Dois fatores básicos para a resolução de problemas na vida

quinta-feira, 01 de novembro de 2012

Todos têm problemas na vida. A diferença é o que cada um faz com eles, como cada um reage, os recursos que possuem para enfrentá-los e, talvez, vencê-los, o tipo de estrutura de personalidade que facilita ou dificulta a resolução deles, a gravidade do problema, e outros fatores. Independente disto, há dois fatores fundamentais para a resolução de problemas na vida. Um é a aceitação do problema e outro a entrega da impotência pessoal diante dele. Vamos discutir isto agora.
Há duas básicas origens de problemas na vida, interna e externa. Interna significa aquilo que nós somos e que nos faz sofrer. Não é algo vindo de outra pessoa. Há pessoas que acham que o sofrimento delas é devido a não serem amadas como elas querem, até quando ficam sozinhas e descobrem que há (também) “algo” dentro delas que as fazem sofrer. Claro, não ser amado por alguém que deveria amar você, produz sofrimento. Mas é impossível alguém ter sofrimentos só originados em algo externo. Há uma luta interior em cada ser humano. Há uma angústia pessoal. E quanto mais cedo descobrirmos isto e começarmos a fazer algo construtivo quanto a isto, mais rápido poderemos caminhar para longe de sofrimentos evitáveis e menos ficaremos culpando as pessoas pelos nossos sofrimentos.
A origem externa de sofrimento na vida pode ser muito variável, desde falta de comida, desemprego, acidentes, pressões no ambiente de trabalho, violência social, problemas na família, desesperança com a liderança social, etc.
Independente da origem dos sofrimentos humanos, como escrevi acima, há a necessidade de aceitação e entrega para encontrarmos algum tipo de alívio disponível e possível.
Aceitação significa que reconheço o fato, não nego existe e que dói. Aceitar envolve enfrentar a dor pessoal. Podemos negar um evento doloroso de maneiras variadas, por exemplo, trabalhando demais para não pensar no assunto, usando drogas lícitas ou não, “esquecendo”, dormindo demais, evitando falar o nome da “coisa”, desviando o assunto sempre que alguém toca no mesmo, se envolvendo com pessoas em romances sucessivos, comprar ou comer compulsivamente, etc.
Negar o problema pode ser uma necessidade temporária para muitas pessoas. Alguns autores dizem que a negação é o amortecedor da alma, ou seja, a gente nega que o problema existe ou que ele é doloroso demais até que estejamos prontos para ver que ele é real e que dói muito mesmo. Quanto tempo leva para sair da negação, entrar na realidade e enfrentar o problema? Depende de cada um e do tipo do problema. Pode demorar desde horas até alguns anos. Para alguns dura a vida toda.
A aceitação nos leva a ter a possibilidade de, reconhecendo que o problema existe, ver o que podemos fazer para encontrar solução para ele. Enquanto você não aceita a existência do problema não tem como avançar para resolvê-lo. Aceitar não é concordar com o problema, mas é admitir que ele é uma realidade em sua vida.
Um segundo componente básico para a resolução de problemas na vida é a entrega. A entrega significa que você para de lutar contra o problema por reconhecer ser impotente diante dele. Impotência diante de um problema é você querer vencer algo usando estratégias ou forças que não são suficientes ou são erradas. Se você usa sempre os mesmos recursos para vencer um problema e nada muda, então é preciso mudar a estratégia, reconhecer sua impotência. E isto exige humildade, que é o contrário da prepotência e da arrogância.
A entrega significa reconhecer que você não tem poder para vencer o problema, que ele está maior do que todos os recursos que você possui e que, portanto, o entrega a um Ser maior que você, todo-poderoso, no qual você crê que trará a solução possível. E descansa na confiança de que alguma solução chegará.
Isto não significa que você não terá sua parte. Sua parte já está funcionando nestes dois primeiros passos básicos que são a aceitação e a entrega. Ninguém pode fazer isto por você. Mas após, ou ao mesmo tempo em que você aceita e faz a entrega, talvez terá que aprender a colocar limites, pedir coisas em vez de só ficar pensando no que precisa sem pedir, explicar e pedir explicações, dizer “não” quando for adequado em vez de ficar agradando os outros o tempo todo, não se deixar ser manipulado pelas pessoas e nem manipulá-las, parar de “salvar” as pessoas e deixar que elas assumam as consequências das escolhas e atos delas, e orar com fé de que alguma solução já está ocorrendo porque você já está agindo e o resto virá, não exatamente como você deseja, mas dentro do possível e do melhor para sua vida.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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