva?
O homem que gosta da companheira quer estar com ela. Mas será possível “estar junto” do jeito que ela quer? A mulher quer estar “junto” com seu amado, mas se ele não percebe como é isto e se não vive isto na prática do relacionamento, parece que o resto não importa muito para ela. E o resto pode ser muito na avaliação do homem, que fica confuso, talvez irritado e com um sentimento de injustiça, já que ele pode estar fazendo ou ter feito realmente muita coisa concreta para o bem-estar desta mulher. Parece que ela quer saber se ele está nela com a alma, com o espírito, com a emoção, com o pensamento, com o desejo… e com que mais? Se ela sente que ele não está como ela deseja, todo o “resto” que ele fez e faz por ela pode não ter importância na mente dela.
Como muitos de nós (todos?) homens diríamos, e até Freud disse: Afinal, o que as mulheres querem? Como é este “estar junto” que as mulheres normais desejam? Elas dizem que têm que ver com tomar refeições juntos, escolher um novo móvel da casa juntos, decidir juntos onde passar as férias, passear juntos, ir à igreja juntos, visitar um parente juntos, assistir um filme juntos. Mas, é mais que isto, dizem elas. Parece que é ele ter uma qualidade de querer a mulher de maneira que ela se torne exclusiva, a pessoa mais importante na vida dele, é ele pensar nela, lembrar dela, sentir falta dela, desejá-la mais que tudo. Parece que ela quer não só o companheiro, mas quer o desejo absoluto dele por ela.
Será que ele quer o desejo dela como ela quer o dele? Será que há diferença entre o homem desejar a mulher afetivamente e o homem desejá-la como ela deseja? Será que o jeito da mulher desejar um homem pode existir no jeito do homem desejar a mulher? Dá para ser igual? Alguém disse que o homem deseja a mulher, e a mulher deseja o desejo do homem. Se isto é verdade, será, então, que o homem deseja menos e a mulher deseja demais? Qual o equilíbrio do afeto?
Como você se sente se seu marido (namorado, noivo) deseja você, mas não do jeito que você deseja que ele deseje? Como isto afeta seu relacionamento com ele? Você fica nervosa, irritada, ciumenta, cobradora, rabugenta? Finge que não liga? Vai desistindo do relacionamento com ele e começando a fantasiar como seria com outro homem? Fica pensando num ex-namorado, que parece que teria o tipo de desejo por você que você quer hoje e não tem? Se envolve com outro homem na busca de ter o desejo dele por você melhor do que o jeito de seu marido (namorado, noivo) desejá-la? Depois que passa a paixão dos amantes (pessoas casadas que têm relação extra-conjugal), a qual em geral dura em média dois anos, e a rotina se estabelece, a forma de desejar de ambos se iguala?
Será que o homem deseja mais o trabalho e o sexo do que a pessoa da mulher? Ou será que o desejo dele se divide e pode ser separado como gavetas de um armário, onde haveria a “gaveta” do sexo, a do afeto por ela e a do gosto pelo trabalho (claro, sem falar em filhos, outros parentes, amigos)? Será que a mulher quer que o desejo do homem por ela seja como se ela fosse o “armário”? Será que o homem consegue ter um desejo pela esposa como ela quer e não desejar tanto o trabalho? Mulheres disseram que se ele der atenção a ela e valorizá-la, então ela ficará feliz com ele. Mas como é esta qualidade de dar atenção a ela e valorizá-la? Se ele fizer isto, conseguirá atingir o ponto de desejo por ela que a satisfará?
Para refletir sobre estas questões e começar a tentar encontrar respostas coerentes e sadias, há outras questões, como, por exemplo: Quem é esta mulher? Quem é este homem? São pessoas muito carentes afetivamente? Têm boa consciência de suas dificuldades emocionais pessoais? Ou acham que o problema é só do outro? Estão dispostos a amadurecer ou já se acham completos e perfeitos? Ficam agressivos quando não conseguem o afeto que desejam, ou tentam raciocinar e conversar construtivamente? São dependentes demais? São independentes demais? Querem ser felizes ou ter que ter razão? São obsessivos por companhia, por sexo, por romance? Tiveram muitos traumas na infância ainda muito mal entendidos e resolvidos? São pessoas manipuladoras, mentirosas, controladoras, ou promovem liberdade, verdade e chance do outro escolher e ser? Há, entre adultos lúcidos, uma grande diferença entre ser responsável pelos outros e ser responsável para com os outros.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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