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Defesa psicológica: fugir da verdade ou proteger da dor?
quarta-feira, 11 de março de 2015
Precisamos de defesas psicológicas que nos protejam da dor insuportável. Porém, usá-las exagerada e persistentemente pode nos levar a nos fechar tanto como pessoa que nos impedem de dar e receber coisas boas nos relacionamentos humanos.
Os muito defensivos emocionalmente se protegem demais da dor, da tomada de consciência de pensamentos e sentimentos difíceis de encarar, assim, se afastam da verdade sobre si mesmas. Quanto mais vivem na defesa não mais necessária, mais impedimento há para o amadurecimento mental. Permanecer na defesa é não admitir seus problemas. É negar suas limitações, medos, tristezas, angústias, defeitos de caráter.
Uma pessoa em negação dá desculpas para seus erros e tem muita dificuldade em admitir que erra. Exemplo: o apelido do alcoolismo, doença que atinge 15% da população, é Doença da Negação. Todo alcoólatra quando confrontado por alguém que tenta mostrar que ele/ela perdeu o controle sobre a quantidade de bebida ingerida, diz: "Sei me controlar! Paro de beber quando quiser!”, sendo que bebe exageradamente há cinco, dez, quinze anos ou mais. Ela perdeu o controle sobre a bebida, mas nega esta verdade.
A defesa psicológica, portanto, é uma atitude mental que usamos para lidar com uma verdade que não queremos ou não estamos prontos para ver neste momento da vida. Até certo ponto ela é necessária, como, por exemplo, quando uma pessoa querida morre e você fica com excesso de sono, o qual é a defesa que sua mente escolheu para fazê-lo dormir muito e não pensar na dor. O normal, então, é mais adiante você começar a pensar na dor pela morte da pessoa amada, enfrentar este desconforto emocional, e superá-lo. Daí o sono exagerado desaparece por você não precisar mais desta defesa, por ter se fortalecido para lidar com o que a defesa encobria.
É como uma moeda em que numa face a defesa protege da dor e na outra, serve como fuga da verdade. Saúde tem a ver com verdade. O corpo/mente humano não é burro e sabe a verdade. Quando ele adoece é porque ficou confuso sobre as mensagens que damos a ele. Se você insiste em dar a seu corpo alimento, bebida, pensamentos, sentimentos não saudáveis, chega a hora em que o corpo/mente diz: "Não aguento mais!” E surge a doença. A doença é o alarme. É o aviso para parar, pensar, analisar nosso estilo de vida, e ver o que precisa ser modificado para a saúde ser restituída.
Pode ser difícil conviver com alguém que vive muito na defesa emocional. O casamento, por exemplo, é um tipo de relação humana em que as defesas de cada cônjuge precisam ir caindo para que a verdade surja e, assim, ocorra o crescimento afetivo. Se uma esposa (ou esposo) muito defensiva sempre se fecha quando o marido quer falar de assuntos profundos da vida deles, não admite ter problemas no seu jeito de ser, e pensa que só pelo fato de ter muita "emoção” isto é o suficiente para a felicidade marital, ela está enganada quanto ao que produz harmonia conjugal. Algumas destas esposas querem ser amadas, elogiadas, e que o marido tenha muito romance com elas, mas não querem sair da defesa, não querem abaixar o orgulho e admitir que elas também têm defeitos de caráter e problemas no seu jeito de funcionar como pessoa. A emoção não é o amor.
Se você é bem defensivo, ou seja, quando é preciso admitir para si mesmo(a) e para outros os seus problemas para que surjam justiça, sinceridade, humildade, esperança de crescimento no relacionamento, você se fecha, não olha para seus defeitos reais, que podem estar sendo sinalizados por outra pessoa (mesmo sem tom de crítica, e feito com cautela, carinho, respeito), e, pelo contrário, dá uma de vítima, talvez dizendo: "Ah! Você só olha meus defeitos!”, ou "Procure alguém ideal e me deixe!”, esta defesa bloqueia sua percepção dos seus problemas que interferem no relacionamento. Você foge da verdade.
Fugir da verdade pode ser feito por motivo corrupto consciente, para obter vantagens econômicas, poder sobre os outros, ficar na zona de conforto, etc. Mas nas relações humanas, especialmente no casamento, é algo inconsciente. A pessoa pode não conhecer e reconhecer seu defeito de caráter o qual escapole entre os dedos e só outros notam.
Quando um cônjuge sinaliza a existência de um problema comportamental no parceiro(a) que não enxergava isto até então, pode haver dois tipos de resposta: "É verdade! Não havia percebido isto em mim! Obrigado por me mostrar! É difícil olhar para isto, mas não quero viver me enganando e prejudicando o relacionamento com as pessoas” ou "Você só vive me criticando! Não quero falar sobre isto! Você exagera!”.
No primeiro caso se trata de uma pessoa não defensiva, que quer amadurecer e entendeu que para isto ela precisa admitir que tem problemas também, o que não diminui seu valor como pessoa. No segundo, se trata de alguém bem defensivo, que foge da verdade, embora possa ser cheia de emoções, romance, ilusões. O que cura a pessoa e os relacionamentos é a verdade e o amor. Saímos da mentira, da defesa neurótica, ao estarmos prontos e querendo mesmo a verdade sobre nós mesmos. E é decisão pessoal.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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