A noite ainda volta

O planeta Terra veio da escuridão. Ele era sem forma e vazio. Havia trevas. Em seguida veio a luz. Mas, interessante, não foi a luz do sol! A luz do sol não muda o caráter maligno dos corruptos. Um ser humano, antes de nascer e estando na barriga da mãe, está na escuridão. Depois ele vem à luz. Cada dia, na verdade, começa com tarde, com escuridão, e depois vem a parte clara, a luz, a manhã.

Na vida emocional é assim também. Na luta com a angústia que todo ser humano possui, é assim também. Primeiro vem a escuridão, depois vem a luz. Primeiro vem a angústia, depois vem o alívio dela. Ou a força para lidar melhor com ela.

Mas não há pessoas sem angústia? Não há tanta gente corrupta que fez riqueza pela fraude que parece viver uma boa, sem depressão, sem angústia? Parece. A mente de uma pessoa maligna, maldosa, mentirosa, fraudulenta, corrupta, acaba ficando cauterizada a ponto de ela perder a noção e a valorização do honesto, do correto, da justiça, e ela vive só no dia, não conhece a noite que descansa, ainda que durma bem. O descanso pelo sono é diferente do descanso da espiritualidade (do coração espiritual, esta parte mais profunda da mente humana).

Uma mente cauterizada não sabe que não conhece a luz que produz serenidade. Ela pretende estar feliz, serena, sem angústia, mas há um bloqueio na mente dela porque ela enganou-se, fugiu tanto da verdade e da justiça, que não discerne mais com sanidade.

Saúde mental depende de discernimento. Depende de honestidade emocional. Depende de aprender a ser resiliente, flexível, compassivo, justo, honesto. Sem isto o que há é uma falsa saúde mental. O cérebro sabe disto. Ele não é burro. E ele tem que morrer para alguns aspectos saudáveis do organismo, do discernimento da luz da vida, porque seu dono, mantendo-se corrupto, está dizendo para sua própria mente: Apaga a verdade da minha consciência porque não quero pensar nisto. E às vezes o cérebro obedece com tanta submissão que desliga demais algumas funções importantes do Sistema Nervoso Central. Daí a pessoa pode ficar fria emocionalmente, autoritária, sem noção da sua agressividade, irritadiça e impaciente ao extremo, confunde mentira com verdade, dá desculpas esfarrapadas para o pecado e na cara de pau ainda vai na igreja tomar a comunhão ou participar de algum culto. E pode demenciar mais rápido.

A noite pode ser um descanso das lutas do dia. Mas será um bom descanso para a pessoa coerente com as verdades do psiquismo normal, da fisiologia cerebral normal, da neurotransmissão normal. Ela pode dormir em paz. Assim o cérebro realmente descansa. A melatonina aumenta de madrugada para funcionar no seu melhor no encéfalo. O cortisol fica num nível baixo na noite para não estressar o organismo.

Na nossa vida sempre experimentamos momentos difíceis e momentos agradáveis. O que sentimos de prazeroso não dura muito tempo. Mas, felizmente, a dor também não precisa ficar o tempo todo porque a noite chega e promove o descanso para os que favorecem este descanso.

A maioria dos sofrimentos mentais podem ser melhorados com a psicoeducação, isto é, sair do dia (“Eu penso que sei guiar minha vida e lidar com minhas emoções”), para chegar na noite do descanso (“Eu pensava que me conhecia, mas agora vejo melhor que não”). E a psicoeducação tem a ver com aprender a conhecer e lidar com suas emoções, com seus pensamentos, detectando quais são doentios, disfuncionais, distorcidos, a fim de poder corrigi-los conscientemente, racionalmente. Não é fácil.

Psicoterapia é sentar com alguém treinado para ajudar você a conhecer a verdade sobre seus sofrimentos. Pode ser algo doloroso que a maioria foge de pensar e prefere tomar algum remédio e não precisar pensar, raciocinar, refletir, meditar. Muitos preferem ficar no dia, curtir a vida nos contatos virtuais, nas baladas que deixam um vazio depois, nas drogas que machucam o cérebro. Bem, cada um escolhe.

Mas a noite sempre volta para lhe dizer: Você quer descansar? Você quer a verdade ou prefere ficar nessa vida corrupta, estressante, idiota? A noite é uma boa hora para você parar e pensar. E escolher se quer uma vida digna, que faz sentido para o bem, que promove o alívio do sofrimento das pessoas, que favorece a justiça social e que ilumina outras vidas. Você tem a escolha. Boa noite.