Em defesa da depressão saudável

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O título acima é de um bom artigo de um psicólogo clínico escritor e reformador da prática e política de saúde mental nos Estados Unidos, Enrico Gnaulti, publicado em 18 Julho 2018 em https://madinbrasil.org/2018/07/em-defesa-da-depressao-saudavel

Ele comenta que entre 2013 e 2016 houve um aumento de 33% nos diagnósticos de depressão nos Estados Unidos e que estima-se que cerca de 80% dos antidepressivos sejam prescritos por médicos não psiquiatras.

Há o perigo do excesso de diagnóstico não só de depressão, como de outras doenças mentais. Crianças são medicadas com Ritalina por se atribuir a elas a presença de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, quando várias são agitadas talvez por uma combinação de consumo de alimentos cheios de corantes, e outras substâncias sintéticas que fazem mal à saúde, junto com cópia de um modelo “nervoso” e agitado que o pai e/ou a mãe pode oferecer, além de algum fator genético e estresse ambiental.

É comum pessoas normais serem diagnosticadas com depressão e, com isso, receber a prescrição de antidepressivos, remédios que causam dependência física, emocional e com efeitos colaterais. O pior é que a pessoa pode colocar uma expectativa alta demais (ou exclusiva) na medicação e deixar de lado a busca de praticar atitudes mentais que são fundamentais para a melhora do estado depressivo, como parar com pensamentos trágicos, pessimistas, de culpa falsa, e cultivar gratidão, esperança, lutando contra o egoísmo, e aceitando a perda (real ou imaginária).

O processo de ficar triste e que tem solução natural, sem precisar medicamentos, chama-se “luto psicológico”. A tristeza diante da perda é um processo normal de adaptação à realidade que geralmente se resolve sozinha, ao se aceitar a realidade.

Um luto psicológico que se estende por mais de um ano, e impede a pessoa de funcionar no trabalho, nos estudos, nos relacionamentos, havendo persistente tristeza e perda do prazer em tudo, aí podemos pensar em depressão, e um atendimento com psiquiatra está indicado. Mesmo assim não quer dizer que a pessoa terá que tomar antidepressivos.

Diante de uma perda que produz tristeza importante, a pessoa precisa utilizar esta experiência dolorosa para pensar, para analisar sua vida, e tentar entender se ela precisa mudar alguma coisa na sua maneira de lidar com a realidade, ou diminuir as expectativas de afeto em relação à alguém, reformular seus pensamentos, perdoar, fazer reparações, e não querer imediatamente partir para o uso de algum antidepressivo.

No estado depressivo saudável há intensidade menor do que na depressão doença, da sensação da pessoa ser deficiente. A depressão saudável pode ajudar a corrigir a maneira de alguém se apegar às pessoas, diminuindo a intensidade do apego e a dependência do outro para se sentir bem.

Também pode ser útil na avaliação de como a pessoa trata a si mesma, e interromper autoataques, autodepreciações e melhorar o respeito pessoal.

O psicólogo Enrico comenta que na depressão saudável podemos pensar que “é loucura continuar procurando parceiros mais atraentes”, ou “buscar cargos que estão fora de nosso alcance”, ou “deixar de aceitar limitações funcionais provocadas por doenças crônicas”. “… mais cedo ou mais tarde, a irritabilidade e a raiva [devido a perdas] precisam ser suplantadas pela aceitação amorosa de quem realmente nos tornamos”.

Se a pessoa vive uma tristeza normal e isto é confundido com depressão doença e começa a usar antidepressivos, o uso deles pode mascarar a necessidade destas reflexões e impedir a pessoa de amadurecer, aprender sobre si mesma, e adiar o processo de cura.

Gnalti, completa: “Agora, mais do que nunca, com a crescente medicalização da depressão, precisamos separar a depressão saudável como sendo uma resposta humana relativamente normal à perda; um sistema inato de sinalização que nos estimula a recalibrar pensativa e emocionalmente quem somos, quem nos tornamos e quem precisamos ser; e uma indicação de que a solidão produtiva pode ser necessária para um período de introspecção pessoal, e que a tristeza, a culpa e o remorso, se reconhecidos e processados, fornecerão alívio e aceitação.”

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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