Mídias sociais, solidão e ansiedade em jovens

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Graham C. L. Davey, Ph.D., professor de Psicologia na Universidade de Sussex, Reino Unido, autor de livros e dezenas de artigos publicados em revistas científicas, tem se concentrado no estudo da ansiedade e medo, entre outros temas de saúde mental. Nessa coluna destaco o resumo de um de seus recentes artigos (dezembro 2016) onde ele analisa se há influência das mídias sociais na manutenção da ansiedade através da desconexão real com as pessoas e da solidão.

 Um tipo de ansiedade anormal é a social, na qual a pessoa tem excessivo e irrazoável medo de situações sociais, facilitando a solidão. E a solidão pode piorar este tipo de ansiedade, criando um ciclo: ansiedade alta o afasta do convívio social e aí vive-se em solidão, e viver em solidão piora a ansiedade. Daí se lança mão das mídias sociais para obter algum alívio e “compensação” da ansiedade e solidão desagradáveis. 

 Há uma contradição nas mídias sociais como o Facebook e o Twitter porque ao mesmo tempo ambos promovem conexões virtuais entre pessoas e solidão. A pessoa pode ter centenas de amigos virtuais e viver num isolamento ou alienação social. Existem evidências de que a solidão, ansiedade social e o isolamento social podem causar o uso exagerado das redes sociais pelos jovens.

No estudo de Ndasauka, Hou, Wang, Yang (2016), “Excessivo uso do Twitter entre estudantes de faculdade no Reino Unido: validação da escala uso excessivo microblog e relacionamento para interação social e solidão”, (Computadores em Comportamento Humano, 55, 963-971), verificou-se que as interações na vida social real estavam negativamente associadas com o uso excessivo do Twitter, e que a solidão era um fator significante nestes indivíduos, mostrando que muitos usam as redes sociais para aliviar os sentimentos de solidão.

Em outro estudo recente, “Enganchado no Facebook: O papel da ansiedade social e a necessidade de segurança social no problemático uso do Facebook, os cientistas Lee-Won, Herzog e Gwan (2015) mostraram que as pessoas podem ficar viciadas no uso do Facebook (Cyberpsychol. Behav. Soc. Netw., 18, 567-574), e este vício funciona com a ativação das mesmas áreas cerebrais afetadas pela cocaína. (Turel, He, Xue, Bechara, 2014, Examinationof neural systems sub-servingFacebook “addiction”. PsychologicalReports: Disability& Trauma, 115, 675-695).

Segundo Davey, o vício em redes sociais coloca uma ameaça ao bem estar físico e psicológico, interfere no desempenho na escola e no trabalho, e parar com ele é visto pelos usuários como sacrifício e desintoxicação. Um estudo em Harvard (2016), com controle de fatores como sexo, idade, tempo de secreção do cortisol, estresse percebido, apoio social percebido, demonstrou que quanto mais extensa era a rede social no Facebook, maior era a produção diurna de cortisol, um hormônio ligado ao estresse. Altos níveis de cortisol ao despertar estão associados com estresse, medo crônicos, fadiga, que são fatores facilitadores para a depressão.

Um dos sinais de vício em redes sociais é o medo de não poder acessá-las. A primeira coisa que muitos fazem ao acordar pela manhã é checar suas conexões virtuais, e é também a última antes de dormir. Na ameaça de não ser possível fazer isto, muitos se sentem ansiosos, irritados, demonstrando compulsão neste assunto.

Um estudo sobre isolamento social na América do Norte feita por Miller McPherson e colegas mostrou que entre 1984 e 2005 o número de pessoas de confiança que um indivíduo tinha, diminuiu de 2,94 para 2,08, importante queda no número de amigos verdadeiros. (McPherson M, Smith-Lovin L &Brashears M E (2006) Social isolation in America: Changes in core discussion networks over twodecades. American Sociological Review, 7, 353-357.) Isto é relevante porque, como apontou o sociólogo Eric Klinenberg, é a qualidade de suas interações sociais, não a quantidade, que define solidão. A vida tem ensinado aos idosos que ter poucos amigos de qualidade é mais importante do que uma grande quantidade de conexões na sua rede de amizade. (Klinenberg E [2013] Going solo: The extraordinaryriseandsurprising appeal of living alone. Penguin Books).

Fomos criados por Deus como seres sociais em necessidade de conexões sociais, mas não predominantemente por meio virtual e nem compulsivamente. O que os estudos revelam sobre o uso de redes sociais é que a solidão e a ansiedade social parecem facilitar seu uso levando muitos ao vício pelo desejo não saudável de gastar horas a cada dia checando as redes. O uso abusivo de mídias sociais não é só consequência da ansiedade social das pessoas, mas produz ansiedade adicional e estresse, prejudicando o desempenho acadêmico nos jovens e no trabalho.

Fonte: www.psychologytoday.com/blog/why-we-worry/201612/social-media-loneliness-and-anxiety-in-young-people

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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