Duas perguntas para o povo brasileiro

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Tiririca, deputado federal, salário mensal R$26.700,00; ajuda de custo mensal R$35.053,00; auxílio moradia mensal R$3.000,00; auxílio gabinete mensal R$60.000,00; despesa médica e hospitalar para ele e família: ilimitada e internacional (livre escolha de médicos e clínicas); gastos com telefone celular: sem limite de tempo ou ligações; bônus anual extra: dois salários (R$53.400,00); passagens aéreas de 1ª classe e estadias: sem limite; reuniões no exterior: dois congressos ou equivalente por ano; aposentadoria depois de 8 (oito) anos, com pagamento integral; custo médio mensal R$250.000,00 (Livro da Família 2013, pág. 96, publicação Católica da Livraria e Editora Padre Reus, Porto Alegre, RS).
A pergunta mais importante não é: Quem paga essa conta absurda, antiética, imoral? Sabemos a resposta: é o próprio povo que votou num sujeito sem competência para o cargo. A pergunta mais importante é: Por que o povo escolhe pessoas corruptas e/ou incompetentes para administrar os interesses do próprio povo? 
Em 1999 John de Mol, executivo da TV Holandesa, inspirado no livro de Orwell, criou um Reality Show onde pessoas comuns seriam selecionadas para conviverem juntas numa mesma casa, vigiadas por câmeras 24h por dia. A ideia agradou tanto que foi copiada por 45 países! A Rede Globo também comprou os direitos do Reality Show até 2020. Depois os outros países abandonaram a veiculação do programa por falta de audiência. No Brasil ele é produzido há 13 anos pela Rede Globo (BBB) e em outros canais, como o “A Fazenda”, da TV Record do Bispo Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus.
A pergunta mais importante sobre estes (pseudo)programas não é: Por que continuam apresentando essas baixarias? Sabemos a resposta: enriquecimento das redes de TV que produzem tais “coisas”. A última edição do BBB rendeu meio bilhão de reais à emissora! A pergunta mais importante é: Por que o povo brasileiro assiste a esses tipos de vergonha pornográfica?
O que há com o povo brasileiro? Perdemos a sanidade? Parece que nossa cultura perdeu os seus valores éticos e de bom senso. Essas coisas muito dolorosas na sociedade são sintomas da derrocada de princípios saudáveis de uma comunidade. 
Betty Faria disse sobre isso: “Acho um desserviço à nação. Mas eu entendo por que o povo gosta. Porque foi mal educado, teve escola fraca, pouca cultura”. Paulo Betti acrescenta: “A televisão tem função educativa, cultural e informativa. O que se oferece na TV aberta, no entanto, são produções pobres. As pessoas são tratadas de forma bem infantil” (idem acima, pág. 110). Entretanto, parece uma contradição desses bons atores tecnicamente falando, porque eles participaram de várias novelas. E qual o problema das novelas?  
“As novelas nos arrancam de nosso cotidiano e fazem-nos submergir num mundo ficcional, que, se não assimiladas, podem alienar-nos da realidade. Ocupam nosso tempo, nossas conversas, nosso pensamento, como se seus personagens fizessem parte de nosso círculo de convivência, do real de nossas vidas” (Margot Bertoluci Ott e Vera Regina Pires Moraes, ambas com doutorado em Educação, idem acima pág. 111). E elas acrescentam: “Na maioria das vezes, os personagens das novelas são personalidades desequilibradas... Excepcionalmente, quando são apresentadas questões sociais atuais, elas são minimizadas, aparecendo como detalhe ou pano de fundo de uma trama maior, quase sempre de caráter romântico... É preciso lembrar que o objetivo principal da novela é mercadológico... O autor das novelas vai, com frequência, mudando o destino de seus personagens e o cenário onde atuam de acordo com o exigido pelo público. A lógica da história é desrespeitada, submetida a interesses externos que lhe quebram o ritmo e desmerecem seu valor literário. ... Ecléticas, misturando todas as tendências, as novelas buscam agradar a todos, querem ‘servir a muitos senhores’ e, assim, vão cooptando e solapando consciências desavisadas.” (idem, pág.112).
Pedrinho Guareschi, sociólogo, professor universitário e padre redentorista, diz sobre o BBB: “Cada um pode fazer o que quiser em sua intimidade, expressar sua opinião etc. Desde que isso não ofenda alguém. Mas o que vemos aqui? O que diz a Constituição Brasileira, artigo 221, que quase ninguém conhece: ‘A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; ... IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família’. Ora, a televisão é uma concessão pública e deveria se reger pelos princípios acima. Contudo, no BBB, uma rede nacional promove, induz e explora, com objetivo de lucro, verdadeiros atentados à pessoa humana!...” (idem pág. 110). 
Voltemos às duas perguntas: (1)Por que o povo brasileiro vota em candidatos políticos medíocres, corruptos, incompetentes?, e (2)Por que grande parte do povo brasileiro assiste a programas antiéticos, que destroem a família, a consciência pura, a serenidade e a espiritualidade? Responda você mesmo, pois a resposta está aí em sua escolha, em sua decisão. 
As doutoras em Educação citadas acima dizem que a solução não é eliminar a TV, mas “discutir, com espírito crítico, na escola e na família, todas as mensagens que nos chegam pelas mídias, separar a ficção da realidade ou expressão da realidade social em que vivemos e pensar na sua integração. E integrar significa aproveitar tudo o que nos ajuda para um viver melhor” (idem, pág. 112). Acho isso válido. Eu prefiro usar meu tempo com aquilo que me dá vida e não morte.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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