Há opções para evitar uso ou abuso de tranquilizantes em pessoas muito ansiosas?

quinta-feira, 01 de agosto de 2013

Parece que o mundo está "bombado”, ou seja, as pessoas ficando muito medicalizadas, funcionando na sociedade sob influência de remédios sintéticos. A prescrição de ansiolíticos no mundo, por exemplo, que são medicamentos para diminuir a ansiedade excessiva, é algo assustador. No Brasil, segundo o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (http://www.obid.senad.gov.br), 3,3% da população brasileira entre 13 e 65 anos de idade e 4,1% entre estudantes já usou tranquilizantes pelo menos uma vez na vida. O que pode ajudar para evitar o abuso destes medicamentos nas pessoas com ansiedade alta?

Primeiro é importante aceitar que há algo na vida que produz a ansiedade alta e entender que aceitar não é concordar, mas admitir a realidade, sem fugir da verdade, justamente medicando-se abusivamente ou tomando o remédio com controle, mas não procurando entender de onde vem este incômodo emocional. Ansiedade excessiva pode ser a "luz vermelha” indicando que há algo em sua vida, em sua maneira de funcionar como pessoa, que necessita mudança ou ajuste. 

Depois é muito importante olhar para fora de si mesmo em vez de se concentrar na sensação de ansiedade que você experimenta. Procure pensar que você não é a ansiedade, mas ela é algo em sua mente. Você consegue pensar nela, consegue usar um lado saudável da mente para aprender a lidar com ela. 

Também pense que todas as pessoas possuem ansiedade, portanto, o alvo não é eliminá-la, mas ver como ela pode diminuir, caso esteja exagerada. E a ansiedade exagerada pode aparecer explícita, ou seja, como ansiedade mesmo, inquietude, sensação de vazio, aperto no peito, ou pode surgir através de outro transtorno, como a fobia (medo exagerado), transtorno obsessivo-compulsivo (pensamentos obsessivos sobre contaminação e arrumação exageradas que levam a atos compulsivos os quais atrapalham o bom funcionamento da pessoa), crises de pânico, etc.

Outra coisa que ajuda é, em vez de ficar parado e assustado com a ansiedade ou angústia exagerada, tomar uma atitude, que pode ser diminuir o ritmo do trabalho, não se desesperar, realizar suas tarefas mais devagar, dentro do possível, sem se cobrar para ter que ter o mesmo desempenho de antes neste momento de sofrimento ansioso.

Ajuda muito a qualidade da respiração. Pessoas muito ansiosas respiram mal. Por isso, ao longo do dia, algumas vezes, respire profunda e lentamente cinco ou seis vezes em seguida, puxando o ar pelo nariz e soltando-o pela boca bem devagar.

Verifique como está sua dieta. Alimentos com cafeína, por exemplo, podem piorar a ansiedade. Portanto, elimine-os ou reduza ao máximo o seu consumo. Também contribui para o alívio da ansiedade excessiva a prática de atividade física especialmente ao ar livre, como caminhadas de preferência em meio à natureza.

Finalmente, examine seus pensamentos. Uma pessoa com ansiedade importante geralmente exagera as coisas e tende a se concentrar em problemas que não ocorreram e que provavelmente poderão não ocorrer nunca. Então, não antecipe fatos trágicos que possivelmente não acontecerão. Verifique se seus pensamentos mais frequentes e que aumentam a ansiedade têm uma base real. São razoáveis? São baseados numa verdade ou numa suposição? Tem provas concretas de que eles são verdadeiros? Ou são produzidos apenas por uma mente ansiosa que imagina coisas?

Atitudes assim, praticadas com perseverança, paciência, humildade, e determinação, ajudarão a diminuir a ansiedade e, talvez, a pessoa não necessitará do uso de medicação sintética, ou se necessitar, poderá usar menos tempo e possivelmente sem necessitar doses altas.


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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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