Mulher amorosa ou egocêntrica? - 11 de agosto 2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

No casamento, forças inconscientes, maduras e imaturas, bondosas e maldosas, emocionais e espirituais, influenciam a vida do casal. Cada um leva para dentro do relacionamento conjugal coisas boas e ruins que trouxe do seu passado. Não tem como zerar o negativo e entrar no casamento só com o positivo da sua personalidade. Quem nega que influências afetivas negativas do passado não repercutem na vida conjugal, ou está sendo desonesto ou está negando a realidade. Ainda não se conhecem bem. Negar pode ter componentes inconscientes, é verdade. Ou seja, uma pessoa pode negar ter problemas não porque está mentindo, mas porque pode estar inconsciente da verdade interior e de como isto afeta o exterior, o relacionamento.

Não há possibilidade de crescimento de um casal enquanto ambos — tem que ser os dois, esposo e esposa — não admitem para si mesmos os seus problemas e não procuram sinceramente entender como isto afeta o relacionamento. O mais comum é cada um acusar o outro pela infelicidade e desentendimento. É muito ruim quando um tem um temperamento defensivo, negativo, em que muito dificilmente admite ter problemas e às vezes mesmo quando admite, usa frases como: “É verdade, tenho esta dificuldade, mas...” E volta a apontar o dedo para o defeito (que pode ser verdadeiro) do outro. Esta atitude pode revelar que esta pessoa ainda permanece com um certo grau (grande ou não) de negação. E com negação não dá para nenhum casamento funcionar bem, pois como o relacionamento pode melhorar se um dos dois nega ter problemas pessoais que afetam a união, quando são problemas reais de personalidade?

Também pode ser desgastante para um cônjuge quando sente ser necessário estar colocando limites para abusos do parceiro(a) negados por este. O amor pode morrer assim, porque desgasta, frustra, desanima, cansa. Cada cônjuge tem a obrigação e a responsabilidade de crescer pessoalmente para favorecer o bem-estar do casal. A questão mais importante, então, não é encontrar a pessoa certa, mas sim procurar ser a pessoa certa. E isto envolve, inevitavelmente, sinceridade, honestidade, verdade, humildade para dar uma olhada para si, para a maneira como se comporta com o outro, e ver que pode haver problemas e dificuldades nesta maneira de agir, mesmo que o outro também possua dificuldades — o que é real, pois ninguém é perfeito.

Há esposas, que são muito chatas, cobradoras, ranzinzas, doentes de romantismo histeriforme, sem terem os pés no chão da realidade, não valorizam o marido, as coisas boas dele, os esforços dele para trabalhar e cuidar do lar e dos filhos. Falo de esposas, porque o mais comum na literatura sobre casamento é a descrição de que os homens não são afetivos, são frios, não se interessam pelo casamento, só pensam em sexo, mas isto não é toda a verdade, e não é mesmo a verdade de todo casal.

Há mulheres que precisam aprender a deixar de lado suas características imaturas de quererem ser o centro das atenções, um egoísmo disfarçado de “amor”. Você valoriza o trabalho de seu marido? Quando foi a última vez que elogiou sincera e gratuitamente algo do trabalho dele? Quando você oferece carinho a ele, o que você deseja é dar ou receber? O amor maduro é incondicional, não nos esqueçamos disto.

A maturidade genuína feminina depende de um desapego doentio do namorado, noivo ou marido. É muito fácil crer que mulheres que são carentes de afeto são sadias emocionalmente porque elas estão querendo amor e amor é algo bom. Só que o amor maduro não é pegajoso, não é dominador, não é carente, não centraliza sua felicidade num ser humano, não endeusa o cônjuge. Viver nessa carência não é amar, mas é viver num egocentrismo.

Valorize seu marido. Não tenha medo de elogiar o trabalho dele achando que ele irá se afundar no trabalho deixando-a de lado. Um marido gratificado pelos elogios sinceros da esposa passa a ter desejo de estar com ela. E o contrário é também verdadeiro. Se ela nunca elogia, ou raramente elogia, e se ele é um homem de caráter, não irá procurar outra mulher, mas irá provavelmente canalizar sua carência saudável para mais trabalho, ou adoecerá.

Há muita coisa importante na vida de uma mulher que ela pode fazer e se envolver, ao invés de ficar novelescamente fissurada com romance, afeto, carinho do seu homem que ela, na verdade, pode não valorizar devidamente, não demonstrar amor incondicional, só cobrar, manipular, e, assim, castrar a possibilidade de bem-estar que poderia haver no casal se ela fizesse a sua parte: ser útil, descentralizar sua vida do querer o afeto do marido como se ele fosse um deus para ela, e botar a mão na massa para ajudar as pessoas desse mundo vasto cheio de necessidades válidas. Abra os olhos e você verá que há muita gente, perto ou longe, que você pode ajudar, confortar, animar, repreender com amor, orientar, ao invés de ficar olhando para seu umbigo iludida com a própria ideia de que não é amada suficientemente.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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