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É possível amar pelas redes sociais?
A internet favorece relações artificiais, virtuais. Queremos ser amados e isto é normal. Mas precisamos aprender a amar também as outras pessoas e parar de ficar escolhendo fotos com poses que revelam alguma beleza ou característica que queremos exaltar em nós mesmos para recebermos amor dos outros. Não se pode amar virtualmente. Pelo canal virtual o que pode ocorrer, e não é raro acontecer, em termos de relacionamento, é o engano, que produz desilusão, frustração, dor.
Desilusão, neste caso, tem que ver com desidealização, que significa uma frustração por não conseguir o ideal. Claro, desidealização ocorre em outras formas de relacionamento sem ser a virtual, pela internet, através das redes sociais. Aliás, muitas pessoas só conseguem começar a amar maduramente depois que passam por uma desilusão no sentido de sair da fantasia do ideal. Outras, na desilusão, ou na desidealização, não aguentam a dor, e partem para uma atitude disfuncional, destrutiva, que pode ser o adultério, o abuso do álcool, consumo de drogas ilícitas, ou outro tipo de compulsão, ou caem em depressão e, uma minoria, se suicida, ou mata alguém (crimes passionais).
Não existe pessoa ideal que nunca nos frustrará e que se encaixará em tudo o que desejamos. Também nós mesmos não somos ideais para os outros. Portanto, felicidade nos relacionamentos, dentro do contexto de ideal e não ideal, depende mais de aceitar o não ideal do que lutar infindavel e obsessivamente na busca da utopia do príncipe perfeito ou da princesa perfeita.
Se você está desiludido com sua esposa, ou desiludida com seu marido, e está conhecendo alguém que parece ser interessante, cuidado! Uma pessoa interessante também tem problemas. Ela também não é ideal assim como você não é ideal para o seu cônjuge. Ou você se acha uma pessoa perfeita? A autora Pia Melody, escrevendo sobre codependência afetiva, disse que nós seres humanos somos perfeitamente imperfeitos. E Paulo, o apóstolo, disse que todos temos problemas (Romanos 3:9-12).
Quando você escolhe uma foto para sua mídia social será que a intenção é impressionar? Impressionar em que? Bem, alguns rapazes querem mostrar seus músculos, algumas mulheres querem mostrar seus decotes, pernas, rostos às vezes cheios de maquiagem e jóias. Para quê? Para serem amadas?
É possível desenvolver o amor maduro de uma maneira virtual? Creio que a maneira que pode funcionar é a presencial, olho no olho, em convívio pessoal. As mídias sociais podem servir como instrumentos de disfarce, como uma máscara de carnaval, atrás da qual as pessoas se escondem com medo de serem o que são e serem rejeitadas, não amadas.
Será que não precisamos aprender a ter coragem de ser o que somos, ter mente aberta para crescer, e não ficarmos fissurados em como iremos ser avaliados? Se você é uma pessoa legal, se está aprendendo a amar maduramente, a perdoar, a colocar limites saudáveis, a aceitar bem suas limitações, a não mentir para obter aplauso, afeto, dinheiro, se está sendo honesta emocionalmente, se não manipula as pessoas, então não precisa criar um sorriso e pose artificialmente produzidas para colocar nas redes sociais.
Seu sorriso natural e a não exposição indevida do seu corpo são o bastante porque uma pessoa mentalmente saudável na vida e nas redes sociais ajuda, informa, faz amizades saudáveis, se comunica de maneira ética, positiva, verdadeira, honesta. Isto é saúde mental e social. Isto é ser inteligente emocionalmente.
![César Vasconcelos de Souza César Vasconcelos de Souza](https://acervo.avozdaserra.com.br/sites/default/files/styles/foto_do_perfil/public/colunistas/cesar-vasconcelos.jpg?itok=s6vlX85j)
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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