É a maconha inofensiva? - 30 de junho 2011

domingo, 31 de julho de 2011

A ideia de que a maconha (ou marijuana) não produz efeitos negativos sobre a saúde humana foi desenvolvida durante os anos 60 e 70 quando grupos de rock e outras figuras pops na cultura da época inadvertidamente caracterizaram a droga como benigna. Agora, décadas depois, ainda persiste esta ideia, apesar do fato de que mais adolescentes são encaminhados para tratamento pela dependência (ou adicção) da maconha do que por todas as outras drogas ilícitas combinadas, além dos sintomas aqui descritos.

John P. Walters, diretor do Escritório Nacional para o Programa de Controle da Droga dos Estados Unidos, afirma que a maconha é mais perigosa do que as pessoas pensam e ela pode realmente levar a significantes problemas de saúde, abalar famílias e comprometer o futuro dos jovens, precisando ser dissipados enganos sobre ela. (Walters, John P. Dispelling the Myths About Marijuana, Hazelden Foundation, Oct 2002).

Na América do Norte, em 2001, fizeram uma pesquisa com 70 mil jovens acima de 12 anos, e encontraram que a porcentagem de usuários de maconha (os que haviam usado pelo menos uma vez no último mês) havia aumentado de 4,8% em 2000 para 5,4% em 2001, sendo a droga ilícita mais usada entre a juventude norte-americana. Cerca de 60% dos jovens que usam drogas ilícitas, usam só maconha. Jovens de idades para a oitava série experimentam esta droga duas vezes mais do que há dez anos atrás. Novos consumidores entre 12 e 17 anos dobraram de 800 mil em 1990 para 1 milhão e 600 mil em 1996. No ano 2000, cerca de 56% destes jovens achavam que a maconha era de grande risco, e em 2001 o número caiu para 53,5%. A redução da percepção do risco é um preditor importante para o uso futuro da droga. Então, espera-se um aumento do uso de maconha entre os jovens.

Daí ser importante que pais éticos, jovens livres da dependência química, ex-drogados, a mídia (que às vezes faz o papel irresponsável e maléfico de apresentar pessoas com algum grau ou posição cultural que defendem a ideia de que a maconha é inofensiva) divulgarem a verdade sobre os efeitos danosos do consumo da maconha sobre o corpo humano, a família, o futuro do jovem, a sociedade. Veja alguns:

Maconha hoje é muito mais potente — a média da concentração do princípio ativo da marijuana (THC – delta-9-tetrahidrocanabinol) responsável pelo “barato” ou “onda”, aumentou de 1% em 1974 para 5% em 1997.

Efeitos agudos — prejuízo da fala, do pensamento, do julgamento, da memória de curto prazo, da coordenação e equilíbrio motores. Pode causar sonolência, ilusões, visão prejudicada, vômito severo, dor de cabeça, vertigem; sendo todas alterações perigosas no conduzir veículos.

Problemas respiratórios e câncer — uso crônico de maconha favorece o surgimento de tosses, inflamações na garganta, bronquite, pneumonia. Ela contém agentes causadores de câncer como o tabaco. O nível de monóxido de carbono absorvido pelo fumante desta droga é de 3 à 5 vezes maior do que os fumantes de cigarro comum. Fumar 5 “baseados” (cigarros de maconha) por semana expõe o usuário a substâncias cancerígenas mais do que aquele que fuma um maço de cigarros por dia.

Adicção — cerca de 200 mil pessoas que iniciam o tratamento de dependência química (DQ) cada ano, referem a maconha como sua primeira droga de escolha. 60% dos adolescentes em tratamento se submetem a ele por causa da maconha.

Risco aumentado sobre o comportamento — jovens usuários de maconha têm maior probabilidade de se envolverem em comportamento de risco, tais como ter sexo, cometer atos de violência, e dirigir sob sua influência. Usuários semanais têm cinco vezes mais chances de roubo e quatro vezes mais chance de se envolverem em violência do que os que não usam a droga.

Pobre performance acadêmica — pesquisas sugerem que a maconha está ligada à queda da motivação e energia e seus usuários vão pior nos estudos. Estudantes que obtêm letra “D” ou “E” (“A” é o melhor, “E” o pior) tiveram mais do que quatro vezes probabilidade de serem usuários de maconha do que os com conceito “A”.

Influência sobre o Sistema Imune e Reprodutor — há evidências de que a maconha afeta as defesas imunológicas do organismo humano e diminui o número de espermatozóides, podendo gerar incapacidade do homem de fecundar a mulher.

Síndrome de abstinência — tolerância (precisar de mais droga para obter os mesmos efeitos) e efeitos negativos da retirada da droga têm sido observados nos consumidores de maconha.

Uma pessoa é considerada um dependente químico se ela procura, deseja e usa drogas compulsiva e incontroladamente, apesar de repetidas consequências negativas sobre sua saúde e vida social.

Maconha é maléfica para consumo humano. Não é uma droga “inocente”. Ela pode romper com o processo de aprendizagem e o desenvolvimento especialmente do jovem.

(Smoking Marijuana: Innocuous pastime or slippery slope?. Hazelden Voice, Summer 2003. Nota: a Hazelden Foundation é uma das melhores e mais antigas instituições especializadas no tratamento e prevenção do alcoolismo de dependência de outras drogas – www.hazelden.org)

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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