Facebook e depressão

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Em cidades do interior ainda se pode ver, nos domingos e feriados, pessoas conversando sentadas em cadeiras na calçada em frente de suas casas. Isto é uma rede social real, não virtual. Fortalece as relações humanas, relaxa, favorece a saúde física também. Verificou-se que três povos com mais longevidade no planeta são os de Okinawa, Japão, os da Sardenha, Itália e os Adventistas do Sétimo Dia da Califórnia (mais longevos dentre a população norte-americana), segundo matéria na revista “National Geographic “, Novembro 2005. Algo em comum que o estudo achou nestes povos foi a vida social, manutenção e cultivo de amizade com contatos reais, face a face. 

Mas nosso mundo tem andado a passos largos na direção de uma vida social virtual. Então, temos as redes sociais. O sucesso das redes sociais é um sintoma na sociedade, que pode denunciar a distância afetiva produzida, em parte, por uma vida estressante e por carências afetivas. Mas não abordarei este assunto aqui agora. 

Na Universidade de Houston (EUA), um estudo revelou que pessoas que gastam tempo exagerado no Facebook geralmente comparam suas vidas com as atividades e realizações dos amigos, e isto se demonstrou ter relação com sintomas depressivos. (Mai-Ly N. Steers, Robert E. Wickham, Linda K. Acitelli. Seeing Everyone Else’s Highlight Reels: How Facebook Usage is Linked to Depressive Symptoms. Journal of Social and Clinical Psychology, 2014; 33 (8): 701).

Isto não significa que ficar visitando o Facebook produz depressão nas pessoas, mas, segundo a pesquisadora Dra. Mai-Ly Steers, “sintomas depressivos e muito tempo no Facebook comparando a si mesmo com outros tendem a ir de mãos dadas”. http://www.sciencedaily.com/releases/2015/04/150406144600.htm 

Steers chama a atenção para o fato de que um dos perigos da comparação de sua vida com a vida de pessoas que você observa no Facebook  é que “amigos tendem a postar sobre coisas boas que ocorrem na vida deles, enquanto que deixam de fora as coisas ruins.” Assim, é fácil fazer a comparação com estas coisas boas dos amigos do Facebook e concluir que a vida deles é melhor do que realmente é, e melhor que a sua, colaborando para que você se sinta pior sobre sua vida. E a pesquisadora diz que “as pessoas afligidas com dificuldades emocionais podem ser particularmente suscetíveis a sintomas depressivos devido às comparações sociais no Facebook após gastarem mais tempo [on-line] em média.” Tendo uma visão dos amigos do Facebook de forma distorcida (porque eles não postam os problemas deles), tais pessoas podem se sentir mal em suas lutas pessoais e terem sentimentos destrutivos, solidão e isolamento.

Steers espera que o estudo possa contribuir para as pessoas entenderem que a tecnologia pode ser uma arma de dois gumes, porque produz consequências positivas e/ou negativas dependendo do seu uso e da vida emocional pessoal. Ela também deseja que a pesquisa sirva para ajudar as pessoas com tendência depressiva a reduzirem o uso do Facebook. Talvez seja oportuno você pegar uma cadeira, colocar na calçada e com outras pessoas fazer ali uma rede social real. Isto funciona para prevenir transtornos emocionais, melhor saúde física, incluindo longevidade. Quer melhorar sua saúde e prevenir doenças? Então, menos shopping e mais convívio com a Natureza, menos redes sociais e mais conexões humanas reais.

 

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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