Gravidez na adolescência: uma epidemia?

quarta-feira, 02 de julho de 2014

No Brasil, 1,2 milhão de adolescentes abortam por ano. Abortos ilegais matam de 100 a 200 mil mulheres por ano no mundo. A Associação Brasileira de Adolescência (Dr.Jacques Crispin) encontrou o seguinte: entre 1982 e 1986, houve um aumento do número de adolescentes grávidas em 6,21% — e 78% abortaram. De 1987 até 1991, estes números pularam para 10,50% e 89%, respectivamente. Por ano no Brasil, um milhão de meninas entre 15 e 20 anos de idade dão à luz  e nascem cerca de 8300 bebês de mães menores de 15 anos. O Ambulatório de Adolescentes grávidas da Universidade de Campinas (Unicamp) concluiu que de 1980 para cá cresceu em 20% o número de gestantes com menos de 15 anos e 40% das que deram à luz engravidam novamente. Nos Estados Unidos, de cada 100 bebês que nascem, 16 são filhos de adolescentes. Em 1980, havia um índice de 13,3% de mães em idade precoce em São Paulo. Este índice subiu para 17,3% em 1992.

Ao ver uma garota carregando um bebê, me pergunto: será mais uma mãe adolescente solteira? Até que ponto este bebê mudou a vida dela? Deixa os cuidados do bebê com os pais? Parou de estudar? Criou atrito difícil, ferida difícil de cicatrizar entre os membros das famílias envolvidas? 

A prevenção da gravidez na adolescente solteira é o melhor caminho a se investir. Depois do fato  consumado vêm dores, dificuldades, lesões psicológicas, despesas, perturbação da vida estudantil e frustrações num momento em que estava se preparando para enfrentar a vida adulta, quando havia maturidade só biológica para engravidar, sem base emocional para cuidar de uma criança.

Tal prevenção envolve basicamente educação familiar. Depende dos valores morais dos pais, do amor deles pelos filhos e por causa desse amor, ensiná-los a seguirem por um caminho sem sexualidade precoce, aprendendo a lidar com os impulsos, instintos e com a perversa pressão sexual difundida na mídia. O rapaz e a moça precisam receber dos pais orientações quanto à sexualidade, mostrando aos filhos que eles são um prazer planejado para relacionamentos de compromisso sério, que nem mesmo num noivado há garantia de que os dois ficarão juntos até casar. Sexo foi idealizado para homem e mulher experimentarem na relação conjugal lícita.

Na década de 70, a iniciação sexual se dava em torno dos 19 a 22 anos de idade. Hoje ela começa aos 13 e no máximo aos 16 anos, quando os jovens estão naturalmente imaturos psicologicamente. Argumentos comuns são: "Pintou o desejo”, "Eu achava que ele me amava”, "A gente queria apenas curtir um pouco”, "Todo mundo faz isto”. Mas são argumentos falsos e imaturos. O desejo precisa ser controlado em benefício da vida. Maturidade é aprender a lidar construtivamente com o desejo. Amor não é excitação sexual. É possível haver curtição sem complicar a vida. Não é verdade que todo mundo transa. Pode ser a maioria, mas não todo mundo. E o que a maioria faz não significa ser isto verdadeiro, correto ou saudável. 

Após três anos da primeira gestação, 40% das adolescentes voltam a engravidar uma segunda vez. Da classe mais rica, 80% abortam, e da mais pobre, 80% levam a gravidez até o fim. Os traumas psicológicos de um aborto podem se arrastar a vida inteira na mente da jovem, e são culpa, medo, somatizações (sintomas no corpo devido ao estresse mental), diminuição do autorrespeito, traumas sexuais, nervosismo (60%), depressão ao lembrar que a criança poderia ter tal ou qual idade, medo de um castigo de Deus, etc.

Por que, então, a mídia não promove o que é saudável para ajudar a sociedade? Por que a exploração e difusão do erotismo? Perturbação de caráter dos responsáveis pelos programas? Interesse econômico? Ganância pelo poder? Opressão maligna?

Enquanto a humanidade não aprender a lidar construtivamente com sua angústia pessoal e social, vai buscar soluções inadequadas e destrutivas para obter o prazer. As pessoas que estão amadurecendo de verdade estão percebendo que o prazer real envolve a paz que surge porque você tem recebido forças para lidar com a angústia, com a dor emocional e espiritual inevitáveis nessa existência. Elas estão aprendendo e aceitando que o prazer normal que podemos obter na vida agora não é a busca da ausência de dor, mas aprender a viver acima dela. E isto não depende de bens materiais, fama, posses, poder social. Felizmente.


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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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