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Espontaneidade ou impulsividade?
O mundo confunde um monte de coisas, confunde conceitos, valores, em alguns casos para proteger comportamentos duvidosos, em outros para manter a pessoa na “zona de conforto” moral (ou imoral?), etc. Com frequência se confunde espontaneidade com impulsividade. Muitos colocam como sinônimos, mas não são. Vamos ver.
Gostei de um dicionário que define “espontaneidade” assim: “Desprovido de afetação; em que há simplicidade e originalidade; naturalidade.” (http://www.dicio.com.br/espontaneidade — acessado em 7 de julho de 2015).
E veja a definição de “impulsividade” neste mesmo dicionário on-line: “Aquele que se comporta por impulso; que age sem reflexão; irrefletido. Que tem facilidade para se enraivar; genioso. Sujeito irritadiço.” (http://www.dicio.com.br/impulsivo — acessado em 7 de julho de 2015).
Geralmente as crianças são muito espontâneas, mas não necessariamente impulsivas!
Uma pessoa espontânea parece ser mais honesta emocionalmente porque revela suas ideias, sentimentos, pontos de vista com sinceridade. Dificilmente é manipuladora ou mascarada. Gostei do conceito de espontaneidade como “desprovido de afetação”. Uma pessoa afetada é a que é dominada por emoções. Pode ser histérica. Histeria é um comportamento com superficialidade, em que a razão está fraca e, assim, a pessoa não raciocina com equilíbrio, deixando que suas emoções tomem as rédeas de si naquele momento ou em muitos momentos.
Uma pessoa histérica é exagerada em desejos afetivos, sendo obsessiva em querer ser amada, aceita, notada, elogiada, e quando tem a sensação (com frequência imaginária) de que não lhe deram a devida atenção, pode ter uma crise histérica, com gritos, falar alto chamando a atenção das pessoas, viver se queixando de não ser amada, “passar mal” desmaiando (mas sem se machucar, oposto ao que ocorre com o epiléptico na crise convulsiva). Isto não tem nada que ver com ser espontânea.
Então, uma pessoa afetada é a que tem afetação, e definida assim: “Falta de naturalidade; que age ou se comporta de maneira artificial; sem autenticidade. Que exagera na forma como expressa seus sentimentos; comportamento repleto de fingimento; falso. Necessidade de ser admirado; que é vaidoso; vaidade ou pedantismo.” (http://www.dicio.com.br/afetacao — acessado em 7 julho de 2015).
Já espontaneidade é o oposto, pois reflete um comportamento desprovido de afetação, no qual há simplicidade, que não é o mesmo que mediocridade, e sim sem pedantismo, porque a pessoa pedante é aquela que faz propaganda de conhecimentos que não possui e mostra qualidades superiores às que realmente tem.
Ser espontâneo está mais próximo de ser verdadeiro, embora nem sempre isto é verdade. A espontaneidade nas crianças é algo muito lindo porque elas tendem a ser sinceras, verdadeiras, naturais. Não ser natural é ser afetado, é agir com um eu mascarado, com descontrole entre razão e emoção. Não é sem motivo profundo que somos convidados por Jesus Cristo a nos tornar como crianças para podermos entrar no reino de Deus.
O impulsivo tem dificuldade em administrar seus sentimentos. Se enraivece e se irrita facilmente (não sendo por isso bipolar ou dependente químico obrigatoriamente!), age sem reflexão, parece os adolescentes que comumente, e até certo ponto normalmente, são inconsequentes, ou seja, fazem coisas por impulso sem medir as consequências.
Dra. Leigh M. Vaillant, falecida recentemente, médica psiquiatra que ensinava na Harvard University, colocou um dos conceitos de saúde mental assim: saúde mental tem a ver com você ter as emoções sem deixar que elas tenham você. Aliás, isto é o conceito expresso na Bíblia quando ela recomenda: “Irai-vos e não pequeis” (Efésios 4:26). Ou seja, tenha a emoção (no caso, a raiva), mas não deixe que a raiva leve você a fazer besteira (pecar), machucando as pessoas e a si mesmo.
As pessoas impulsivas administram mal suas emoções. Podem administrar bem uma grande empresa, mas não a si mesmas. Mas podem aprender a lidar sadiamente com seus sentimentos, se estiverem dispostos a entrar no processo de psicoeducação. E as pessoas espontâneas deixam fluir as emoções sendo autênticas, sem necessariamente perderem o autocontrole emocional.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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