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A maconha prejudica o cérebro dos jovens?
Staci Gruber, Ph.D., é diretora do Centro Cognitivo e Clínico de Neuroimagem, e diretora do Mind (Marijuana Investigations for Neuroscientific Discovery) do Hospital Mc Lean, da rede de hospitais da Harvard University, sendo professora associada de psiquiatria desta universidade norte-americana.
Ela tem estudado nas últimas duas décadas sobre os efeitos do uso recreacional da marijuana (maconha) particularmente sobre seu impacto no desenvolvimento cognitivo, estrutura e função cerebral.
Mais recentemente ela tem pesquisado sobre o tipo e nível de mudanças que resultam do uso precoce da maconha em contraste com o uso tardio.Vamos ver algumas de suas descobertas sobre este assunto.
Estudos têm demonstrado resultados impressionantes. Usuários crônicos e de grande quantidade de maconha com início precoce (abaixo dos 16 anos de idade) apresentam mudanças significativas na estrutura e função do cérebro, comparado com os que começaram o uso mais tarde. Estas pessoas têm mais dificuldade com tarefas cognitivas, especialmente as que são mediadas pelo córtex frontal. Só para lembrar, o córtex frontal e, especialmente o pré-frontal, no cérebro, tem que ver com funções executivas que envolvem pensamento, raciocínio, lógica, tomada de decisões e atitudes para o controle mental.
A maconha afeta as fibras nervosas e mielina que exercem influência sobre como a informação é comunicada de uma região cerebral para outra.
Segundo a dra. Gruber, os usuários de maconha que começaram seu uso mais tarde parece que não apresentam o mesmo nível de dificuldades com tarefas mediadas pelo lobo frontal e tem alguma semelhança com os que nunca fumaram.
Estão sendo coletadas informações sobre a qualidade da droga usada, mas os achados até agora realmente revelam que um uso frequente, pesado e o começo precoce da marijuana estão relacionados com prejuízo no desempenho na execução de tarefas e medidas da saúde do cérebro.
O que dizer da saúde mental das pessoas que começaram a usar regularmente maconha cedo, mas pararam? Uma pergunta que os cientistas fazem neste contexto é se o cérebro se recupera ao mesmo nível de funcionamento anterior ao fumar maconha.
Já que os estudos mostraram que os que começam a usar cedo esta droga têm uma menor organização da matéria branca cerebral, surge uma pergunta: Será que os consumidores de marijuana que apresentam menor integridade da matéria branca cerebral são mais prováveis de começar a fumar precocemente maconha? Ou será que o fato de começar a usar esta droga cedo na vida é que produz alteração nesta região do cérebro?
Jovens geralmente e quase sempre têm uma baixa compreensão e percepção do risco e lesão relacionada com o uso da maconha. Isto pode contribuir para discussões sobre se esta droga realmente produz danos à saúde, e sobre possíveis benefícios do seu uso medicinal. Portanto, frase comum usada pela juventude pode ser: “Como maconha pode ser maléfica? A mãe de meu melhor amigo a usa como remédio!” Isto gera confusão.
Em 2015, pela primeira vez, o estudo norte-americano “Monitoring the Future” (“Monitorando o futuro”) relatou que estudantes da última série do ensino médio (high school seniors) fumam mais maconha do que cigarros convencionais.
É muito importante, diz a dra. Gruber, informar aos jovens que durante a adolescência o cérebro ainda está em desenvolvimento e vulnerável para muitas influências, incluindo drogas.
Além disso, formas mais potentes e concentradas de marijuana estão aumentando em popularidade e podem causar negativos efeitos pelos altos níveis de THC – tetrahidrocanabinol – presente na maconha, nos que são ainda imaturos do ponto de vista do desenvolvimento biológico. O que se sabe hoje é que a maconha produz mudanças importantes na estrutura e na função do cérebro.
Fonte: http://www.mcleanhospital.org/news/2016/10/26/marijuana-use-among-young-people. Visitado em 13Jan2017.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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