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Dados sobre o suicídio - 5 de maio 2011
No Brasil ocorreram 8639 suicídios registrados em 2006. Isto dá uma média de 24 mortes por dia. Estamos em nono lugar no mundo nesta questão. É triste isto, e em geral fica encoberto, porque se noticiam mais as mortes por acidentes, homicídio, etc.
O Estado do Rio Grande do Sul é o que apresenta as mais altas taxas de suicídio no país. A média estadual, em 2005, foi de 10 suicídios para cada 100 mil habitantes (17 em homens e 3 em mulheres). Entre a população indígena no Mato Grosso do Sul há elevado índice de suicídios também, com média de 8,6 (12,4 em homens e 4,7 em mulheres). Uma tristeza e uma vergonha. No Nordeste, o Ceará é o estado com maiores taxas de suicídio daquela região.
Tem aumentado os coeficientes de mortalidade por suicídio em nosso país, principalmente entre jovens e adultos jovens do sexo masculino. Nesse grupo (entre 15 e 29 anos de idade), o suicídio responde por 3% do total de mortes e se encontra entre as três principais causas de morte. Os números oficiais que temos certamente estão subestimados. Calcula-se que as tentativas de suicídio superem o número de suicídios em pelo menos dez vezes.
Há no Brasil um estudo realizado com apoio da Organização Mundial da Saúde, na área urbana do município de Campinas. Nesse estudo, a partir de listagens de domicílios feitas pelo IBGE, 515 pessoas foram sorteadas e entrevistadas face a face por pesquisadores da Unicamp. Verificou-se que, ao longo da vida, 17,1% das pessoas “pensaram seriamente em por fim à vida”, 4.8% chegaram a elaborar um plano para tanto, e 2,8% efetivamente tentaram o suicídio. De cada três pessoas que tentaram o suicídio, apenas uma foi, logo depois, atendida em um pronto-socorro. (Botega e cols., Rev. Bras. de Psiquiatria, 2005).
A assistência prestada a pessoas que tentaram o suicídio é uma estratégia fundamental na prevenção do suicídio, pois essas constituem um grupo de maior risco. O risco de suicídio em pacientes que já tentaram o suicídio é, pelo menos, uma centena de vezes maior que o risco presente na população geral.
Não há uma causa única para o suicídio. Ele envolve fatores socioculturais, genéticos, psicodinâmicos (conflitos interiores), filosófico-existenciais e ambientais. A existência de uma enfermidade mental é um importante fator de risco para o suicídio. Uma revisão de 31 artigos científicos publicados entre 1959 e 2001, somando 15.629 suicídios na população geral, demonstrou que em mais de 90% dos casos caberia um diagnóstico de transtorno mental à época do ato fatal (Bertolote e Fleischmann, World Psychiatry, 2002). Neste estudo de 15.629 casos de suicídio, verificou-se que 3.2% não tinham diagnóstico; 10.6% tinham esquizofrenia; 11.6% tinham transtorno de personalidade; 22.4% tinham transtornos ligados ao uso de substâncias (dependência do álcool e de outras drogas psicoativas) e 35.8% apresentavam transtorno do humor (depressão, doença bipolar). A situação se agrava quando há combinações de doenças, como depressão e alcoolismo, ou depressão, ansiedade e agitação.
Mas isto não quer dizer que todo o suicídio relaciona-se a uma doença mental, e nem que todo mundo que sofre doença mental irá se suicidar. Mas é importante considerar que a presença de doença mental é um fator de risco para o suicídio.
Há uma grande complexidade na causa do suicídio (fator predisponente), e ela envolve mais coisas do que apenas um fato ocorrido recentemente (fator precipitante) como a demissão do emprego ou fim de um relacionamento amoroso. As condições sociais, por si só, também não explicam esta tragédia. Pessoas que se matam e que estavam vivendo uma destas condições sociais muito provavelmente apresentavam um transtorno mental subjacente, e isto aumentou a vulnerabilidade ao suicídio.
No fundo, o suicida não quer morrer. Ele não sabe é como continuar vivendo com aquilo que para ele é um beco sem saída. Mas sempre há uma saída. Não necessariamente para aquilo que a pessoa desejava, mas pelo menos para ela aprender a suportar a perda e a frustração, assim como aprender a lidar construtivamente com a raiva contra a realidade que ela joga contra si mesma, se agredindo mortalmente.
Este texto é baseado nas informações colhidas no site da Associação Brasileira de Psiquiatria: http://abp.org.br/2011/comunidade (acessado em 3/5/2011).

Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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