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Me leva pra casa!
quinta-feira, 30 de maio de 2013
O que você está fazendo com sua vida? Você acha que sua vida é sua ou é um dom recebido? Como seu corpo mantém você vivo? Tem você poder de acrescentar mais anos à sua existência, como se seu corpo fosse um celular que você pode recarregar a bateria?
Estamos bem ocupados na vida para pensar nessas coisas, não é? E sua ocupação pode ser produtiva com trabalho ou improdutiva com entretenimento. Estamos ocupados para pensar que iremos morrer, alguns talvez semana que vem, outros mais adiante. Pensar na nossa morte pode enriquecer a vida atual. Claro, se você pensar nisso com serenidade, na busca do sentido para essa vida. Uma maioria não quer pensar na morte por medo, por negação. Negação é um mecanismo de defesa psicológica que usamos para fugir de alguma dor, de alguma realidade. Estar na negação é estar parcialmente da vida real.
O que você está fazendo com sua vida? Gastando-a com entretenimentos? Lutando ansiosamente para acumular tesouros terrestres, em vez de construir um caráter puro, que é a coisa mais bela da vida e é o que fica no final? Se você tem gasto suas energias recebidas do Céu com entretenimentos, de que vale sua existência? Entretenimento é algo que prende sua atenção e interesse na ideia de lhe dar prazer. Precisamos relaxar, é verdade. Deus fez o sétimo dia, o sábado, como dia de descanso, após criar nosso mundo e a nós mesmos em seis dias (Gênesis 1 e 2). Cientistas cronobiólogos comprovaram o chamado "ritmo do sétimo dia”, ou "circaceptano”, que não vou comentar aqui agora. O descanso é uma necessidade biológica, mas é diferente de entretenimento.
Ter lazer é necessário, mas há o saudável e o não saudável. Faz você de sua vida uma vida de entretenimento inútil? Gasta horas em redes sociais, videogames, assistindo programas de TV vazios de sentido e, pior, maléficos? Do que nutre sua mente no dia a dia de sua vida? Jesus disse certa vez: "Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também.” João 5:17. Qual era o entretenimento de Jesus, que foi alguém que viveu aqui uma vida plena de sentido útil, produtiva, abençoadora, cheia de distribuição de misericórdia, de atos aliviadores do sofrimento das pessoas? Gastaria Ele horas na internet com futilidades? Teria obsessão por riqueza material? Estaria fissurado por relacionamentos com sexo e romance? Mandaria um empregado da loja de carros usados adulterar o velocímetro do veículo à venda para negociá-lo como se fosse mais novo? Daria propina a político e receberia lucro de superfaturamento vergonhoso, que são formas de malignidade do caráter?
"Me leve pra casa!” Essa foi uma frase que minha mãe, Helena Vasconcellos de Souza, esposa do "seu Manoel” da ex-Papelaria Simões, quando estava na UTI/CTI de um hospital, de onde saiu morta em 4 de junho de 2011. Sabe por que ela queria ir para casa? Claro, pelo incômodo de uma hospitalização, pela dor natural diante da ideia de morte. Mas principalmente para continuar a vida plena de sentido que ela levava. Com certeza ela ajudou alguém mesmo estando ali num leito de UTI/CTI!
Semanas antes de seu falecimento, fui à casa dela e notei que faltava um guarda-roupa em seu quarto. Perguntando sobre o paradeiro dele, ela disse: "Ah! Eu dei! Já tenho um. Alguém precisava”!” Noutro dia, ao ir almoçar com ela em seu apartamento, vi uma nova empregada, e perguntei: "Mãe, quem recomendou essa mulher?”. Ela disse: "Ninguém! Ela morava na rua e veio trabalhar aqui”! Para me "acalmar”, completou: "Ela é trabalhadora”. Essa era "dona” Helena!
No funeral de minha mãe estavam umas cem pessoas apertadas na capela pequena. Ao tentar dizer algumas palavras em homenagem a ela, perguntei, apontando o caixão onde seu corpo jazia sem vida: "Se há alguém aqui que foi ajudado por essa senhora, poderia levantar a mão, por favor?”. Pelo menos 80% das pessoas levantaram as mãos. Foram ajudadas por alguém que compreendia que sua vida tinha importante missão: ajudar a aliviar o sofrimento das pessoas e não se permitir viver uma vida vazia de sentido, egocêntrica, inútil, desonesta, materialista.
O que você está fazendo com sua vida? Você pensa que ela é sua? O erudito, e ao mesmo tempo simples, apóstolo Paulo afirma: "Nele [em Deus] vivemos, e nos movemos, e existimos”. Atos 17:28. E Isaías diz: "Eis que as nações são consideradas por Ele [Deus] como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança…” Isaías 40:15.
Fomos criados para servir e ter uma vida útil. Nada nesse mundo produz paz, serenidade, saúde mental e física melhor do que ter uma vida compenetrada, consciente, honesta, produtiva para o bem. O que você está fazendo com sua vida? Não deu para levar minha mãe para casa para ela continuar sua vida cheia de sentido. Mas deu para aprender com ela e com meu pai (morto em 1996) a ter uma vida útil. A eles minha gratidão. E a Deus minha maior gratidão por me ter proporcionado esses exemplos de vidas que fizeram sentido e muita diferença para aliviar o sofrimento de muita gente.
Muito obrigado!
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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