O anseio pela justiça

Há alguns anos conversando com uma advogada, falávamos sobre o conceito de justiça, quando ela me perguntou com um ar de certa ironia: “O que é justiça?” Como não sou advogado, vou colocar conceitos não jurídicos e pessoais aqui. Justiça parece ser a busca da aplicação da verdade para uma situação de tal maneira que se esta verdade mostra erros no comportamento do indivíduo em julgamento, ele precisa pagar por isso, sofrendo alguma penalidade. Se, por outro lado, a verdade mostrar que ele não tem nada que ver com a acusação, então a justiça se faz com a não condenação, a não penalização da pessoa.

Também podemos pensar em justiça como sendo algo interno, na pessoa, no caráter. Podemos dizer que uma pessoa tem caráter justo, ou não tem. Não pode, então, a justiça ser um dos componentes do caráter? Uma pessoa de bom caráter tem justiça, é justa, e uma pessoa de mau caráter não tem justiça, é injusta. Neste contexto, justiça não é somente algo que se faz, mas também o que a pessoa é.

O povo brasileiro anseia pela justiça num país dominado quase que totalmente pela injustiça. O aspecto social afeta a saúde mental da população. Saúde mental tem que ver com a dimensão física, psicológica, familiar, social e espiritual do ser humano. Social também. Até existe uma especialidade que se chama “Psiquiatria Social”. Não se pode viver num ambiente de injustiça e ter saúde mental.

Felizmente alguma justiça começa a ser feita em nosso país com a prisão de líderes políticos, empresários, e outros indivíduos que cinicamente, sem escrúpulos, movidos pela ganância, têm produzido prejuízos para a nação e para os brasileiros.

Você anseia pela justiça social? Você anseia pela justiça pessoal? O que é justiça pessoal? É ser uma pessoa justa. O que é ser uma pessoa justa, que tem justiça? Não é só aquela que paga salários justos, e nem só são os empregados que fazem um bom trabalho pela empresa ondem trabalham. É mais que isto.

Justiça pessoal pode ser definida como pureza de caráter, não maldade, ausência de malignidade da estrutura do caráter de uma pessoa. Acredito que as pessoas que estão mais perto deste tipo de justiça são as crianças. Elas estão mais próximas da verdade, da justiça, da sinceridade, da honestidade. Não é sem razão que Jesus Cristo disse que para um adulto entrar no reino dos céus será preciso se tornar como uma criança. Como assim, se tornar como uma criança?

Entendo que ele quis dizer se tornar uma criança no sentido da não maldade, da justiça. Sem isso, é impossível uma pessoa ter paz mental, caminhar no rumo da felicidade. O que um corrupto que está preso dirá para seu filho, filha, neto, neta que ainda é criança sobre o motivo de ter ido para a cadeia? Será que falará que foi preso injustamente, com todas as provas inegáveis de sua culpabilidade? Será que dirá: “Papai (ou vovô) está preso porque roubou do povo brasileiro?”

Será que o injusto, o que é dominado pela ganância, pode ser justo ao definir sua condição de presidiário e ser verdadeiro? Pode a justiça sair da injustiça? Sem mudança de caráter para melhor não tem justiça. Um individuo mau caráter tem uma compulsão para a injustiça. O dia em que ele, ou ela, compreender que os atos injustos praticados por ele, por ela, primeiro de tudo machucam a si mesmos, e não mais querer isto, terá dado um grande passo para a recuperação, e para a busca da justiça, externa, na família e na sociedade, e interna, dentro de si.

Um poderoso traficante foi entrevistado por um jornalista. Respondendo a pergunta do jornalista sobre o que a droga havia dado a ele, o traficante falou de carros caros, iates, helicópteros, mansões etc. Em seguida, o jornalista fez a pergunta: “O que a droga não te deu?”. O bandido abaixou a cabeça, ficou uns segundos em silêncio e respondeu: “A droga não me deu a paz.” Ele não tinha justiça nem por fora e nem por dentro. Você faz justiça? Você é uma pessoa justa?