Indivíduos da classe alta apresentam mais frequentemente comportamentos não éticos?

sexta-feira, 06 de abril de 2012

Parte 2 de 3

Esta é a parte 2 do artigo em que compartilho com você os achados sobre falta de ética na classe social alta, comprovada por trabalho científico publicado recentemente pela Academia de Ciências dos Estados Unidos da América, estudo feito por equipe de cientistas do Departamento de Psicologia da University of California, Berkeley, nos Estados Unidos, junto com outros da Rotman School of Management da University of Toronto, Canadá (March 13, 2012 vol. 109 no. 11 4086-4091) (http://www.pnas.org/content/109/11/4086).

Muitos recursos e posição social elevada permitem aos indivíduos da classe social alta aumentar a liberdade e independência, o que facilita comportamentos egocêntricos. Estudos têm revelado que pessoas de classe alta parecem ser menos próximos dos outros e piores na identificação de emoções que os outros sentem. Daí podem ser menos engajados nas interações sociais, como por exemplo, checando o celular toda hora, rabiscando num rascunho, diferente do comportamento de pessoas de classe baixa que interagem melhor com os outros.

O estudo também mostra que uma boa parte das pessoas da classe alta tende a ser menos generosa e menos altruística. Uma pesquisa nacional nos Estados Unidos mostrou que pessoas ricas doaram menos de seus salários do que as de classe pobre. Vários estudos neste contexto sugerem que pessoas de classe alta tendem mais a valorizar seu bem-estar sobre o bem-estar de outros e, assim, podem apresentar mais atitudes de cobiça ou ganância do que os pobres.

“E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos davam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, doou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva doou mais do que todos os que colocaram na arca do tesouro. Porque todos ali doaram do que lhes sobrava, mas esta, da sua pobreza, doou tudo o que tinha, todo o seu sustento.” Marcos 12:41-44.

Por sua vez, segundo os cientistas deste estudo, a cobiça “é um robusto determinante de comportamento não ético. Platão e Aristóteles estimavam que a cobiça está na raiz de imoralidade pessoal, argumentando que a cobiça conduz aos desejos por ganho material às custas de padrões éticos. Uma pesquisa mostrou que indivíduos motivados pela cobiça tendem a abandonar princípios morais em sua busca de interesse pessoal” (Steinel W, De Dreu CKW (2004) Social motives and strategic misrepresentation in social decision making. Journal of Personality and Social Psychology 86:419-434).

Neste artigo publicado pela Academia de Ciências dos Estados Unidos, as pesquisas feitas pelos cientistas da equipe mostraram que pessoas da classe alta tendem a transgredir mais vezes leis de trânsito, tomam decisões e apresentam comportamentos não éticos bem mais do que as pessoas de classe baixa. Outro achado foi que indivíduos ricos são mais propensos a verem a cobiça sob uma luz mais positiva.

No estudo se procurou entender por que indivíduos de classe alta agem mais sem ética do que os de classe baixa. Daí pesquisaram para ver se encorajando pessoas da classe baixa a terem atitudes positivas quanto à cobiça se igualariam aos de classe alta nas atitudes não éticas. Verificou-se que quando os benefícios da ganância ou cobiça foram enfatizados para estes mais pobres e com menos cultura, eles foram tão não éticos quanto os da classe alta. Verificou-se que os indivíduos de classe alta e os de classe baixa não necessariamente diferem em termos de suas capacidades para comportamentos sem ética, mas diferem em termos das tendências internas, pessoais, para com a falta de ética.

No próximo artigo encerro esta série.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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