Luto psicológico ou depressão?

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Há uma diferença entre uma pessoa viver o processo de luto psicológico por alguma perda real experimentada na vida atual e uma depressão. Qual seria esta diferença?

Luto psicológico ou tristeza normal envolve um conjunto de sintomas que podem ser parecidos com os da depressão, mas que têm um tempo determinado de ocorrer. Geralmente quando a pessoa passa pelo luto normal ela não se afunda tanto emocionalmente  e consegue manter suas atividades do dia a dia perto do normal. Pode sentir-se um tanto triste, meio "anestesiada”, talvez mais lenta, com algumas ondas de choro, mas funciona e consegue trabalhar. Com o passar do tempo, não mais do que um ano, as coisas voltam ao normal do ponto de vista emocional, e os sintomas que eram desagradáveis, desaparecem sem necessidade de tratamento psicológico ou com remédio. Alguns sintomas podem até podem retornar em certas datas especiais, como Natal, aniversário da pessoa que morreu (se é luto por morte de alguém), data da morte da pessoa, etc. Mas a pessoa reage bem em seguida.

Já na depressão, a pessoa fica bem mais comprometida do ponto de vista da capacidade de trabalhar, de raciocinar, tomar decisões, funcionar socialmente. Num caso de depressão importante, a limitação da pessoa para funcionar no dia a dia é bem maior do que no luto psicológico ou tristeza normal.

Existe a depressão leve, moderada e grave. Quanto mais grave for a depressão, mais limitada estará a pessoa para funcionar na vida. Os sintomas da depressão leve se parecem com os do luto psicológico, só que na depressão a pessoa permanece desanimada, mesmo após algum tempo em que seria de se esperar que ela estivesse bem de novo. É como se fosse um luto psicológico persistente, que não passa com o tempo.

É importante, no caso do luto psicológico, que a pessoa tenha paciência, não se apavore, e expresse a dor e tristeza para alguém que saiba ouvir. Este desconforto emocional do luto psicológico pode demorar mais do que gostaríamos. E tanto mais demorará quanto mais a pessoa reprimir sentimentos dolorosos que ela precisa expressar (verbalizar) e experimentar (viver na consciência). Expressar é falar da dor, enquanto que experimentar é viver a dor sem anestesiá-la com algo (comida, consumismo, álcool, outras drogas, etc.).

Dói sentir a dor, mas é doendo, falando dela, vivendo-a, atravessando-a que ela vai embora. Ela não nos mata. Pode angustiar muito, pode entristecer bastante, mas a pessoa pode se recuperar e sobreviver.

Depois que vivemos a dor pela morte de um ente querido, fica a saudade que pode não mais doer tanto com o passar do tempo. Se você está vivendo uma perda significativa em sua vida, seja paciente com você mesmo(a) e com a necessidade fisiológica de viver a dor emocional. A dor é uma necessidade nesse momento. O que é bom, do que você está sentindo, passa. Mas o que é ruim também passa. Isto também vai passar.

Se, porém, você já viveu a tristeza por um tempo longo, já expressou sua dor emocional, já teve paciência, e já passou um ano e nada de melhorar, nada de aliviar, então é possível que esteja surgindo uma depressão. Daí é melhor procurar ajuda profissional. 

Se a depressão estiver forte, com desânimo, falta de energia, perda de prazer nas coisas que antes dava prazer, insônia ou sono exagerado, perda ou aumento exagerado do apetite, ideias de morte, choro constante, procure um médico psiquiatra, pois possivelmente você necessitará de algum tratamento medicamentoso com antidepressivo temporariamente.


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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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