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Dona Helena, um exemplo de missão cumprida - 9 de junho 2011
Saúde mental tem a ver, entre outras coisas, com ajudar o próximo. Meu modelo de saúde e perfeição de caráter é Jesus Cristo. Ao andar por aqui em nosso planeta por 33 anos há cerca de dois mil anos atrás, Ele curou, orientou, restaurou a todos os que se dirigiam a Ele em busca de ajuda.
Repare que no Evangelho de Marcos há muitas vezes o início de versos ou versículos em praticamente todos os 16 capítulos com o termo “E aconteceu que…”; “E alguns dias depois…”; “E logo, saindo da sinagoga…”. Marcos revela Jesus como uma pessoa pró-ativa, sempre em ação, sempre atuando para libertar, curar, educar, repreender em justiça, iluminar as pessoas. Você ilumina a vida de alguma pessoa?
Minha mãe, Helena Vasconcellos de Souza, viveu 84 anos. Faleceu nesse último sábado, 4 de junho de 2011, após 30 dias de CTI (UTI). Sua vida foi de serviço ao próximo. Tinha dezenas de afilhados, comadres, amigos. Gostava muito da zona rural, aonde ia com frequência levando roupas, alimentos, e outros objetos para famílias pobres. Sempre juntava coisas em casa para dar aos pobres. Meses atrás deu seu guarda roupa pessoal para uma família pobre que mora além de Duas Barras. Você dá coisas úteis para os pobres, tirando de si mesmo?
Abrigou em sua casa moradores de rua. Uma delas, a Karina, ex-catadora de papel, hoje empregada numa firma, e que foi a primeira pessoa a ir ver o corpo de minha mãe, inerte, sem vida, ainda no hospital. Chorou muito pela morte da pessoa que ela chamava de “vovó”, dizendo que aquela “avó” foi quem deu crédito a ela, deu amor, deu abrigo, deu condições para ela se sentir amada. Você colocaria em sua casa um morador de rua sem conhecer seus antecedentes?
Ao longo de sua vida, minha mãe levou centenas de pessoas a hospitais, médicos, INSS; conseguiu trabalho para muitos, sempre pedindo ajuda a pessoas influentes na sociedade não para ela mesma, mas para os outros. Você pede só para si, ou pede para ajudar outras pessoas também?
Mineira, veio para Nova Friburgo onde morou com sua mãe, que tinha uma pensão na década de 1940, onde conheceu o que viria a se tornar seu esposo, meu pai, Manoel Alves de Souza, que se tornou proprietário da Papelaria Simões, loja que existiu por mais de 50 anos em Nova Friburgo.
Mamãe foi o braço direito e forte de papai. Cuidava da casa, dos filhos, ajudava na loja no começo difícil, e, claro, cuidava dos pobres. Sempre mantinha a porta de nossa casa literalmente destrancada o dia todo, para facilitar a entrada de pessoas analfabetas e cultas, de qualquer raça, credo, posição social, a maioria para receber algum tipo de ajuda da “dona Helena”. Você vive isolado no conforto egoisticamente, ou abre as portas para o sofredor?
A comida em cima do fogão era algo mágico, pois sempre chegavam pessoas para almoçar em qualquer dia, quase todos os dias, e nunca faltava. Se chegava alguém extra, ela logo preparava mais alimento na hora. Você se lembra da última vez que alimentou um faminto?
Deu à luz a 5 filhos: duas mulheres e três homens. Nunca se envolveu com vaidades da sociedade, pois não tinha nem tempo e nem tendência para estas futilidades. Sua vida tinha uma missão e ela a cumpriu: ajudar a aliviar o sofrimento do máximo de pessoas.
No velório dela havia, nos momentos finais, talvez 50 pessoas. Eu disse algumas palavras finais ao povo presente e, apontando para o caixão, perguntei a todos: “Há alguém aqui que foi ajudado por essa senhora? Quem foi ajudado por ela pode, por favor, levantar a mão?” Cerca 80% das pessoas levantou a mão. Karina estava lá, com seu filho pequeno, bem junto ao caixão da “minha avó” e testemunhou em vós alta dizendo que a “avó” Helena a havia tirado da rua e dado uma vida digna a ela. Você já ajudou alguém a ter uma vida digna?
Agradeço a Deus por me ter dado aquela senhora como minha mãe. Para mim fica, entre outras coisas boas, um modelo de vida útil, produtivo, de real e gratuito auxílio ao próximo. Este é o exemplo que Jesus deixou. Se você se diz Cristão e, assim, seguidor de Cristo, e não ajuda a aliviar o sofrimento, a tristeza, a dor, a pobreza (material e de alma), a miséria das pessoas, sua vida é inútil.
Mas quem sabe, à partir de hoje, refletindo bem, e tomando uma decisão pessoal, você não pode mudar, não é? É uma questão de escolha. Alguém parafraseou uma parte da famosa Oração de São Francisco, naquela frase que diz que “é dando que se recebe”. E ficou assim: “É dando que se recebe a alegria de dar.”
Mamãe viveu milhares de vezes esta alegria. A vida dela teve sentido. E a nossa?
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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