Fale com seu médico

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Quando médicos são pressionados para encontrar rapidamente diagnósticos e orientar o tratamento para um atendimento mais numeroso de pacientes, ocorre perda na qualidade do atendimento. É mais provável que ocorra uma visão parcial do paciente, e os aspectos subjetivos daquele indivíduo não são avaliados pela falta de tempo na consulta, o que traria mais dados para o profissional que, quem sabe, poderia até modificar o procedimento final prescrito.

A ciência é importante, claro, para trazer novas verdades através das pesquisas. Mas nós médicos não podemos perder de vista a humanidade do paciente, o fato de que ali diante de nós está uma pessoa com tantas características subjetivas, peculiaridades, formas de pensar e de sentir diferentes, afeto próprio, inserção na realidade da vida do modo e na possibilidade dele etc. Sem compreensão mais profunda do todo da pessoa, fica mais difícil acertar o tratamento.

O Pai da Medicina, Hipócrates, disse que mais importante do que saber que doença tem determinada pessoa é saber que pessoa tem determinada doença. E isto, eu creio, faz a diferença entre tratamentos que funcionam duradouramente e os que funcionam mais temporariamente, entre os resultados mais sintomáticos e os que produzem cura.

O profissional tem seus limites. O médico vê muita coisa no paciente. Mas ele só pode ver no outro o que pode ver em si mesmo como ser humano. Médicos também podem ter ansiedade, depressão, dificuldades afetivas variadas, e isto interferir no relacionamento médico-paciente com prejuízo para os resultados se aquele profissional estiver com baixa percepção da realidade subjetiva de si e, por exemplo, não compreender o significado de angústia humana.

Conhecer anatomia, fisiologia, farmacologia, histologia, patologia, microbiologia, técnicas de cirurgia etc é fenomenal. Mas mais ainda, pelo menos para mim, é conhecer o psiquismo de um indivíduo. Ou seja, por que ele funciona deste jeito como pessoa, como um ser pensante, que possui afetos e faz escolhas. Conhecer a pessoa do paciente é maravilhosa aventura. Entretanto, também é uma maravilha ter profissionais que conhecem muito bem os órgãos humanos, pois assim, em emergências, podemos contar com eles para nos ajudar organicamente, seja pela atuação clínica ou cirúrgica.

Da próxima vez que você for ao médico, abra mais seu coração para ele e fale do que tem incomodado sua vida emocional. Faça perguntas sobre o papel do estresse emocional sobre os sintomas que você apresenta. Fale das queixas emocionais, das preocupações com sua saúde e não focalize só na dor física, ou no mal funcionamento desta ou daquela função do seu organismo.

O médico acalma o paciente quando ele sabe escutar com o coração e não só com o estetoscópio e quando o paciente está aberto para receber ajuda. Um bom médico deve ser um bom conselheiro e um bom conselheiro é em primeiro lugar um bom ouvinte. Talvez você tenha que escutar melhor a verdade interior da sua própria consciência que está dizendo algo para a melhora de sua saúde. Com tanta informação sobre saúde é bem provável que você saiba, pelo menos em parte, o que está praticando e que não é bom.

Então, mude. Mude seu estilo de vida. Coma com melhor qualidade. Faça exercícios físicos constantes. Durma melhor e mais cedo. Trabalhe sem ganância. Compartilhe o que tem obtido. Tudo o que não damos, perdemos. Desfrute mais sua família. Freqüente mais a Natureza e menos os shoppings. Seja compassivo com os outros e consigo mesmo. Troque as novelas de TV por bons livros. Seja bom com você mesmo. Até certo ponto podemos ser nosso próprio médico. A cura vem pela prática da verdade em obediência às leis da saúde. Um dia de cada vez, uma coisa de cada vez.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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