Neurociência e Religiosidade

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

As neurociências estão agora começando a compreender a importância da dimensão espiritual para a saúde mental e física das pessoas. A Medicina, influenciada pela visão dicotomista do pensamento grego, tende a separar corpo de mente, como se uma enfermidade física não tivesse nada que ver com a mente. Corpo e mente são uma unidade inseparável. Quando um adoece, o outro se ressente.

A Psicossomática é o ramo da Medicina que estuda as relações entre corpo e mente para a saúde e doença. Estuda como o corpo é influenciado pela mente humana. No fundo, toda doença é psicossomática, independentemente se o fator causador tem origem no corpo ou na mente. A fratura de um osso é uma doença traumática originada, claro, no corpo, no osso quebrado. Mas a quebra de um osso também afeta a mente, porque a pessoa pode, por exemplo, ficar ansiosa sobre as sequelas desta fratura.

Por outro lado, quando morre uma pessoa que você amava muito, não é incomum haver, no processo de luto psicológico, a queda da força do sistema imunológico no combate aos vírus e bactérias e a pessoa desenvolver uma infecção sem estar ocorrendo epidemia e sem contágio externo. Neste caso a tristeza afetou a eficácia imune.

Agora, as neurociências falam da importância da religiosidade para a saúde. Autoridade mundial em saúde e espiritualidade, o Dr. Kenneth Pargament, professor da Bowling Green State University, nos Estados Unidos, diz: “Existe uma lacuna na forma por meio da qual os profissionais de saúde mental têm abordado seus pacientes; a espiritualidade tem sido negligenciada por anos. Felizmente, esse cenário começou a mudar, e temos aprendido novas e empolgantes maneiras de integrar a espiritualidade à psicoterapia.” (Mente e Espírito, Alberto Nery, doutorando em Psicologia Social pela USP, RA, p.15, Maio 2018).

Uma pessoa religiosa pode ser ajudada em suas lutas emocionais ou conflitos mentais por pertencer a uma comunidade religiosa. Isto produz um senso de pertencimento comunitário, ou seja, ela se sente alguém que pode contribuir para o bem da comunidade. E um fator eficaz para a melhora e prevenção de doenças mentais tem que ver com você fazer algo bom para outro indivíduo, gratuitamente, de forma voluntária.

Ser membro de uma comunidade religiosa e buscar crescimento espiritual ajuda na saúde física e mental porque o convívio comunitário, “proporciona acolhimento e motivação para enfrentar as dificuldades da vida.” (Alberto Nery, citado acima). Dr. Harold Koenig, professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Duke, EUA, em seus estudos sobre saúde mental e religião, mostra que a prática religiosa produz melhora na saúde geral do indivíduo (“Medicina, Religião e Saúde”, 2012).

Numa entrevista publicada no site da Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz – pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, conduzida por Eliane Bardanachvili, falando sobre perigos quanto ao uso de antidepressivos, o pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Laps/Ensp/Fiocruz) e presidente honoris causa da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), Dr. Paulo Amarante afirmou: “Uma das marcas da ciência moderna é romper com essa explicação simplista de causa efeito, e, nesse caso, de que a causa do transtorno é uma alteração bioquímica. O homem é um ser complexo, e as alterações bioquímicas não seriam causa, nem necessariamente efeito. É algo simultâneo; o homem pensa a partir de processos simbólicos e neuroquímicos ao mesmo tempo. A teoria do distúrbio neuroquímico vem sendo criticada desde a década de 1970, e só não cai devido a um forte interesse mercadológico. No caso dos antidepressivos, principalmente, pesquisas muito sérias mostram que eles têm efeito igual ou inferior ao placebo, à psicoterapia ou a outras abordagens não científicas, como as religiosas. Há ainda os grupos comunitários que se organizam para dar suporte, os amigos...” www.cee.fiocruz.br/?q=node%2F584

Viktor E. Frankl, sobrevivente de um campo de concentração nazista, enquanto estava no inferno daquela prisão, como médico psiquiatra, se esforçou para pensar no que poderia fazer pela humanidade conseguindo sair dali com vida. Admitiu, ao viver aquela situação dramática de sofrimento, que “a religião é fonte de significado para a vida e fator determinante no fortalecimento das faculdades mentais.” (Alberto Nery, citado acima). Ele fala disto no seu livro “Em Busca de Sentido” (Vozes 2008).

Cultive a espiritualidade que é a busca de comunhão com o Criador do Universo, para obter sentido, iluminação, paz interior e forças para viver uma vida digna, útil, que faz sentido. As neurociências reconhece que isto é bom também para sua saúde mental.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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