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De onde vem esta dor?
As pessoas são diferentes em vários sentidos quanto à maneira como experimentam os sentimentos, ainda que em todos nós a mente funcione de tal modo que a razão avança primeiro e em seguida vem a emoção. Ou seja, primeiro compreendemos alguma verdade, ela entra em nossa consciência como uma informação racional, e mais adiante, imediatamente ou lá na frente, apresentamos uma reação emocional à esta verdade.
Diante de um evento trágico, um grupo de indivíduos reage imediatamente, chorando, ficando triste, se deprimindo, tendo ansiedade excessiva, se irritando, ficando nervosos, entre outros comportamentos, enquanto que outro grupo age na hora bem racionalmente, toma providências, tenta resolver os problemas surgidos por causa da tragédia, e socorre as outras pessoas.
Esta diferença é normal. É como cada um consegue ser até este momento da vida. À curto prazo um sente, outro pensa. Um fica meio paralisado pelas emoções, outro tenta criar soluções. Porém, estas pessoas que conseguem reagir racionalmente diante de situações estressantes e trágicas, poderão apresentar mais tarde reações emocionais como ansiedade excessiva, tristeza, desânimo, apatia, e até depressão. E isto pode ocorrer um mês, dois meses, quatro meses etc., mais tarde em relação ao trauma ou perda. Por quê?
Por alguma razão estas pessoas que só apresentam reações emocionais dolorosas bem depois de passado o evento traumático, aprenderam a ter controle racional sobre os sentimentos, e na hora não se apavoram e mantêm o autocontrole. Só que diante de qualquer conflito ou acidente, surgem emoções em todos nós. Isto é o normal. E até certo ponto tais emoções precisam ser expressadas ou verbalizadas e experimentadas ou vividas conscientemente. Saúde mental é ter as emoções sem deixar que elas nos tenham. E por “ter emoções” quero dizer sentir, experimentar e expressar os sentimentos sem descontrole.
As pessoas que conseguem autocontrole emocional na hora de um trauma, conflito, perda ou tragédia, terão o surgimento da dor emocional mais tarde em sua consciência, dor que não saiu antes e que só aparecerá mais adiante.
Por isso algumas pessoas podem se sentir confusas e ficarem sem entender a razão pela qual meses depois do problema ter surgido em sua vida, elas caem num estado de angústia, desânimo, tristeza, depressão aparentemente sem motivo. É a dor do passado surgindo tardiamente. E se o padrão comportamental de um indivíduo ao longo da vida, desde a infância até a vida adulta, tem sido mais voltado para guardar os sentimentos ao invés de expressá-los na hora, quando estas emoções surgem na sua consciência, elas podem ser bastante dolorosas. Você pode viver uma situação estressante agora, e de maneira surpreendente sua reação emocional pode ser desproporcional ao evento traumático do presente. Isto ocorre porque as emoções reprimidas ligadas aos traumas do passado agora saem tudo junto. E pode ser pesado. Pode doer bastante.
Para estas pessoas que tendem a controlar demais suas emoções na hora do problema, pode ajudar se elas se perguntarem: “O que este problema me faz sentir? Que tipo de emoção estou sentindo com isto que ocorreu?” Se não vier nenhuma compreensão à mente com estas perguntas, a próxima pergunta pode ser: “Que tipo de sentimento seria normal sentir nestas condições?” Procure, então, tentar identificar (dar o nome) ao sentimento do presente e falar dele para desabafar.
Se a pessoa não consegue isto, e realmente as emoções dolorosas só surgem lá na frente, então é importante não se apavorar quando elas vierem, e lembrar para si sobre esta tendência pessoal de guardar talvez inconscientemente para depois a experiência dos sentimentos. Tente fazer uma conexão em sua mente sobre a dor que sente agora e perdas do passado, não se apavore, e tenha paciência consigo mesmo. Aquilo que sentimos e que é agradável, passa. Mas o que é ruim, também passa. Esta dor também vai passar.
- Dr. Cesar Vasconcellos apresenta o programa Claramente, no canal por assinatura TV Novo Tempo, todas as quartas-feiras, 22h30, com reprises aos domingos, 9h30, segundas-feiras, 19h30, quartas, 14h30, sextas, 12h, e também nos endereços eletrônicos www.novotempo.com/claramente, www.youtube.com/claramentent e www.facebook.com/claramentent.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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